São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010

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Zona do conforto

A saltadora Fabiana Murer não cai no comodismo e vê 2011 mais difícil com volta de Isinbaieva

DANIEL BRITO
DE SÃO PAULO

Houve um tempo em que a saltadora campineira Fabiana Murer, 29, pensava: "Será que eu fiz aquele resultado mesmo? Não era sonho?".
Foi quando começou a saltar mais alto do que recordes brasileiros e continentais no salto com vara. Fazer bons resultados virou rotina.
Murer faz hoje, no Centro Olímpico de São Paulo, pelo Troféu Brasil de atletismo, seu último salto em competições nesta temporada.
O ano de 2010 foi o melhor de sua carreira. Sagrou-se campeã mundial indoor, no Qatar, derrotando a maior atleta da modalidade, a russa Ielena Isinbaieva; venceu a Liga Diamante, cuja rival foi a maior ausência do circuito.
Fabiana também alcançou 4,85 m, sua marca mais expressiva. Mas 21 centímetros abaixo do recorde mundial, que pertence a Isinbaieva.
Em entrevista à Folha, anteontem, no Centro Olímpico, Murer revela que foi preciso sair do Brasil para melhorar suas marcas e acredita que, em 2011, o nível das competições internacionais será maior devido ao retorno da recordista mundial.

 

FOLHA - É justo dizer que você foi campeã da Liga Diamante porque a Ielena Isinbaieva não estava presente? Fabiana Murer - Não dá para dizer assim: "Ah, eu ganhei porque a Ielena não estava". Não é assim. Lógico que ficou um pouquinho mais fácil, porque era uma atleta a menos. Mas estavam a campeã mundial de 2009 [a polonesa Anna Rogowska], a russa Svetlana Feofanova, que foi recordista mundial. São atletas que já ganharam dela [Ielena Isinbaieva].

Você se chateia por ter que comentar sempre sobre a Ielena Isinbaieva?
Ielena é grande. Não só no atletismo. Ela mostrou o salto com vara para o mundo. Temos a atenção da mídia por causa dela, tenho muita consideração pelo trabalho dela. Não fico chateada. Lá no Qatar [Mundial indoor], ela participou e foi mal. Eu ganhei. Não sei como ela estaria física e psicologicamente, porque tudo isso conta.

Você ficou sabendo o motivo?
Ielena sentiu que não teria condições psicológicas de fazer toda a temporada. É muita pressão. Eu até falei para ela: "Imaginava como era difícil ganhar e aguentar essa pressão. Neste ano, estou sentindo que não é fácil. Parabéns por suportar tudo". A gente se encontrou em Foglia [na Itália], a Ielena tinha acabado de chegar dos Jogos da Juventude, em Cingapura. Ela concordou com o que eu disse e agradeceu.

Hoje você se sente pressionada por quem?
Por mim mesma. Eu penso: "Tenho chance de ganhar, estou com os melhores resultados e não vou ganhar?". Mesmo no dia em que estou mal, eu tenho que fazer, como aconteceu na etapa de Estocolmo da Liga Diamante. Eu estava mal. Quando acabou, eu fiquei aliviada e ainda terminei em terceiro lugar.

Com a Isinbaieva presente, aumenta o nível técnico das provas no salto com vara?
A competitividade é maior quando ela está. Se você quer ganhar, tem que saltar mais alto. A gente ainda está um pouco abaixo dela. Ielena é mais forte e mais veloz. Ela é bem mais forte do que eu. Quando voltar, os resultados vão subir e, para mim, se eu quiser ganhar, tenho que pensar em saltar 5 m. Porque ela vai voltar bem.

Sua meta para o ano que vem é chegar aos 4,90 m?
Sim.

Modesta meta?
Sim, totalmente. Mas vou começar a trabalhar os 5 m. Pode sair em 2011. Primeiro, eu penso em aprender o caminho até os 5 m.

Dá para fazer bons resultados competindo só no Brasil?
Dá para fazer bons resultados no Brasil, para depois ir lá para fora. Mas, para os sul- -americanos, é mais difícil conseguir espaço na Europa porque eles priorizam os europeus. Lá é completamente diferente. É ótimo para melhorar marcas. Se não tivesse ido, estaria mais acomodada aqui: "Ah, estou ganhando no Brasil, com bom resultado, por que eu vou para fora?". Aconselho a todos a irem para Europa. É duro, mas vale muito a pena. Além de conhecer o atletismo lá fora, como as pessoas torcem e os estádios ficam lotados, a cultura é muito diferente.


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