São Paulo, quinta-feira, 19 de julho de 2007

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Após "limpeza", Volta da França flerta com doping

Ciclista alemão flagrado em exame reabre ferida em meio a evento mais equilibrado, oxigenado por novos talentos

Depois de dez etapas mais o prólogo, dez competidores diferentes venceram, o que dá sopro de esperança para a abalada modalidade

ALEC DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O sonho ainda não acabou, mas quase. A Volta da França, prova ciclística mais tradicional do mundo, mal chegou à metade e já eclodiu o primeiro caso de doping da versão 2007.
Um controle sangüíneo do alemão Patrik Sinkewitz detectou altos índices de testosterona. Sinkewitz, que já estava fora da prova desde domingo ao se contundir num choque com um espectador, foi suspenso imediatamente por sua equipe.
O caso seria apenas mais um se, poucos antes de seu início, a organização da Volta não tivesse conseguido a assinatura dos 189 participantes num documento no qual diziam não ter qualquer relação com o uso de drogas. Além disso, se comprometiam a ceder um ano de salários para um fundo de combate ao doping caso fossem flagrados. E mais: todos foram testados na véspera da abertura do evento, há duas semanas.
Para tentar evitar surpresas, o evento recusou a inscrição dos que já tinham exames positivos no currículo. E baniu os ciclistas implicados na "Operação Porto", que tinha como pivô um médico fornecedor de drogas a atletas de ponta, o espanhol Eufemiano Fuentes.
A única boa notícia do caso de Sinkewitz é que o teste foi realizado em 8 de junho, um mês antes da cruzada pela recuperação da credibilidade do esporte. Com 189 testes "limpos", a Volta acreditava que 2007 seria o ano da redenção.
Na estrada, disputadas 10 das 20 etapas, o otimismo se justificou. Incluindo o prólogo (pela primeira vez a prova partiu de Londres), foram dez vencedores diferentes. A classificação geral mudou de mãos duas vezes (ou seja, houve três líderes).
A Volta não está acostumada a tanta diversidade. E ela se explica pela exclusão de medalhões cujo mérito esportivo acabou colocado em cheque, o que ao mesmo tempo abriu caminho para uma nova geração que, ela própria assegura, foi forjada "naturalmente".
O doping, porém, é um antigo fantasma da prova, disputada desde 1903 e só interrompida nas duas guerras mundiais.
Entre 1999 e 2005, o troféu foi erguido pelo mesmo ciclista, o norte-americano Lance Armstrong. De prodígio, ele passou a vilão: um ano depois da sétima consagração, um livro-reportagem acusou o atleta de se dopar sistematicamente.
Seu sucessor, Floyd Landis, campeão em 2006, teve o título retirado por causa de uma amostra positiva em plena Volta. Na esteira, o norueguês Bjarne Riis, campeão em 1996, admitiu que usava substâncias proibidas -e lá se foi mais uma conquista para o limbo.
A frase "é perverso, mas o doping é justo porque todos se dopam", dita numa entrevista à revista "Der Spiegel" pelo atleta Jörg Jaksche (vetado na França) é reveladora. Mas os donos da Volta da França ainda acreditam que há esperança.


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