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XICO SÁ
Passa boi, passa boiada
Essa história do churrasco como prêmio até o cavalo
de São Jorge sabe que é uma imoralidade bovina
AMIGO TORCEDOR, amigo secador, a diretoria do Corinthians dá um boi para não
cair, mas os palmeirenses, os são-paulinos e os santistas dão uma
boiada para ver o alvinegro no faroeste caboclo da Segundona. Essa
história do churrasco, apenas um
churrasco como prêmio, até o cavalo
de São Jorge sabe que é imoralidade
bovina diante de tanto dinheiro que
passou pela lavanderia de Itaquera.
Passa boi, passa boiada e nem o
mais ingênuo dos vegetarianos acredita que a saga de tirar o Timão do
buraco mereça só costelas, fraldinhas, picanhas, alcatras... Ao ponto,
mais para malpassadas, e a breja fica
no pendura, no fiado.
Até porque a modernidade já roubou até a graça das velhas piadas de
Vicente Matheus, o grande timoneiro. Hoje não tem mais riso quando
se agradece à Antarctica pelas brahminhas que nos enviaram, chiste
clássico do marido da dona Marlene.
É tudo da mesma casa. Donde se
conclui que Matheus era um profeta, gênio que antecipou grandes fusões do mercado. Nuestro Nostradamus da zona leste, por supuesto.
E quis o destino, amigo, esse
maestro do óbvio, que o Corinthians
duelasse, na hora fatal, com um time
que teve um boi como encosto. Sim,
amigo, o corpo de Edgar Allan Poe só
pode ter sido enterrado embaixo do
campo dos Aflitos. Se não a caveira
do escriba do corvo, pelo menos o
cadáver de Carneiro Vilela, o Edgar
local do folhetim "A emparedada da
rua Nova" (1912), deve gritar até hoje sob aquela grama. No romance,
Vilela nos relata o caso de uma jovem burguesa que havia sido engravidada pelo namorado, mancebo de
balés-ralés, como diria Marcelino
Freire, e, para encobrir a vergonha
da nobre família, foi emparedada viva com filho e tudo no santo ventre.
É, amigo, quis o destino que o rival
do alvinegro, domingo, fosse o Náutico, que passou 31 anos de fastios
ludopédicos por causa de um boi.
Hexacampeão estadual em 1968, osso duro para Santos de Pelé e garrinchosos Botafogos, a diretoria do
Timbu esqueceu os orixás e a promessa que deveria ser paga: doar um
boi para sacrifício no terreiro do pai
Edu, famoso babalorixá de Olinda.
Até mandaram um boi, mas um
boi meio prejudicado, um boi castrado, amigo, que os deuses que dançam no terreiro não receberam bem.
Nessa brincadeira foram 19 decisões, só quatro títulos, e haja mortes
na praia. Tantas que o time mereceu
homenagem em HQ de Corto Maltese na qual o herói dos mares simula uma revolta das areias de Piedade.
Sim, corintiano, os cartolas, reza a
lenda, pagaram a promessa em 99. O
que significa que o peso do boi agora
está no Parque São Jorge e faz da peleja do domingo, no país em que
boiada e churrascos decidem os destinos dos homens públicos e privados, o jogo caubói do ano. A sorte do
alvinegro é que inventaram a expulsão do Acosta, que entende de cumbia e chorizo como nenhum de nós.
Área VIP & Senzala
Além de esperar o fim do dramalhão para ver as pelejas, agora a
Globo vem com camarote VIP com
a turma do rolex e do Projac. Haja
novela no intervalo do jogo contra
o Equador. Gente bonita, clima de
paquera, como na paródia do viejo
Alexandre Matias, que põe este
pueblo para balançar a caveira.
xico.folha@uol.com.br
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