São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

Medida comum em empresas visa impedir volta do meia ao Corinthians

São Paulo usa quarentena contra Ricardinho no rival

Marcelo Alves/Futura Press
Gustavo Nery, que retornará amanhã à lateral esquerda são-paulina, participa de treino coletivo


EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

O São Paulo recorreu a uma estratégia comum em grandes empresas, tanto do setor público como privado, para impedir que o meia Ricardinho atue no Brasil, mais especificamente no Corinthians, que tem interesse no atleta, antes de janeiro de 2005.
O clube afirma ter colocado cláusula no distrato do atleta, firmado no mês passado, que o impede de jogar em uma agremiação do país por 12 meses.
O termo utilizado no acordo é semelhante à quarentena, dispositivo feito por algumas companhias nos distratos de funcionários de alta patente, que ficam impedidos durante determinado período de trabalhar em uma empresa concorrente. "Isso [quarentena] no mercado é usual, e nós conseguimos transferir para o futebol", diz o diretor de futebol do clube, Juvenal Juvêncio.
Com a quarentena, o clube do Morumbi acredita anular a estratégia corintiana, que é derrubar a multa estabelecida (US$ 1 milhão) por descumprimento de contrato, para ter Ricardinho. No caso, o próprio atleta entraria na Justiça.
O São Paulo argumenta que, com a quarentena, essa possibilidade é remota, já que, em tese, Ricardinho, 27, continua sendo pago pelo próprio time do Morumbi para não trabalhar no Brasil.
Para que a estratégia tivesse respaldo jurídico, o São Paulo fez um acordo financeiro com o jogador. Como partiu de Ricardinho o desejo de rescindir o contrato com o clube, ele teria de pagar multa aos são-paulinos que, por sua vez, tinham uma dívida referente a direitos de imagem atrasados com o meia. Os valores foram zerados, mas Ricardinho recebeu uma compensação do clube para oficializar uma quarentena.
As bases do acordo são mantidas em sigilo, já que o São Paulo diz ter colocado cláusula de confidencialidade no distrato.
"Por menos expressivo que seja [o valor], é uma remuneração por esse tempo [que Ricardinho fique fora do Brasil]. O Ricardinho assumiu compromisso com o São Paulo e nós demos uma contrapartida a ele", disse o diretor de planejamento do São Paulo, João Paulo Jesus Lopes.
De acordo com o jurista Marcílio Krieger, especialista em direito esportivo, a manobra executada pelo São Paulo só tem sustentação legal se o atleta estiver recebendo do clube para não atuar por uma outra equipe brasileira.
"Do contrário, se tiver sido colocada apenas uma cláusula dizendo que ele está impedido de defender outro clube do país é uma violação constitucional, que impede o direito de ir e vir."
O clube do Morumbi diz que o acordo feito com Ricardinho é consistente e que tomou todas as precauções jurídicas.
"Nós temos inovado em algumas questões contratuais. O clube já foi prejudicado algumas vezes por conta de acordos mal redigidos", acredita Jesus Lopes.
De acordo com ele, o São Paulo já havia feito acerto semelhante com Cafu, em 1995, quando o negociou com o Real Zaragoza, da Espanha. À época, o clube estipulou cláusula que impedia o lateral de atuar pelo Palmeiras antes de um período de 12 meses.
Cinco meses depois, porém, o atleta foi negociado com o Juventude, que mantinha parceria com a Parmalat, co-gestora palmeirense. Um mês depois, Cafu desembarcou no Parque Antarctica.
A manobra foi aceita pela Fifa, Cafu ficou no Palmeiras, mas o São Paulo recebeu indenização na Justiça pelo descumprimento do acordo por parte do Zaragoza.
O procurador do jogador, que se transferiu no início deste mês para o Middlesbrough, da Inglaterra, diz que irá cumprir o o compromisso firmado com o São Paulo. "O Ricardinho não irá defender qualquer time brasileiro até 2005", assegura Rubens Pozzi.


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