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Morumbi foca torcedor mirim
Giro com brindes e novas atrações vira principal arma para seduzir crianças a apoiar o São Paulo
Aberto para excursões de colégios, clube incrementa neste semestre suas táticas de fidelização, quando abre Camarote do Raí e megaloja
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Natã Alves de Souza, 7, diz
que adora o Corinthians. Mesmo assim, a excursão de seu colégio pelo Morumbi, na última
quinta, balançou seu coração.
Todos os dias, dezenas de
crianças fazem o Morumbi
Tour, uma das estratégias que o
departamento de marketing do
São Paulo, cada vez mais feroz,
usa para atrair gente à sua torcida -que pulou do sétimo lugar nas pesquisas, nos anos 80,
para o terceiro, atrás só do líder
Flamengo e do Corinthians.
"Quanto mais novo, é mais
fácil mudar", diz o coordenador
de marketing, Paulo Cruz, lembrando que o passeio começou
nos anos 80, atendendo ao interesse de torcedores que queriam ver as taças do Brasileiro.
Hoje, 10% do acervo total de
troféus, incluindo o do Mundial, está exposto. "Abrindo as
portas do clube, trazemos esses
futuros torcedores para conhecer o São Paulo, e eles saem
sensibilizados", diz Cruz.
Com Natã não foi diferente.
Filho de professores, ambos
santistas, foi convencido por
um primo a se tornar corintiano. Ainda está dividido.
"Adoro o Corinthians, mas
também torço para Palmeiras,
Santos, Espanha, Itália e São
Paulo", conta o menino, bastante sorridente e falante.
O passeio, ou "catequese", sai
dos vestiários e vai ao campo,
onde Natã muda seu ranking.
"O São Paulo já ultrapassou a
Espanha", diz ele, que depois
foi às arquibancadas e ao Memorial das Conquistas.
Ricardo Fernandes, professor de educação física de seu
colégio e acompanhante dos
meninos, acaba dando uma
mãozinha para a "lavagem cerebral". Usa um vistoso agasalho tricolor dos anos 90.
"Fui técnico da escolinha do
São Paulo em São Bernardo",
conta. "Desde aquela época trago meus alunos a esse passeio,
sempre com uma explicação
antes, para deixá-los ansiosos."
Na sala de projeções, Paulo
Cruz agradece a presença dos
meninos, e lembra que o esporte é importante, mas é preciso
estudar. Culpa do conselho ou
não, é nessa hora que Natã afirma, em tom de confissão, para o
repórter: "Odeio o São Paulo".
O trunfo, porém, é a exibição
do vídeo recente e uma distribuição de brindes. Ao sair, as
crianças levam álbum de figurinhas, adesivo do passeio e uma
bandeira do São Paulo.
Um olhar crítico diria que o
vídeo é feio e mal-editado; erra
ao pôr acento na palavra Morumbi. E os são-paulinos mais
zelosos observam que a bandeira está defasada: falta a estrela
do último Mundial.
Não importa para as crianças. A maioria delas jamais havia ido a um estádio. A magia do
cineminha, vendo gols serem
gritados por tantos são-paulinos -os colegas e os do vídeo-
arrepia os mais novos.
Ganhar a bandeira no fim fez
os ditos palmeirenses e corintianos correrem para vê-la tremular -visão que faria alguns
pais rivais certamente "sofrer".
"O menino volta para casa e o
pai vai perguntar para o filho:
"Mas você não era corintiano?'", exemplifica Cruz. "Esse
garoto vai ficar com a dúvida,
porque o outro clube nunca
deu nada para ele..."
Com Natã, segundo a mãe,
está funcionando. "Depois que
ele voltou da excursão, fica balançando a bandeira, guarda
com todo carinho e agora quer
ver um jogo do São Paulo no
Morumbi", diz Fátima de Souza, 49. Para concretizar esse sonho, ela passa a bola ao pai.
"Moramos no Parque São
Rafael [zona leste, na divisa
com o município de Mauá] e temos medo da violência", afirma
o pai, Natanael, 50. "Mas eu sei
que ele não vai desistir, ele tem
uma personalidade dele."
Firme na meta de expansão,
o São Paulo vai mostrar mais
dois projetos de fidelização
neste semestre. Um é a expansão do Morumbi Tour, com
uma megaloja, a ser aberta dia
27, e o Camarote do Raí. A segunda é o Torcedor do Futuro,
outra excursão para colégios,
desta vez para ver jogos.
"Estamos conversando com
a Federação Paulista de Futebol para saber quando poderemos iniciar este projeto. Sabemos que tem que ser num jogo
mais ameno", diz Paulo Cruz.
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