São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 2011 |
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Era uma vez um pioneiro Barracas, clube de Buenos Aires que cedeu estádio para 1º título da Argentina, definha na quarta divisão e pode acabar DO ENVIADO A BUENOS AIRES Um parque, um bar, uma casa de pedra, uma borracharia, uma sorveteria... É o que ocupa hoje o espaço do pioneiro templo do futebol argentino. Antiga morada do Club Sportivo Barracas, o local do primeiro título da Argentina está abandonado. O bairro de Barracas, onde cruzam as avenidas Iriarte e Luzuriaga, serviu de cenário para o título da Copa América de 1921. Há 90 anos, o estádio do Barracas era uma referência no continente, recebia até 25 mil pessoas e assustava muitos adversários. O dono da casa era potência no amadorismo e testava vários dos emergentes grandes clubes brasileiros, como o Flamengo, que empatou com o Barracas em 1 a 1 em 1917, na primeira partida internacional do time carioca. Hoje, o Barracas disputa a Primera D, espécie de quarta divisão regionalizada da Argentina. Outrora temível, corre risco de extinção. Atolado em dívidas e mandando jogos no estádio municipal de Bolívar, cidade da província de Buenos Aires, o clube argentino respira o passado. A Folha visitou a sede social do clube, um prédio decadente. Na secretaria, uma funcionária atendia um garoto interessado em atividade física. Uma precária academia é o pouco que resta ali. Nas paredes, estão muitos dos troféus e das glórias, em retratos, do que foi o Barracas, um orgulho e um marco na vida do Corinthians. A primeira vitória internacional do clube alvinegro foi contra o então badalado Barracas, por 3 a 1, no Parque São Jorge. Por causa da "fibra dos mosqueteiros" mostrada no jogo, segundo relato de Tomás Mazzoni na "Gazeta Esportiva", o Corinthians ganhou assim a sua mascote. Entre 1928 e 1930, o então poderoso representante do futebol argentino fez duas longas excursões ao exterior. Na primeira, entre Europa e Brasil, contra Barcelona, Juventus e Napoli, entre outros, fez 24 jogos e venceu 13. Na segunda excursão, entre Brasil, Chile, México e EUA, realizou 20 partidas e conseguiu 12 triunfos. Não era à toa que o estádio do Barracas abrigava a seleção argentina em grandes competições, como a Copa América de 1921. O título pioneiro saiu após vitórias por 1 a 0 sobre o Brasil, 3 a 0 contra o Paraguai e 1 a 0 ante o Uruguai -o gol do título foi marcado por Libonatti. Três anos depois, o mesmo palco imortalizaria o gol olímpico. Quando o Uruguai, ouro nos Jogos de 1924, enfrentou a Argentina, Onzari anotou um gol de escanteio, algo que havia sido permitido pouco tempo antes. O lance inusitado foi tão festejado que acabou sendo batizado de gol olímpico. E aconteceu no dia da primeira transmissão radiofônica de futebol em terras argentinas. Hoje, o Barracas é quase deserto. Quem conta o drama do time é Gustavo Paverini, 20, filho do presidente. "Tínhamos dois campos, o que ficou famoso no passado e outro, que perdemos em 1993. Problemas de outras administrações. Chegamos a juntar cem torcedores, até com bumbo, para torcer pelo time na C [terceira divisão]. Agora, é difícil ir a Bolívar [a mais de 300 km da capital]." Gustavo assume ser torcedor do Boca, mas conta que até o clube da Bombonera deve parte de sua história ao Barracas. "A camisa do Boca era parecida com a do Barracas, e um dia tiveram que trocar para poder jogar. Aí veio o atual uniforme", diz. Gustavo e o pai, o presidente Rodolfo Paverini, moram perto de onde ficava o lendário estádio do campeão argentino de 1932. Foi por volta desse ano que a profissionalização começou a matar o tradicional Barracas. Em 1931, quando o jogador Héctor Arispe, do Gimnasia La Plata, sofreu insolação enquanto jogava no campo do Barracas e morreu horas depois num hospital, aumentou a pressão para acabar com o amadorismo. Em 1925, o estádio do Barracas também havia abrigado o segundo título da seleção argentina na Copa América (2 a 2 com o Brasil no jogo final), mas naquela edição alguns jogos já ocorreram na Bombonera -em 1921, todos os jogos foram em Barracas. Mais tarde, estádios de San Lorenzo e River Plate também ajudariam a deixar o campo no esquecimento. Neste ano, enquanto a Argentina descentralizou sua Copa América, o parque Fray Luis Beltrán continua com um pouco de grama e muito de silêncio. É lá que repousa a memória do pioneiro e vencedor futebol argentino. Alguma coisa acontece no coração quando cruza a Luzuriaga com a avenida Iriarte. (RODRIGO BUENO) Texto Anterior: Semifinal vai opor técnicos conterrâneos Próximo Texto: Diretoria faz esforço final por Tevez Índice | Comunicar Erros |
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