São Paulo, quinta-feira, 19 de novembro de 2009

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Ricardo Gomes diz não ser a novidade do Brasileiro-09

Discreto e sem almejar a seleção brasileira, técnico divide a responsabilidade pela redenção do São Paulo no torneio

Após quatro anos na França, são-paulino diz que não vê defeitos no futebol nacional e que, 5 meses depois, já se sente totalmente adaptado

CAROLINA ARAÚJO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em junho, após quatro anos no futebol francês, Ricardo Gomes chegou ao São Paulo como uma incógnita. Cinco meses depois, seu status mudou.
Sem grande visibilidade como técnico até chegar ao Morumbi, o carioca de 44 anos virou líder do Brasileiro -ao menos até o início da 36ª rodada. Mas, apesar do novo status, o estilo discreto de Ricardo Gomes prevalece. À Folha o técnico diz não se considerar uma das novidades do torneio. Também rejeita utilizar estratégias de divulgação pessoal, como o Twitter. E afirma não ter como objetivo comandar a seleção, onde se destacou como zagueiro nas décadas de 1980 e 1990.

 

FOLHA - Você se vê como uma das novidades do Brasileiro?
RICARDO GOMES
- Novidade são os jogadores que estão se destacando. Técnico não. É verdade que apareço mais, dou mais entrevistas, mas todo o nosso resultado é graças a todos no clube, aos jogadores, aos funcionários do CT... É tudo coletivo.

FOLHA - Após sua temporada francesa, já elegeu o melhor e o pior de voltar a trabalhar no Brasil?
RICARDO GOMES
- O futebol o coloca em uma redoma. No futebol, a qualidade de vida é igual no Brasil e na Europa. O nível é semelhante. Então achar defeitos fica complicado. Não vejo defeito em Bordeaux, Monaco, Paris [Saint-Germain]... Talvez só o frio no inverno. E aqui não é diferente. O que tem de ruim? Talvez o trânsito, porque tem dia em que demoro duas horas para chegar ao CT. E só.

FOLHA - Você é visto como calmo e discreto. É o seu diferencial?
RICARDO GOMES
- Calmo não sou tanto. É só a casca, mas dentro sou um turbilhão. Discrição acho importante. Quem tem que se destacar é o time.

FOLHA - O que acha de técnicos que usam Twitter ou blog como estratégia de comunicação?
RICARDO GOMES
- Não faço esporte individual nem treino só um atleta. Tenho que pensar no time. Se achar que será interessante a comunicação direta com a torcida, posso pensar em criar um Twitter. Mas não vejo necessidade. Minha comunicação está ligada ao clube. Não tenho que ter uma comunicação só minha, nem estratégia de marketing só minha.

FOLHA - Você está há cinco meses no São Paulo. Já se sente adaptado?
RICARDO GOMES
- Apesar dos anos em que vivi na França, não tive choque quando cheguei. Já tinha trabalhado com o Carlinhos [Neves, preparador físico] e já trocava muita informação com o Milton [Cruz, auxiliar técnico] sobre jogadores que eu queria levar para a França. Também já tinha trabalhado com Arouca e Júnior Cesar, já tinha observado Richarlyson, Hernanes, André [Dias], Miranda. Isso foi fundamental para que eu não perdesse tempo. No São Paulo, não precisei de tempo de adaptação. Não precisei nem mesmo trazer auxiliar meu. Pude chegar e já trabalhar com intensidade total.

FOLHA - O time já tem seu estilo?
RICARDO GOMES
- O time tem um jogo coletivo bastante desenvolvido. Quando nossa qualidade técnica baixa, o time cai. Nos últimos jogos, voltamos a impor toque de bola, poder de marcação e muita gente chegando à área. O que mudei foi isso. Mas é um processo que começou até antes de eu chegar.

FOLHA - Com o Muricy?
RICARDO GOMES
- Sim, ele e o Milton estavam fazendo essa transição. O problema é que, no começo do ano, chegaram muitos atletas ao São Paulo. O time começou quase do zero, mas tinha o peso de ser campeão brasileiro. Por isso, todos demoraram para assimilar o estilo de jogo. Mas era algo que estava sendo feito. Faltava confiança.

FOLHA - O São Paulo é o favorito ao título brasileiro?
RICARDO GOMES
- Temos uma vantagem matemática. O bom disso é que você não precisa mais prestar atenção nos outros. Quando estávamos a cinco pontos do Palmeiras, eu ia mesmo para a frente da TV, porque só podíamos pensar em algo se o Palmeiras perdesse. Agora não. Estamos na frente, e poder pensar só em nós é muito bom.

FOLHA - Em que momento achou que o time ia lutar pelo título?
RICARDO GOMES
- No fim da sequência do primeiro turno, contra Grêmio [2 a 1] e Goiás [3 a 1], vi que o time tinha algo a mais. Outra coisa que me animou foi o time mostrar brilho nos jogos em que tivemos atletas expulsos. Só quem quer o título mostra tanta força.

FOLHA - O jogo contra o Botafogo será o mais difícil dos que restam?
RICARDO GOMES
- Sim, mais ainda porque o Botafogo jogará a vida. Quando se está perto do rebaixamento, faltando só três rodadas para o fim, vira loucura. E nós teremos que aguentar isso. Será nosso maior teste.

FOLHA - Você faz planos para o futuro? Pensa na seleção brasileira?
RICARDO GOMES
- Nem penso nisso. Penso em títulos com o São Paulo, na Libertadores... Meus objetivos são imediatos. Traçar planos no futebol é difícil, pois um jogo pode mudar tudo. De repente você faz tudo certo, mas a bola bate na trave e não entra. E aí a culpa é sua.


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