São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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Lula é crucial para Rio-16, diz mago da propaganda

Mike Lee, que ajudou Londres a sediar os Jogos-2012, reforça projeto carioca

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O NOME de Mike Lee pouco apareceu para o público, mas, nos bastidores, foi fundamental para Londres sediar os Jogos- -2012. Agora, está a serviço da Rio-2016.
Na campanha inglesa, Lee armou eficiente costura política com o então primeiro-ministro Tony Blair, que deu apoio total à realização dos Jogos em seu país e fez campanha entre membros do COI (Comitê Olímpico Internacional). Graças à pesquisa feita por Lee e sua equipe, possuía dossiês sobre todos os votantes, com seus hobbies e suas preferências. Sabia exatamente o que dizer para cativar cada um deles.
Agora, é o suporte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que aparece com força. Lula já defendeu a candidatura brasileira em várias partes do mundo.
Londres exibiu com pompa celebridades e atletas, como David Beckham e Nelson Mandela. O suporte de esportistas de ontem e de hoje também é constante na Rio-2016. Na visita do COI ao Rio, em maio, atletas paraolímpicos emocionaram a comissão. Na última cartada, Pelé falou aos comitês olímpicos africanos.
A história de Lee na campanha vitoriosa de Londres está no livro "The Race for the 2012 Olympics".
Em entrevista à Folha por telefone, Mike Lee falou sobre seu trabalho na Rio-2016 e enfatizou a importância do engajamento do presidente Lula para o sucesso da candidatura.
Também demonstrou afinidade com os brasileiros.
"Já me sinto meio carioca", afirmou ele. Nas férias, planeja conhecer o Pantanal.

 

FOLHA - O que fez a campanha de comunicação de Londres mais eficiente do que as outras?
MIKE LEE -
Tínhamos uma longa história e focamos no poder de os Jogos inspirarem os jovens. A mensagem foi consistente. Montamos criativa forma de comunicação e de marketing para passar essa mensagem.

FOLHA - Você disse certa vez em uma entrevista que sabia exatamente quem precisava cativar para vencer. Quem eram essas pessoas?
LEE -
A audiência são os membros do COI que votam. Mas, ao longo da campanha, tentamos cativar a mídia nacional, jornalistas internacionais, federações nacionais, comitês olímpicos, conselheiros do COI, a comissão de avaliação. No Rio [na visita da comissão de avaliação do COI, em maio], tivemos muito sucesso. Fizemos uma campanha sofisticada em Londres e creio que o Rio seguirá esse caminho.

FOLHA - Em Londres, você usou muitas celebridades, atletas e ex-atletas na campanha. O Rio tem repetido a estratégia. Foi ideia sua?
LEE -
Estamos desenvolvendo campanhas juntos. Mostrar que você tem o suporte de atletas olímpicos e paraolímpicos é importante. Definitivamente, isso ajudou Londres, como o apoio de David Beckham. Eles interessam para a mídia e têm história a contar. No Rio, ajudam no desenvolvimento das sedes também. Não são só parte do show, são parte da história. Pelé e Maracanã, por exemplo, há uma tremenda história.

FOLHA - O Rio pode ser o primeiro país da América do Sul a receber os Jogos. É um argumento forte?
LEE -
Parte importante da campanha é convencer o COI de que podemos ter uma decisão histórica dando os Jogos para a América do Sul, o que representará uma transformação de infraestrutura. A comissão de avaliação viu isso. O Rio tem um sólido projeto técnico.

FOLHA - O Rio tem graves problemas de pobreza, violência, favelas espalhadas pela cidade. Isso não atrapalha o projeto?
LEE -
Toda grande cidade tem problemas, até Londres, que tem muito para fazer até 2012. O fato de o Rio trabalhar bem perto do presidente mostra preocupação com isso. Falamos com a mídia internacional, a levamos para o Dona Marta [favela em Botafogo, uma das poucas do Rio em que a polícia conseguiu expulsar o comando do tráfico de drogas e que recebe investimentos do governo do Estado]. Não escondemos [a pobreza]. A mensagem do Rio é que levar os Jogos para lá pode transformar a cidade mais do que qualquer outra coisa.

FOLHA - Críticos da campanha pensam que essa candidatura é prematura, que seria melhor esperar o país crescer mais e resolver primeiro problemas mais severos...
LEE -
A escolha para 2016 será em outubro, haverá sete anos de preparação. O governo brasileiro continuará a investir, a economia continuará a crescer, a estabilidade política continuará, haverá investimentos nas cidades e no país. O Rio poderia fazer os Jogos hoje? Sim, mas fará melhor em 2016.

FOLHA - Críticos também apontam que este é um projeto pessoal do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, e não um interesse nacional. O COI conhece essa crítica?
LEE -
Vemos que o apoio público tem crescido. Não é o projeto de um homem, ele é o líder, mas há envolvimento de Lula, Cabral [Sérgio, governador do Rio], Paes [Eduardo, prefeito], Pelé, atletas olímpicos e paraolímpicos, ministros. Mostramos isso ao COI.

FOLHA - Como é lidar com os cartolas brasileiros?
LEE -
Há alto nível de apoio ao meu trabalho, sem pressão. Temos muitas coisas a fazer, não é um processo perfeito, mas as pessoas estão dando suporte.

FOLHA - Você disse em entrevistas que a candidatura de Paris cometeu erros. Que erros são esses?
LEE -
O principal erro foi não mostrar que Paris precisava dos Jogos para ser uma cidade melhor. Agora mostramos porque os Jogos podem ajudar o Brasil e que seria bom para o movimento olímpico trazer o evento para a América do Sul.

FOLHA - Qual adversário mais te assusta [o Brasil compete contra Chicago, Madri e Tóquio]?
LEE -
Não estou autorizado a falar disso. Para ser honesto, é uma corrida difícil. Mas temos um "case" forte. Rio e Brasil mostraram que têm profissionalismo, instalações e experiência. Quem tinha dúvidas [na comissão do COI] saiu com a certeza de que o Rio pode.

FOLHA - Qual será a importância do apoio de Obama para Chicago?
LEE -
O apoio é importante, mas o Brasil tem um líder muito carismático, respeitado por sua história. Muitas pessoas admiram Obama, mas Lula também tem admiradores. Obama disse que Lula era o líder mais popular do mundo, o respeito por ele internacionalmente é muito grande. O COI não vota no presidente dos EUA, vota em quem receberá os Jogos. O suporte de Lula é crucial para o Rio.


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