São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morumbi foca torcedor mirim

Giro com brindes e novas atrações vira principal arma para seduzir crianças a apoiar o São Paulo

Aberto para excursões de colégios, clube incrementa neste semestre suas táticas de fidelização, quando abre Camarote do Raí e megaloja

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Natã Alves de Souza, 7, diz que adora o Corinthians. Mesmo assim, a excursão de seu colégio pelo Morumbi, na última quinta, balançou seu coração.
Todos os dias, dezenas de crianças fazem o Morumbi Tour, uma das estratégias que o departamento de marketing do São Paulo, cada vez mais feroz, usa para atrair gente à sua torcida -que pulou do sétimo lugar nas pesquisas, nos anos 80, para o terceiro, atrás só do líder Flamengo e do Corinthians.
"Quanto mais novo, é mais fácil mudar", diz o coordenador de marketing, Paulo Cruz, lembrando que o passeio começou nos anos 80, atendendo ao interesse de torcedores que queriam ver as taças do Brasileiro.
Hoje, 10% do acervo total de troféus, incluindo o do Mundial, está exposto. "Abrindo as portas do clube, trazemos esses futuros torcedores para conhecer o São Paulo, e eles saem sensibilizados", diz Cruz.
Com Natã não foi diferente. Filho de professores, ambos santistas, foi convencido por um primo a se tornar corintiano. Ainda está dividido.
"Adoro o Corinthians, mas também torço para Palmeiras, Santos, Espanha, Itália e São Paulo", conta o menino, bastante sorridente e falante.
O passeio, ou "catequese", sai dos vestiários e vai ao campo, onde Natã muda seu ranking. "O São Paulo já ultrapassou a Espanha", diz ele, que depois foi às arquibancadas e ao Memorial das Conquistas.
Ricardo Fernandes, professor de educação física de seu colégio e acompanhante dos meninos, acaba dando uma mãozinha para a "lavagem cerebral". Usa um vistoso agasalho tricolor dos anos 90.
"Fui técnico da escolinha do São Paulo em São Bernardo", conta. "Desde aquela época trago meus alunos a esse passeio, sempre com uma explicação antes, para deixá-los ansiosos."
Na sala de projeções, Paulo Cruz agradece a presença dos meninos, e lembra que o esporte é importante, mas é preciso estudar. Culpa do conselho ou não, é nessa hora que Natã afirma, em tom de confissão, para o repórter: "Odeio o São Paulo".
O trunfo, porém, é a exibição do vídeo recente e uma distribuição de brindes. Ao sair, as crianças levam álbum de figurinhas, adesivo do passeio e uma bandeira do São Paulo.
Um olhar crítico diria que o vídeo é feio e mal-editado; erra ao pôr acento na palavra Morumbi. E os são-paulinos mais zelosos observam que a bandeira está defasada: falta a estrela do último Mundial.
Não importa para as crianças. A maioria delas jamais havia ido a um estádio. A magia do cineminha, vendo gols serem gritados por tantos são-paulinos -os colegas e os do vídeo- arrepia os mais novos.
Ganhar a bandeira no fim fez os ditos palmeirenses e corintianos correrem para vê-la tremular -visão que faria alguns pais rivais certamente "sofrer".
"O menino volta para casa e o pai vai perguntar para o filho: "Mas você não era corintiano?'", exemplifica Cruz. "Esse garoto vai ficar com a dúvida, porque o outro clube nunca deu nada para ele..."
Com Natã, segundo a mãe, está funcionando. "Depois que ele voltou da excursão, fica balançando a bandeira, guarda com todo carinho e agora quer ver um jogo do São Paulo no Morumbi", diz Fátima de Souza, 49. Para concretizar esse sonho, ela passa a bola ao pai.
"Moramos no Parque São Rafael [zona leste, na divisa com o município de Mauá] e temos medo da violência", afirma o pai, Natanael, 50. "Mas eu sei que ele não vai desistir, ele tem uma personalidade dele."
Firme na meta de expansão, o São Paulo vai mostrar mais dois projetos de fidelização neste semestre. Um é a expansão do Morumbi Tour, com uma megaloja, a ser aberta dia 27, e o Camarote do Raí. A segunda é o Torcedor do Futuro, outra excursão para colégios, desta vez para ver jogos.
"Estamos conversando com a Federação Paulista de Futebol para saber quando poderemos iniciar este projeto. Sabemos que tem que ser num jogo mais ameno", diz Paulo Cruz.


Texto Anterior: Tostão: Rodízio entre os craques
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.