São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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AÇÃO

Se não pode com eles, junte-se

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Recentemente um grande negócio agitou o mercado de surfe/skate wear mundial. Há muito tempo, as grandes marcas flertam, ficam e, às vezes, namoram com os esportes e as boas grifes do segmento das pranchas.
Isso acontece por meio de patrocínios -e também apoios- a eventos e atletas, se dá também através de licenciamentos e, na maioria das vezes, simplesmente explorando as imagens dos esportes e seus praticantes, procurando estabelecer uma identidade que muitas vezes não existe.
Mas o tal negócio foi um casamento de papel passado.
Sem revelar o teor da comunhão de bens, o que deve acontecer por meio das próximas publicações de balanços, a Nike comprou a Hurley, empresa norte-americana que com apenas cinco anos de vida já figurava entre as maiores do segmento.
Seu fundador, Bob Hurley, foi durante anos o licenciado da marca australiana Billabonbg nos EUA, a que mais vendia no mundo, mas preferiu deixar um faturamento de US$ 120 milhões por ano para se aventurar na marca própria. E tudo indica que valeu a pena.
Um detalhe curioso nessa transação envolve o bicampeão mundial de skate vertical, o brasileiro Bob Burnquist. Patrocinado pela Hurley, meses antes de seu patrocinador se render aos cifrões da Nike, ele recebeu uma proposta milionária da marca e, por entender que ela não tinha nada a ver com o skate, recusou. Seu argumento é que a Nike nunca havia investido no esporte, e, se quisesse fazê-lo, não deveria ser através dele. Meses depois, a gigante dos tênis comprou a marca que ele vestia e colava em seus skates.
Isso em nada deve afetar a relação de Burnquist com a Hurley. Na verdade, ele se envolveu e apoiou o acordo, que preserva a independência da empresa e da equipe, mas ilustra bem a diferença entre a visão do atleta autêntico e a do empresário que se envolve com o esporte só visando lucro.
Esse com certeza foi o maior movimento na indústria, mas vários outros estão acontecendo, evidenciando que esses esportes seguem crescendo em importância no cenário mundial.
No Brasil, as grandes marcas internacionais começaram a chegar nos anos 70 por meio de registros piratas feitos por brasileiros.
Com o passar dos anos, a globalização, a pressão ética e as vantagens oferecidas pelas marcas originais, ficou quase inevitável a aproximação da versão nacional, marcando o fim da pirataria.
E hoje o que se vê é que esses licenciados, que durante anos controlaram os destinos das marcas no país em troca de pagamento de royalties, estão sendo absorvidos pelas multinacionais ou vendendo a licença.
Foi assim com a Rip Curl, com a Billabong, com a Oakley e o mesmo deve acontecer com as poucas grandes que mantêm o modelo de licenciamento. O Brasil, mesmo considerando a limitada fatia da população que tem poder de consumo, é um vasto mercado a ser explorado.
Sou do tempo que muita gente chamava essas práticas de "esportes do futuro". Garantir o futuro, especialmente no Brasil, é uma árdua tarefa, mas hoje, quando levo minhas filhas ao cinema para ver "Lilo & Stitch" ou me sento ao lado delas para assistir a "Power Rockets" na TV, percebo que o futuro, ao menos para os nossos esportes, já chegou.

A vez das minas
A Primedia, editora da "Surfing", da "Surfer", da "Snowboarder", da "Seventeen", entre outras publicações especializadas, acaba de lançar no mercado norte-americano a revista "Surf Snow Skate Girl" apostando no crescente interesse das mulheres por um território antes dominado pelos homens.

Acesso irrestrito
Uma pesquisa cujo tema foi o perfil dos esportistas de aventura realizada pelo site da internet Webventure registrou que houve um crescimento significativo desse tipo de atividade entre o público da classe C.

Lendas do skate
A terceira edição do "Urgh", campeonato para masters acima de 30 anos e supermasters acima de 37, acontece no próximo final de semana no Country de Guaratinguetá (SP).

E-mail sarli@revistatrip.com.br



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