São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FÁBIO SEIXAS

Mundo da fantasia

Ao sorrir e afagar Hamilton, Alonso tenta obter alguma vantagem, tenha certeza. Confundir o inimigo? Pode ser

HÁ ANOS, José Carvalho de Souza vive uma fantasia nos dias de F-1 em Interlagos. Santista de nascimento, curitibano por opção, apaixonado por automobilismo, descola todo ano, no circuito paulistano, bico em algum time.
Antes, era a Arrows. Hoje, é a Super Aguri. Seu trabalho, limpar os carros, lustrar as ferragens, deixar o chão brilhando, tinindo, hospitalar. Acaba a corrida, ele volta a Curitiba. Mas, antes, vem a fantasia.
Um brasileiro trabalhando numa equipe de F-1 é algo que desperta a curiosidade da imprensa. E daí que, sempre que interceptado por repórteres ávidos por qualquer notícia nos dias pré-GP, Souza, digamos, conta sua versão da realidade.
Seu personagem estava na China há duas semanas, viaja o mundo com a F-1, mora na Inglaterra, é amigo de Tom Walkinshaw. Tudo balela. Mas, vira-e-mexe, alguém cai na conversa. Todo ano, Souza vira reportagem em algum jornal, surge na Globo, dá entrevistas para rádios. Souza é a cara do GP Brasil. Uma enorme fantasia.
Como os meios-fios pintados pela prefeitura na última semana, nas avenidas que conduzem ao autódromo. Como a grama cortada nos canteiros da marginal, entre os hotéis da F-1 e Interlagos. Como a numeração nas arquibancadas, que redundarão em desrespeito ou em confusão no domingo. Como a metrópole vista lá de cima, dos helicópteros dos VIPs. Como as palavras do presidente da CBA no programa oficial da corrida, louvando o crescimento do automobilismo brasileiro. Como a bela foto noturna da catedral da Sé, num dos vários guias da cidade distribuídos para a categoria -só espero que nenhum turista se anime e invente de visitar o local à noite.
Como a luta tríplice pelo campeonato, que foi possível somente graças à derrapada jurídico-política de ocasião dos conselheiros da FIA.
Como o comportamento de Alonso na entrevista coletiva de ontem. Ao lado de Hamilton, o espanhol era só afagos e sorrisos. Disse que nunca houve inimizade, que tudo era invenção da imprensa, que a relação entre ambos sempre foi ótima. A F-1 tem disso.
É um esporte jogado muito mais fora da pista do que dentro dela. O Mundial de 2007 ainda não acabou, e o assunto no paddock já é 2008, 2009, 2010. Para onde vai Alonso? Massa fica mesmo na Ferrari? Raikkonen correrá na Williams? Pois é, até esta eu ouvi ontem no paddock.
Ao afagar Hamilton, Alonso tenta alguma vantagem, saiba disso. Confundir o inimigo? É, pode ser. Mas que o Mundial, a partir de hoje, deixe a fantasia de lado e seja decidido no braço, no pé, na pista. Que o campeão, no domingo, seja quem melhor souber lidar com os segredos de Interlagos.
Que o domingo seja real, um prenúncio da segunda-feira. Quando Souza retornará para Curitiba, cheio de histórias para contar. Quando o mato voltará a crescer na marginal.


fseixas@folhasp.com.br

Texto Anterior: Tribunal da Bahia anula 10 a 0 suspeitos quase 1 mês depois
Próximo Texto: Para Massa, FIA animou Mundial
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.