São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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JUCA KFOURI

Bem-vindo tetracampeonato


Futebol é jogo, não foi feito para fazer justiça. Porém, ao premiar a incompetência, acaba favorecendo a falência


HOJE É DIA de festa no Morumbi. Pode até não acontecer pelo motivo óbvio que todos conhecem, a imprevisibilidade do futebol.
Mas mesmo que o São Paulo, concentrado no tetra, não ganhe do Atlético Paranaense, concentrado na Sul-Americana, a chance de comemorar continuará enorme.
Porque dificilmente o Internacional, concentrado no Mundial, vencerá o Paraná Clube, concentrado na Libertadores, em Curitiba.
Mesmo que o São Paulo perca e o Inter vença, o título virá.
Ou no próprio Morumbi, no domingo que vem, contra o Cruzeiro, (o Inter terá o Palmeiras, no Palestra Itália), ou no derradeiro, em Curitiba, contra o Paraná Clube.
Virá com toda justiça, embora muitos achem que o futebol não foi inventado para fazer justiça, ao contrário. Quanto mais injusto, mais gostoso. Pode ser.
Imaginemos se ainda vivêssemos a era dos mata-matas.
Ao oitavo colocado, Flamengo, caberia enfrentar o São Paulo.
Nada menos que 24 pontos os separam, 24, repita-se.
Para não lembrar que o clube tricolor ganhou 21 vezes e marcou 63 gols, contra 14 vitórias e 40. Mais: o saldo dos paulistas é de 32 gols; os cariocas têm déficit de menos 2.
Maracanã lotado diante da chance dada pelo regulamento, do qual ninguém pode reclamar, pois aprovado por todos, lembremos todos da velha cantilena.
Aos 48min do segundo tempo, em impedimento, Obina faz o gol da vitória do Mengo.
E, no Morumbi, no jogo de volta, sem Rogério Ceni, com febre alta, sem Mineiro, com torção no tornozelo, e sem Aloísio, com dores musculares, a retranca de Nei Franco funciona, e o zero não sai do placar.
O saldo rubro-negro melhora para menos um gol, a diferença de pontos cai para 21, o São Paulo está eliminado, e o Flamengo segue vivo, nas quartas-de-final, diante do Figueirense, que, com 16 pontos a menos que o Inter, o eliminou também de maneira surpreendente, noutro 0 a 0, numa tarde em que choveu canivetes no Beira-Rio.
Muito emocionante, de fato. Xico Sá dará piruetas de alegria e nos brindará com mais um de seus deliciosos, estupendos textos.
E tudo o que o São Paulo organizou, e tudo o que o Inter melhorou, e tudo o que faz parte de um mínimo de racionalidade, para exacerbar a paixão com o título conquistado pelo melhor, terá ido por água abaixo.
Logo soarão as cornetas da oposição firme, necessária e organizada do São Paulo: modelo de gestão é o da Gávea, que está endividada, mas e daí? Bem fazem os rubro-negros, agora com Kia Joorabchian. Com Márcio Braga, que ameaça, ameaça, mas sempre compõe com a CBF e até toma algum emprestado de vez em sempre. Viu no que deu o Juvenal Juvêncio, ao contrário, cobrar a dívida que a CBF tem com o São Paulo? E no ano que vem estaríamos todos enaltecendo que só aqui 10, 12 clubes podem ser campeões nacionais, embora falidos.
Não, eu também não quero que o futebol brasileiro fique como o italiano, o espanhol, o inglês, com os poucos candidatos de sempre.
Mas também não quero ver punida a competência, exposta aos caprichos do jogo, sim, bem sei, jogo de futebol.
O que eu quero é bem mais simples, embora pra lá de complexo: quero que 10, que 12, que 20 clubes administrem bem seus times.
Porque a massa torcedora brasileira é muito maior que a européia e respaldará o esforço.
Ou será por acaso que o São Paulo já deixou o Vasco para trás e parte para incomodar o Corinthians em número de torcedores?
E o justo tetra só fará ajudar. Converse com a garotada e comprove.

blogdojuca@uol.com.br


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