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FUTEBOL
Depois de Ronaldo, atleta gaúcho deve se tornar hoje o segundo do país a bisar o prêmio de melhor do mundo da Fifa
"Barbada", Ronaldinho se sente incompleto
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE
No ano que termina, Ronaldinho teve um filho, multiplicou como nunca seus contratos publicitários e ampliou seu acordo com o
Barcelona até 2010, fazendo crescer seu já vultoso salário. Pouco se
sabe sobre esses temas. Em campo, teve atuações tão brilhantes
quanto às de 2004, quando ganhou pela primeira vez o prêmio
de melhor do mundo da Fifa. Só
que com mais gols e mais títulos.
Ao subir hoje ao palco da Ópera
de Zurique como o favoritíssimo
para receber novamente o troféu,
o gaúcho de 25 anos, 1,81 m e 80
kg, cumprirá mais uma etapa de
uma carreira rara, iniciada como
profissional no Grêmio de Porto
Alegre há sete anos.
Graças ao futebol que só melhora e a uma discrição que mantém
inabalada, apesar da fama crescente, é um caso único de astro
que consegue aparecer quase somente pelo que faz nas quatro linhas, quase sumindo fora delas.
O meia-atacante conduziu o
Barcelona ao incontestável título
do Espanhol 2004-2005. Com o
Brasil, foi campeão da Copa das
Confederações e líder das eliminatórias sul-americanas. Na atual
temporada, dá seqüência ao baile.
É vice-artilheiro da Copa dos
Campeões (cinco gols) e do Espanhol (dez tentos), liderado pelo
"Barça". Na recente vitória por 3 a
0 sobre o Real Madrid, foi aplaudido de pé pelos torcedores do arqui-rival, algo que poucos atletas
conseguiram na história.
O "rosto risonho do futebol", na
definição da própria Fifa, concorre com o inglês Frank Lampard,
do Chelsea, meio-campista com
habilidade e gols de atacante e resistência de super-homem (ontem fez seu 163º jogo seguido pelo
Campeonato Inglês), e com o camaronês e colega de Barcelona
Samuel Eto'o, outra peça essencial no título espanhol, porém
mais de gol do de que mágica -é
artilheiro do Espanhol, e anteontem, com Ronaldinho poupado
por causa de uma gripe, fez mais
dois contra o Cádiz, fora de casa.
A disputa, que antecipa o duelo
Barcelona x Chelsea pelas oitavas-de-final da Copa dos Campeões,
parece uma barbada.
Até a mídia inglesa, que não tem
se furtado a definir Lampard como o "melhor meia do mundo",
dá como certa a vitória do brasileiro, que já levou neste ano a Bola
de Ouro de melhor da Europa e o
prêmio da FIFPro, entidade mundial dos atletas profissionais.
Uma votação pública na página
da Fifa na internet dava ontem
82% para Ronaldinho, 9,8% para
Lampard e 8,2% para Eto'o.
Namorador que se mantém reservado, milionário que continua
amparado por uma estrutura familiar (o irmão, Assis, é o empresário, a irmã, Deisi, é a assessora
de imprensa, primos e amigos
ocupam funções de secretários,
personal trainer, etc.), o brasileiro
passa seu recado com os pés.
Não se deve esperar dele declarações bombásticas. Quando Ronaldo peitou a CBF e pediu para
não jogar a Copa das Confederações alegando desgaste, ele foi na
direção contrária, colocando-se à
disposição para o torneio. Com
Ronaldinho não há bola dividida.
Assim foi na entrevista que concedeu à Folha. Inicialmente, a reportagem solicitou um encontro
em Barcelona -a onipresente
Deisi alegou que não havia espaço
na agenda. Foi pedida então uma
conversa por telefone, também
descartada. A única chance era
enviar perguntas por e-mail. Às
respostas incompletas ou subterfúgios (como o de, instado a comentar o grupo do Brasil, dizer
que "não tem mais time ruim no
futebol mundial"), foi tentada
uma "tréplica", em vão.
Folha - Um ano depois de ter conquistado o prêmio de melhor do
mundo, o que mudou em você?
Ronaldinho - Pessoalmente, continuo o mesmo cara de sempre.
Os compromissos, o assédio na
rua, a falta de liberdade... são coisas normais que já existiam antes
do prêmio. Acho que o que mudou um pouco foi o reconhecimento internacional e o assédio
da imprensa estrangeira, que ficou muito maior. Mas isso sempre vai existir. Sem problema.
Folha - Você dribla bem, chuta
bem, lança bem, passa bem e agora
também tem feito muitos gols. O
que falta para você ser um jogador
completo?
Ronaldinho - É difícil você falar
de si mesmo. Estou sempre treinando com o objetivo de melhorar cada vez mais. Quanto mais
você treina, melhor fica nos fundamentos. É assim no chute, na
cabeçada, no drible... Se a gente
acha que é o melhor em tudo, acaba se descuidando dos fundamentos mais básicos.
Folha - Com tanto prêmio e título,
o que falta à sua carreira?
Ronaldinho - Enquanto estiver
jogando futebol, a minha carreira
nunca estará completa. Sempre
estarei almejando alguma coisa
nova. A curto prazo, meu sonho é
chegar ao bi mundial na Alemanha e ao título da Copa dos Campeões com o Barcelona.
Folha - Você disse recentemente
que não se considerava nem o melhor do Barcelona. Acha que o [o argentino-revelação] Messi, que você
tem elogiado muito, pode vir a ser
melhor que você?
Ronaldinho - Futebol é um esporte coletivo, ninguém consegue
ser o melhor sozinho. Somos um
time muito unido no Barcelona.
Todos os prêmios individuais que
recebo divido com meus companheiros. O Messi é um grande jogador e em pouco tempo estará
dando muitas alegrias às torcidas
do Barça e da Argentina.
Folha - Qual a chave para um futebol bonito e eficiente, como o
que o Barcelona tem apresentado?
Ronaldinho - Não há segredo. Há
trabalho, união, companheirismo, humildade e desejo de vencer. Características de qualquer time de sucesso no mundo. Um time com bom toque de bola pode
chegar ao gol adversário por qualquer parte do campo. É por isso
que tentamos diversificar.
Folha - Quando você vai colocar
aparelho nos dentes? Espera que
seu futebol possa render ainda
mais, já que sua respiração vai ficar
melhor?
Ronaldinho - Ainda não há uma
definição. Mas não sei se isso irá
influenciar no meu desempenho
[em entrevista à revista inglesa
"Four Four Two", Ronaldinho
disse que a mãe sempre insistiu
para que usasse aparelho e que ele
nunca deu ouvidos, e hoje se arrepende disso. Contou que tem que
abrir a boca inteira para respirar,
e por isso cansa mais cedo, e que
espera que o aparelho o ajude a
respirar melhor].
Folha - O que pretende fazer
quando parar de jogar futebol?
Ronaldinho - Nossa... Ainda não
pensei nisso. Não pretendo parar
tão cedo.
Folha - De 14 edições do prêmio
da Fifa, 6 foram ganhas por brasileiros, todos enquanto atuavam no
futebol europeu. Provavelmente a
próxima seleção brasileira será a
mais "européia" da história das Copas. Como você analisa a questão?
Vê a chance de algum brasileiro
que atua no Brasil ganhar um prêmio Fifa nos próximos anos?
Ronaldinho - Existem grandes
jogadores atuando no Brasil e que
poderiam ganhar qualquer prêmio. Lógico que a tendência é o
jogador ir para a Europa por causa da diferença econômica. Isso é
assim mesmo e não tem jeito.
Mesmo assim, não perdemos
nossas características e o amor
pelo país. Sempre que entramos
em campo estamos representando nossa pátria e isso nos orgulha.
Folha - No ano passado, você participou do jogo beneficente do
Trianon, em Porto Alegre. Vai atuar
de novo? Quais seus planos para o
fim do ano?
Ronaldinho - O Trianon é uma
iniciativa muito bonita do cabeleireiro Nei, que vem de anos, e
ajuda muita gente que precisa.
Sempre que posso participo com
maior prazer. Acho que será na
próxima quinta-feira, mas não sei
se conseguirei chegar a tempo. A
única coisa que penso neste fim
de ano é descansar, estar ao lado
da minha família e dos meus amigos [o jogador deve ir para um sítio de sua família em Eldorado do
Sul, próximo a Porto Alegre].
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