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FUTEBOL
A gente gosta tanto
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Governos de todos os tipos
tentam usar o esporte para
se promover -à esquerda e à direita, liberais ou conservadores,
federais, estaduais e municipais.
Empresas também, principalmente em ano olímpico. Todo
mundo quer sair na foto ao lado
de um vencedor e associar sua
marca às grandes conquistas (ou
pelo menos aos grandes esforços).
Alguns têm o direito de posar ao
lado dos atletas, porque de fato
são parceiros de luta. Outros são
oportunistas descarados. Outros
só entram na onda porque pega
mal ficar fora dela - ignorar
uma Joana Maranhão, um Flávio
Canto ou um Leandro Guilheiro
a essa altura seria de uma insensibilidade tremenda. Chega a ser
uma cilada: receber o atleta para
uma homenagem é "marketing'";
ignorá-lo é falta de educação.
O governo federal armou um
evento para aproveitar a popularidade da seleção brasileira com
fins políticos -aliás, muitas coisas na vida têm ""fins políticos", e
nem sempre isso é sinônimo de
má intenção. E a iniciativa tem
fins humanitários também; é o famoso "dar alguma alegria para
quem tem muito poucas". Sou a
favor da alegria. Às vezes, um jogador visita uma área de conflito
(como Ronaldo e Zidane fizeram
tempos atrás, convidados pela
ONU). Desta vez, a seleção toda se
deslocou para um lugar em que a
violência e a miséria são pragas
enraizadas. O Haiti é um pouco
aqui, mas nossas mazelas ainda
são pequenas perto do original.
Embora critique convocações
desnecessárias da seleção, essa
ocasião festiva me comoveu. Se
podemos participar das comemorações dos cem anos do Barcelona, por que não passar uma tarde
em um país miserável da América
Central? O futebol só é rico porque é popular. Mesmo que esteja
longe de repartir sua fartura com
os miseráveis, o futebol de elite
pode retribuir simbolicamente
um pouco do carinho que recebe
pelo mundo. Não são os haitianos
que compram camisas do Real e
da seleção, mas vale um espaço
na agenda para encontro menos
mercantilista entre ídolos e fãs.
Será que eu teria a mesma reação se o episódio envolvesse um
governo do qual discordo frontalmente (o de Bush, por exemplo)?
Se ele articulasse a ida da seleção
de basquete ao Iraque, talvez eu
desconfiasse da patriotada e torcesse o nariz para os atletas que
participassem disso. Mas também
porque a política estadunidense
de "libertar à força'" e de tentar
provar a superioridade sobre os
outros é diferente da missão da
ONU no Haiti. De todo modo, seria melhor enviar o Michael Jordan do que franco-atiradores.
O esporte é uma alegoria que
substitui a guerra e já interrompeu pelo menos uma (naquela famosa excursão do Santos). A camisa da seleção salva a pele de
brasileiros em apuros pelo mundo. Felipão talvez ajude a estreitar os laços entre brasileiros e a
parte mais desconfiada ou preconceituosa dos portugueses. Resolver os problemas, o futebol não
resolve. Mas o que resolve, as armas? Seja no Haiti de lá ou daqui,
futebol "não serve pra nada", e a
gente gosta tanto...
Valendo o ingresso
Foi legal ver Ronaldo, Ronaldinho e todos os outros com a língua de fora, morrendo de calor,
mas fazendo de tudo para dar o
espetáculo que a torcida esperava. É impossível reproduzir
essa motivação em um jogo
"normal", mas seria bom recuperar um pouco desse espírito.
Dupla utilidade
O roubo da renda de um jogo
do Palmeiras é mais um argumento a favor da venda antecipada de ingressos e carnês. Mas
um representante do clube afirma que "todos os estudos provam que esse negócio de carnê
não dá certo". Que estudos?
Fenômena
"Disseram que eu chegaria aqui
e me assustaria. Não senti nada." Essa é Joana Maranhão!
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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