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Quase lá
Na fronteira entre as duas Coreias, a única referência à Copa é uma réplica da Jabulani diante de
um banheiro militar
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A PAJU
Na cidade sul-coreana
mais próxima à Coreia do
Norte, a única referência à
Copa do Mundo é uma réplica da bola Jabulani diante de
um banheiro usado por militares. Nada mais.
A Folha esteve ontem em
Paju, às margens da Zona
Desmilitarizada, área criada
em 1953 após o cessar-fogo
entre os dois países. É, em todo o mundo, a fronteira que
mais dispõe de equipamentos militares: como nunca foi
assinado um tratado de paz,
as Coreias tecnicamente continuam em guerra.
A reportagem tentou obter
visto de entrada na Coreia do
Norte para a série "Um Mundo que Torce". O grande empecilho seria deixar rapidamente o país, já que o governo norte-coreano costuma
reter o passaporte de jornalistas. Diante da impossibilidade de entrar e sair no mesmo dia, a opção foi visitar o
"quase lá", Paju.
A cidade de 308 mil habitantes fica a 58 km de Seul e é
dormitório de militares sul-coreanos, americanos e de
membros do Comando das
Nações Unidas. São eles que
guardam a porção sul da Zona Desmilitarizada, uma faixa de 2 km de extensão até a
fronteira ocupada por árvores e pequenas plantações de
arroz e ginseng de modestos
lavradores locais.
Do lado de lá, é quase a
mesma coisa. Uma faixa de 2
km, sem ocupação, a partir
da divisa. São 250 km de extensão, tomando como base
o paralelo 38. A grande diferença é que não há árvores.
"Como a eletricidade oscila muito lá na Coreia do Norte, e como o óleo é considerado muito caro, eles derrubam
as árvores no inverno para
tentar se aquecer", afirma o
guia Kim, sul-coreano.
Apesar de o roteiro em Paju tentar o tempo todo vender
as versões sul-coreanas para
o conflito, Kim, que prefere
não revelar o sobrenome,
tenta manter o equilíbrio.
Não acredita, por exemplo, nas explicações do seu
país para o afundamento do
navio militar Cheonan, em
março, que matou 46 marinheiros e elevou as tensões
entre Seul e Pyongyang.
"Muita gente aqui acha
que foi um acidente, que o
navio acertou rochedos e,
por isso, afundou. As provas
do governo são muito fracas,
não convenceram", opina.
"Além do mais, aquilo foi a
um mês das eleições locais.
Pareceu uma manobra da situação para ganhar votos."
Do mirante de Paju, mantido pela ONU, é possível observar o país vizinho.
Filmar e fotografar é proibido. Ontem, porém, o céu
estava nublado na região e
nem a bandeira norte-coreana, içada no maior mastro do
mundo, a 160 m, era visível
daquele ponto.
Assim, as grandes atrações para os turistas eram visitar um dos quatro túneis escavados por norte-coreanos
para invadir o sul, descobertos em 1978, e uma passagem
rápida pelo mercadinho local. O motivo: é um dos únicos no país que vende Dae
Dong, a cerveja norte-coreana. "É mais forte do que a
nossa. Até os alemães gostam", diz Kim, sorrindo.
E, se há assunto mais escasso por lá do que Copa do
Mundo, é a reunificação.
Apesar de o esporte ter servido como instrumento de
aproximação entre os dois
países, com as delegações
desfilando juntas na abertura dos Jogos de 2000 e 2004,
hoje o processo está paralisado. Uma seleção única?
"Não vou estar aqui para
ver", lamenta Kim, enquanto
coloca mais uma garrafa de
Dae Dong na sacola.
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