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Zona do conforto
A saltadora Fabiana Murer não cai no comodismo e vê 2011 mais difícil com volta de Isinbaieva
DANIEL BRITO
DE SÃO PAULO
Houve um tempo em que a
saltadora campineira Fabiana Murer, 29, pensava: "Será
que eu fiz aquele resultado
mesmo? Não era sonho?".
Foi quando começou a saltar mais alto do que recordes
brasileiros e continentais no
salto com vara. Fazer bons
resultados virou rotina.
Murer faz hoje, no Centro
Olímpico de São Paulo, pelo
Troféu Brasil de atletismo,
seu último salto em competições nesta temporada.
O ano de 2010 foi o melhor
de sua carreira. Sagrou-se
campeã mundial indoor, no
Qatar, derrotando a maior
atleta da modalidade, a russa
Ielena Isinbaieva; venceu a
Liga Diamante, cuja rival foi
a maior ausência do circuito.
Fabiana também alcançou
4,85 m, sua marca mais expressiva. Mas 21 centímetros
abaixo do recorde mundial,
que pertence a Isinbaieva.
Em entrevista à Folha, anteontem, no Centro Olímpico, Murer revela que foi preciso sair do Brasil para melhorar suas marcas e acredita
que, em 2011, o nível das
competições internacionais
será maior devido ao retorno
da recordista mundial.
FOLHA - É justo dizer que você
foi campeã da Liga Diamante
porque a Ielena Isinbaieva
não estava presente?
Fabiana Murer - Não dá para dizer assim: "Ah, eu ganhei porque a Ielena não estava". Não é assim. Lógico
que ficou um pouquinho
mais fácil, porque era uma
atleta a menos. Mas estavam
a campeã mundial de 2009 [a
polonesa Anna Rogowska], a
russa Svetlana Feofanova,
que foi recordista mundial.
São atletas que já ganharam
dela [Ielena Isinbaieva].
Você se chateia por ter que
comentar sempre sobre a Ielena Isinbaieva?
Ielena é grande. Não só no
atletismo. Ela mostrou o salto com vara para o mundo.
Temos a atenção da mídia
por causa dela, tenho muita
consideração pelo trabalho
dela. Não fico chateada. Lá
no Qatar [Mundial indoor],
ela participou e foi mal. Eu
ganhei. Não sei como ela estaria física e psicologicamente, porque tudo isso conta.
Você ficou sabendo o motivo?
Ielena sentiu que não teria
condições psicológicas de fazer toda a temporada. É muita pressão. Eu até falei para
ela: "Imaginava como era difícil ganhar e aguentar essa
pressão. Neste ano, estou
sentindo que não é fácil. Parabéns por suportar tudo". A
gente se encontrou em Foglia
[na Itália], a Ielena tinha acabado de chegar dos Jogos da
Juventude, em Cingapura.
Ela concordou com o que eu
disse e agradeceu.
Hoje você se sente pressionada por quem?
Por mim mesma. Eu penso: "Tenho chance de ganhar, estou com os melhores
resultados e não vou ganhar?". Mesmo no dia em
que estou mal, eu tenho que
fazer, como aconteceu na
etapa de Estocolmo da Liga
Diamante. Eu estava mal.
Quando acabou, eu fiquei
aliviada e ainda terminei em
terceiro lugar.
Com a Isinbaieva presente,
aumenta o nível técnico das
provas no salto com vara?
A competitividade é maior quando ela está. Se você quer
ganhar, tem que saltar mais
alto. A gente ainda está um
pouco abaixo dela. Ielena é
mais forte e mais veloz. Ela é
bem mais forte do que eu.
Quando voltar, os resultados
vão subir e, para mim, se eu
quiser ganhar, tenho que
pensar em saltar 5 m. Porque
ela vai voltar bem.
Sua meta para o ano que vem
é chegar aos 4,90 m?
Sim.
Modesta meta?
Sim, totalmente. Mas vou
começar a trabalhar os 5 m.
Pode sair em 2011. Primeiro,
eu penso em aprender o caminho até os 5 m.
Dá para fazer bons resultados
competindo só no Brasil?
Dá para fazer bons resultados no Brasil, para depois ir
lá para fora. Mas, para os sul-
-americanos, é mais difícil
conseguir espaço na Europa
porque eles priorizam os europeus. Lá é completamente
diferente. É ótimo para melhorar marcas. Se não tivesse
ido, estaria mais acomodada
aqui: "Ah, estou ganhando
no Brasil, com bom resultado, por que eu vou para fora?". Aconselho a todos a
irem para Europa. É duro,
mas vale muito a pena. Além
de conhecer o atletismo lá
fora, como as pessoas torcem
e os estádios ficam lotados, a
cultura é muito diferente.
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