Membros da facção, entre eles agressor de Love, viajam no mesmo voo do time

Protestos da organizada visam minar Cipullo, a fim de que oposição, que tem alguns de seus integrantes, assuma o futebol do clube

EDUARDO ARRUDA
DO PAINEL FC
RENAN CACIOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os jogadores do Palmeiras estão assustados. Num "encontro" casual com a Mancha Alviverde, estiveram lado a lado com o agressor de Vagner Love.
Neilo Ferreira e Silva, conhecido como Lagartixa, um dos líderes da organizada, era um dos membros da facção presentes no voo que trouxe a delegação do time de volta de Belém, na madrugada de anteontem.
Ele e mais três pessoas, entre elas o presidente da Mancha, André Guerra, já estavam sentados quando a equipe palmeirense entrou, horas depois do confronto diante do Paysandu, válido pela Copa do Brasil.
Nem mesmo a vitória por 2 a 1 poupou os atletas de escutarem cobranças. O meia Diego Souza foi o principal alvo. "Tem que jogar, hein?!", disse um dos torcedores, enquanto o elenco se acomodava nos assentos.
Antes que o constrangimento se tornasse maior, o diretor de futebol do clube Savério Orlandi foi ao encontro dos quatro, que estavam localizados em cadeiras próximas a Diego Souza e ao atacante Lenny.
"Os jogadores falaram "está tudo de boa", então sentei por ali e fomos conversando durante a viagem", disse Savério, que já havia encontrado os torcedores no voo de ida. O time, porém, havia viajado antes.
De acordo com o dirigente, a principal objeção apresentada não foi em relação ao time, mas ao vice-presidente Gilberto Cipullo, homem forte do futebol, que não estava no avião.
"Eles alegam que o Cipullo está seguindo os passos do Mustafá [Contursi, ex-presidente do clube e principal oposicionista da atual administração], tornando-se um ditador, um tirano", completou Savério.
Na verdade, os protestos da Mancha têm respingado muito mais na política no Palmeiras do que nos resultados em campo. E isso não é por acaso.
O grupo Famiglia Palestra, composto por conselheiros e integrantes da organizada, tem como objetivo principal assumir o futebol no clube, principalmente as categorias de base.
Em razão disso, Cipullo tem sido xingado sistematicamente pela Mancha, principalmente em jogos no Parque Antarctica. Com menor força, a torcida tem batido no presidente do clube, Luiz Gonzaga Belluzzo, e na parceira comercial, a Traffic.
Na véspera do clássico contra o São Paulo, disputado no dia 21 de fevereiro, alguns torcedores foram até o centro de treinamento protestar contra a queda de Muricy Ramalho, demitido dias antes, e a contratação de Antônio Carlos. Novamente, o intuito era atingir Cipullo.
Apesar do caráter político dos protestos, eles têm preocupado os atletas, que ficaram irritados com o episódio no avião -ainda mais sendo Lagartixa um dos protagonistas.
No final do ano passado, ele e mais dois integrantes da Mancha agrediram Vagner Love quando o atacante saía de uma agência bancária, na zona oeste de São Paulo. Lagartixa passou cerca de 15 dias preso por conta das ofensas racistas que proferiu contra o centroavante, que, mais tarde, deixou o clube alegando falta de segurança.
Segundo Savério Orlandi, o inquérito policial sobre o incidente ainda não foi concluído. Depois, caberá ao Ministério Público fazer a denúncia ou pedir o arquivamento do caso.
Para o promotor Paulo Castilho, o Palmeiras deveria registrar o fato do avião. "É mais um exemplo de ingerência de torcedor no clube. Ingerência inconveniente e indevida", disse.


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