São Paulo, terça-feira, 20 de março de 2007

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Clubes pagam passagens com R$ 11 mi de ágio

Transporte do último Brasileiro extrapola previsão em contrato e valor de mercado, diz documento do Flamengo

Clube dos 13 nega pagar preço superfaturado, diz que fez concorrência para bilhetes e afirma que time carioca conhecia negociação


RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Clube dos 13 pagou R$ 11 milhões a mais pelas passagens aéreas do Brasileiro-06 em relação ao valor firmado em contrato com agência de viagens e ao preço de mercado. Esse valor extra foi saldado com a cessão de placas de publicidade.
A acusação consta de documento interno do Flamengo obtido pela Folha. É um comunicado do ex-vice-presidente do clube Artur Rocha Neto ao presidente Márcio Braga.
A denúncia deve gerar racha no C13, que tem reunião hoje em São Paulo. O presidente da entidade, Fábio Koff, ficou irritado com dirigentes flamenguistas ao saber da existência do documento. Cartolas do clube, fundador do C13, devem questioná-lo sobre o assunto.
O estudo do Flamengo analisa o contrato entre o C13 e a Pallas Operadora Turística.
O acordo acerta a compra de cerca de 10 mil passagens do último Campeonato Brasileiro, usadas por todos os 20 clubes da Série A. Segundo o Clube dos 13, contratos iguais são firmados com a empresa desde o campeonato de 2004.
O documento possui duas cláusulas que estabelecem, na teoria, preços diferentes para os serviços prestados. Na prática, o valor utilizado foi sempre o mais alto, em prejuízo dos clubes e em favor da agência.
O contrato diz que, pela tabela padrão de agências, todas as passagens custariam R$ 27,1 milhões. Na primeira cláusula afirma que a Pallas aplicará um desconto de 68% sobre essa tarifa cheia. Ou seja, haveria uma redução de R$ 18,4 milhões.
Só que uma cláusula seguinte estabelece que o desconto seria de R$ 7,4 milhões. Assim, é uma redução de apenas 27,4%, menos da metade do prometido no início. E foi esse o valor levado em conta na prática.
Juntamente ao documento, o Flamengo levantou seus gastos com passagens extras no Brasileiro, pagas do próprio bolso. Sua pesquisa diz que 68% foi o desconto médio obtido pelo clube. Consultada pelo clube, uma agência disse que, pelo mercado, poderia fazer redução de pelo menos 60%.
Do total de R$ 20,1 milhões, o Clube dos 13 pagou, em dinheiro, R$ 9,1 milhões (R$ 8,768 milhões mais R$ 400 mil em taxas de embarque). E cedeu placas de publicidade do Brasileiro no valor de R$ 11 milhões para a Varig ou outra que fornecesse os bilhetes.
O valor dessas placas é igual à diferença entre os dois descontos descritos no contrato. Para efeito de comparação, é o preço obtido pela Globo na venda das principais cotas de placas do Brasileiro em 2005.
O documento do Flamengo ainda questiona o fato de não ter visto o registro do dinheiro das placas nas contas do C13 de 2005. Além disso, aponta erro nas tarifas cheias usadas como referência no contrato.
Procurada pelo clube, a agência Interblanc afirmou que, pela tabela padrão, todas as passagens custariam R$ 23,8 milhões- R$ 2,3 milhões a menos do que diz o acordo. Assim, o documento acusa aumento de R$ 1 milhão no ágio.
O contrato é assinado pelo presidente da entidade, Fábio Koff, e pelo dono da Pallas, Wagner Abrahão.
Procurado pela Folha, Artur Rocha, confirmou a existência do documento, mas não quis comentar seu teor. Já Márcio Braga declarou que trataria do assunto internamente. Isso pode ocorrer na reunião de hoje do C13 em São Paulo.


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