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França volta atrás sobre boicote a Pequim-08
Para chanceler, economia supera os direitos humanos
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Depois de considerar "interessante" a proposta de boicotar a cerimônia de abertura dos
Jogos Olímpicos de Pequim em
protesto contra a repressão
chinesa no Tibete e dizer que
levaria a idéia aos demais membros da União Européia, o
chanceler da França, Bernard
Kouchner, voltou atrás.
A meia-volta foi explicada
ontem com uma sinceridade
raramente demonstrada pelos
países do Ocidente quando o
assunto são seus interesses na
China. "Quando se lida com relações internacionais com países importantes como a China,
obviamente são tomadas decisões econômicas à custa dos direitos humanos", disse Kouchner, complementando: "Isso é
realismo elementar."
Na terça-feira, o chanceler
francês havia elogiado a proposta feita pela organização
Repórteres sem Fronteira, de
boicotar a abertura dos Jogos
de Pequim por causa da repressão no Tibete e desrespeito do
país-sede a princípios elementares de direitos humanos.
O gesto, porém, não foi seguido por nenhum outro país da
UE, onde assuntos de política
externa freqüentemente causam calorosas discussões.
Desde o início dos distúrbios
recentes no Tibete, os líderes
europeus pouco falaram sobre
o assunto, mas a UE deixou claro que não apoiaria um boicote
total à Olimpíada, como pedem
ativistas tibetanos.
Um protesto do bloco europeu à altamente simbólica cerimônia de abertura, marcada
para o dia 8 de agosto, quando
será acesa a tocha olímpica, seria um golpe significativo à
imagem global chinesa.
Ontem Kouchner voltou a dizer que a idéia não é má, mas
descartou o gesto. "Há muitas
boas idéias que não podem ser
postas em prática", disse o
chanceler à rádio RMC.
A violenta repressão chinesa
aos protestos no Tibete, os piores em quase 20 anos, colocou a
Olimpíada de Pequim no foco
dos grupos humanitários, que
vêem nos Jogos a única forma
de pressionar a ditadura comunista. Um dos fundadores da
organização Médicos sem
Fronteiras, Kouchner pode ter
voltado atrás, mas sua idéia serviu de inspiração na UE.
O presidente do Parlamento
Europeu, Hans-Gert Poettering, fez eco à declaração original do ministro francês, pedindo a políticos do continente
que evitem comparecer à abertura da Olimpíada se a violência no Tibete continuar.
Kouchner, que foi expulso do
Partido Socialista francês no
ano passado ao aceitar fazer
parte do governo do presidente
Nicolas Sarkozy, alinhado à direita, preferiu ser pragmático.
"Honestamente, é muito bonito falar de direitos humanos.
Eu falei neles a minha vida inteira e vou continuar falando",
declarou o chanceler, antes de
concluir em sintonia com o realismo sarkozista. "Mas há dois
lados na moeda."
Para o vice-presidente do comitê organizador da Olimpíada, Jiang Xiao, o boicote à abertura dos Jogos é idéia de "um
grupo pequeno" e não deve ser
levado a sério. "Acredito que a
maioria das pessoas do mundo
tomará a decisão certa", disse
Xiao, em entrevista coletiva em
Pequim convocada às pressas
para abafar a iniciativa.
Com agências internacionais
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