São Paulo, sábado, 19 de julho de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUCA KFOURI
Circo viciado

Depois da Federação do Caixa D'Água e da Casa Bandida do Futebol, eis que temos agora, em São Paulo, a Federação Palhaça do Futebol. E com juros.
Indignado com a virada de mesa que introduziu dois intrusos no Vergonhão-97, o presidente da FPF resolveu mostrar como se faz e, para não deixar dúvidas, virou logo um caminhão de melancias na frágil legitimidade do Campeonato Paulista: em vez de apenas 2, enfiou 32 clubes na primeira divisão, façanha 16 vezes mais indecente que a perpetrada pela CBF.
E desfilou cinismo, numa competição não declarada, mas aberta por esta Folha em duas entrevistas que merecem entrar para a história como exemplos do insuperável cinismo da cartolagem cabocla. Um espanto!
A primeira, concedida por Nabi Abi Chedid, presidente interino da CBF em lugar do escafedido Rico Terra, ao repórter Marcelo Damato. A segunda, de Eduardo José Farah a José Henrique Mariante.
São duas obras primas. Todas as perguntas que deveriam ser feitas foram feitas. Todas as manifestações de perplexidade diante das respostas foram convenientemente postas no papel. Impressas em cores, as páginas do jornal coraram diante de tanta hipocrisia.
Ambos tentam explicar o inexplicável, certos de que, a exemplo dos presidentes de clubes que lideram, a opinião pública é feita só de palhaços.
Pois não é, como mais uma vez demonstrou o Datafolha na pesquisa que revelou que se 62% dos torcedores paulistanos consideram que a CBF agiu mal ao não rebaixar Fluminense e Bragantino, 69% acham que os clubes de São Paulo deveriam mesmo continuar no Vergonhão-97. E 66% também são de opinião que Farah andava buscando apenas seus interesses.
Confesso que a pesquisa me surpreendeu favoravelmente. Minha pesquisa particular, via Internet, mostrava maior aceitação à idéia da saída paulista da competição.
O Datafolha confirmou, ainda, que 82% dos paulistanos admitem o óbvio, que o título brasileiro é mais importante que o estadual.
Enfim, a torcida sabe o que quer e por isso continua dando as costas aos cartolas, não comparecendo aos estádios.
No dia em que alguém souber captar os sinais claros enviados pelo torcedor, não só mudará o panorama do futebol brasileiro como, de quebra, virará ídolo nacional.
Estaremos vivos até lá?



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.