São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2011

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TOSTÃO

Palavras, palavras


Muitos iniciantes no futebol, que querem também entender, ficam perdidos com tantos nomes


ESPERO QUE RONALDO, agora membro (garoto-propaganda) do comitê paulista para a Copa de 2014, não seja várias vezes desmentido, como foi, após dizer que não emagrecia por causa somente do hipotireoidismo e que não tomava hormônios porque poderia aparecer no exame antidoping.
Logo após Ronaldo anunciar o fim da carreira, o jornal espanhol "Marca" deu em manchete mais ou menos isto: "Parou de jogar o maior atacante do mundo de todos os tempos". Muitos protestaram e perguntaram: e Pelé?
Tenho quase certeza de que o jornal, por causa da nomenclatura que se usa no futebol da Espanha e por particularidades da língua, referiu-se ao melhor centroavante. Pelé era um atacante, um ponta de lança, que voltava para receber a bola. Na sua frente, ficava o centroavante.
A terminologia correta é essencial em qualquer profissão. As coisas precisam ter nomes, claros e definidos, para ser entendidas e transmitidas. A nomenclatura no futebol do Brasil é muito confusa. Os iniciantes ficam perdidos com tantos chavões, expressões esquisitas e nomes diferentes para as mesmas coisas. Muitos amantes do futebol não querem apenas torcer. Querem também entender.
Quais são as diferenças entre meia ofensivo, meia de ligação e meia-atacante, entre lateral e ala, entre quarto-zagueiro e zagueiro esquerdo, entre terceiro e quarto jogador de meio-campo, entre primeiro e segundo volante, entre os inúmeros desenhos táticos?
A maioria das pessoas que trabalha no futebol não explica, por não saber e/ou por não dar nenhuma importância.
Há ainda, em todas as profissões, discursos e análises tão bem articulados, com um português tão correto, tão bem falado, que até parecem brilhantes e profundos, mesmo sem nenhum conteúdo.
Quando brinco com o "titês", não critico os erros de português. Imagino, já que não sou a pessoa indicada para opinar sobre isso, que o português de Tite é corretíssimo. Minha irônica crítica é ao jeito formal e rebuscado, algumas vezes incompreensível de ele falar. A solução não é o uso dos chavões. É ser mais claro e simples.
Gosto de ler a poesia e a prosa de Fernando Pessoa, das palavras inventadas de João Guimarães Rosa, de ver os quadros expressivos de Van Gogh, de escutar as músicas e de ler os livros do poeta Chico Buarque, e de tantos outros artistas excepcionais, porque, além da beleza e da poesia das palavras e das imagens, posso entendê-las. São simples, claras e geniais.


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