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Após "limpeza", Volta da França flerta com doping
Ciclista alemão flagrado em exame reabre ferida em meio
a evento mais equilibrado, oxigenado por novos talentos
Depois de dez etapas mais o prólogo, dez competidores diferentes venceram, o que dá sopro de esperança para a abalada modalidade
ALEC DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O sonho ainda não acabou,
mas quase. A Volta da França,
prova ciclística mais tradicional do mundo, mal chegou à
metade e já eclodiu o primeiro
caso de doping da versão 2007.
Um controle sangüíneo do
alemão Patrik Sinkewitz detectou altos índices de testosterona. Sinkewitz, que já estava fora
da prova desde domingo ao se
contundir num choque com
um espectador, foi suspenso
imediatamente por sua equipe.
O caso seria apenas mais um
se, poucos antes de seu início, a
organização da Volta não tivesse conseguido a assinatura dos
189 participantes num documento no qual diziam não ter
qualquer relação com o uso de
drogas. Além disso, se comprometiam a ceder um ano de salários para um fundo de combate
ao doping caso fossem flagrados. E mais: todos foram testados na véspera da abertura do
evento, há duas semanas.
Para tentar evitar surpresas,
o evento recusou a inscrição
dos que já tinham exames positivos no currículo. E baniu os
ciclistas implicados na "Operação Porto", que tinha como pivô um médico fornecedor de
drogas a atletas de ponta, o espanhol Eufemiano Fuentes.
A única boa notícia do caso
de Sinkewitz é que o teste foi
realizado em 8 de junho, um
mês antes da cruzada pela recuperação da credibilidade do esporte. Com 189 testes "limpos",
a Volta acreditava que 2007 seria o ano da redenção.
Na estrada, disputadas 10 das
20 etapas, o otimismo se justificou. Incluindo o prólogo (pela
primeira vez a prova partiu de
Londres), foram dez vencedores diferentes. A classificação
geral mudou de mãos duas vezes (ou seja, houve três líderes).
A Volta não está acostumada
a tanta diversidade. E ela se explica pela exclusão de medalhões cujo mérito esportivo
acabou colocado em cheque, o
que ao mesmo tempo abriu caminho para uma nova geração
que, ela própria assegura, foi
forjada "naturalmente".
O doping, porém, é um antigo
fantasma da prova, disputada
desde 1903 e só interrompida
nas duas guerras mundiais.
Entre 1999 e 2005, o troféu
foi erguido pelo mesmo ciclista,
o norte-americano Lance
Armstrong. De prodígio, ele
passou a vilão: um ano depois
da sétima consagração, um livro-reportagem acusou o atleta
de se dopar sistematicamente.
Seu sucessor, Floyd Landis,
campeão em 2006, teve o título
retirado por causa de uma
amostra positiva em plena Volta. Na esteira, o norueguês
Bjarne Riis, campeão em 1996,
admitiu que usava substâncias
proibidas -e lá se foi mais uma
conquista para o limbo.
A frase "é perverso, mas o doping é justo porque todos se dopam", dita numa entrevista à
revista "Der Spiegel" pelo atleta Jörg Jaksche (vetado na
França) é reveladora. Mas os
donos da Volta da França ainda
acreditam que há esperança.
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