São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 2006

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FUTEBOL

O homem que superou Garrincha

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Ontem, enquanto eu escrevia um texto sobre pontas-direitas para o meu blog, vi que Garrincha tinha feito 272 gols em sua carreira. Mas havia um outro ponta-direita, um tal de Luizinho, que havia feito 273. Um a mais que o anjo torto!
Mas quem era esse Luizinho?
Dei uma pesquisada por aí e vi que ele foi o principal ponta-direita do Brasil nas décadas de 30 e 40. Decidi então entrevistar o sujeito. Mas dei azar. Ele já estava morto há 12 anos.
Minha única saída era o carteiro dos desencarnados, o telefonista das almas, o e-mail dos espíritos: o grande Zé Cabala.
Quando entrei em sua sacrossanta sala e lhe disse quem eu gostaria de entrevistar, ele foi até seu armário de turbantes, pegou um verde e outro tricolor, colocou um sobre o outro na cabeça e sentou-se em posição de lótus.
Então fechou os olhos e cantou uma mistura de dois hinos, algo como: "Quando surge o tricolor paulista, amado clube alviverde...".
Depois, abriu os olhos e disse: "Sou Luizinho Mesquita, muito prazer".
"Senhor Luizinho, eu li que o senhor fez mais gols que o Garrincha. É isso mesmo?"
"É a pura verdade. E olhe que naquele tempo se jogava muito menos. No Palestra Itália, por exemplo, eu fiquei cinco anos e meio e só fiz 163 partidas. Mesmo assim, marquei 123 gols."
"Parece que sua saída de lá foi complicada."
"Ganhei dois Paulistas pelo Palestra, mas, em 41, me desentendi com a diretoria. Eu era advogado, então fui na Justiça e consegui o direito de ir jogar no São Paulo. E isso foi bem antes da Lei Bosman e da Gislaine Nunes."
"E como foi sua carreira no São Paulo?"
"Marquei 145 gols e fui campeão paulista em 43, 45 e 46. E em 44, com 33 anos, fui artilheiro com 22 gols."
"Parece que houve um jogo pelo São Paulo em que..."
"Já sei, já sei. Você quer que eu fale da decisão de 42. Bom foi o seguinte, para sermos campeões, tínhamos que vencer o Palestra, que naquele jogo tinha entrado em campo com a bandeira brasileira e com um novo nome: Palmeiras. Só que o juiz roubou tanto para eles que eu mandei o time sair de campo. Aí o Palestra, digo, o Palmeiras, foi campeão."
"E como foi sua carreira na seleção brasileira?"
"Fiz 18 partidas e marquei cinco gols. Participei da Copa de 34, na Itália, e da de 38, quando ficamos em terceiro. Mas quem lembra de um terceiro lugar?"
"Pois é, por que, com tantos gols e títulos, o senhor é pouco lembrado hoje em dia?"
"Meu rapaz, eu sei que fui um grande ponta, mas, para sobreviver ao tempo, não basta ser bom. É preciso ligar o nome a algo grande. Talvez se eu tivesse ganho uma Copa ou jogado num só clube, eu fosse mais lembrado. Pelo menos essa sua entrevista vai fazer com que algumas pessoas saibam que eu existi. Por isso, dê uma boa gorjeta para o Zé Cabala. Ele merece."

Patesko
Luizinho foi o ponta-direita da seleção em 34 e 38. Na ponta-esquerda, ficava Patesko, o único estrangeiro a vestir a camisa da seleção em jogos de Copa. Ele nasceu na Polônia e seu nome era Rodolfo Barteczko. Patesko disputou 34 jogos (22 oficiais) pelo Brasil e fez 11 gols (8 oficiais). Jogou no Botafogo (fez mais de cem gols e sagrou-se campeão estadual em 35), no Grêmio e no Nacional (URU).

Globalização
Os outros estrangeiros que já jogaram pela seleção brasileira adulta são: Francisco Police, um italiano que participou de um amistoso em 1918, o inglês Sidney Pullen, que fez cinco jogos entre 1916 e 1917, e o goleiro português Casemiro do Amaral, que defendeu a seleção em seis jogos e tomou 14 gols.

E-mail torero@uol.com.br


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