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FUTEBOL
O homem que superou Garrincha
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Ontem, enquanto eu escrevia um texto sobre pontas-direitas para o meu blog, vi
que Garrincha tinha feito 272 gols
em sua carreira. Mas havia um
outro ponta-direita, um tal de
Luizinho, que havia feito 273. Um
a mais que o anjo torto!
Mas quem era esse Luizinho?
Dei uma pesquisada por aí e vi
que ele foi o principal ponta-direita do Brasil nas décadas de 30 e
40. Decidi então entrevistar o sujeito. Mas dei azar. Ele já estava
morto há 12 anos.
Minha única saída era o carteiro dos desencarnados, o telefonista das almas, o e-mail dos espíritos: o grande Zé Cabala.
Quando entrei em sua sacrossanta sala e lhe disse quem eu gostaria de entrevistar, ele foi até seu
armário de turbantes, pegou um
verde e outro tricolor, colocou um
sobre o outro na cabeça e sentou-se em posição de lótus.
Então fechou os olhos e cantou
uma mistura de dois hinos, algo
como: "Quando surge o tricolor
paulista, amado clube alviverde...".
Depois, abriu os olhos e disse:
"Sou Luizinho Mesquita, muito
prazer".
"Senhor Luizinho, eu li que o senhor fez mais gols que o Garrincha. É isso mesmo?"
"É a pura verdade. E olhe que
naquele tempo se jogava muito
menos. No Palestra Itália, por
exemplo, eu fiquei cinco anos e
meio e só fiz 163 partidas. Mesmo
assim, marquei 123 gols."
"Parece que sua saída de lá foi
complicada."
"Ganhei dois Paulistas pelo Palestra, mas, em 41, me desentendi
com a diretoria. Eu era advogado,
então fui na Justiça e consegui o
direito de ir jogar no São Paulo. E
isso foi bem antes da Lei Bosman
e da Gislaine Nunes."
"E como foi sua carreira no São
Paulo?"
"Marquei 145 gols e fui campeão paulista em 43, 45 e 46. E em
44, com 33 anos, fui artilheiro
com 22 gols."
"Parece que houve um jogo pelo
São Paulo em que..."
"Já sei, já sei. Você quer que eu
fale da decisão de 42. Bom foi o
seguinte, para sermos campeões,
tínhamos que vencer o Palestra,
que naquele jogo tinha entrado
em campo com a bandeira brasileira e com um novo nome: Palmeiras. Só que o juiz roubou tanto para eles que eu mandei o time
sair de campo. Aí o Palestra, digo,
o Palmeiras, foi campeão."
"E como foi sua carreira na seleção brasileira?"
"Fiz 18 partidas e marquei cinco
gols. Participei da Copa de 34, na
Itália, e da de 38, quando ficamos
em terceiro. Mas quem lembra de
um terceiro lugar?"
"Pois é, por que, com tantos gols
e títulos, o senhor é pouco lembrado hoje em dia?"
"Meu rapaz, eu sei que fui um
grande ponta, mas, para sobreviver ao tempo, não basta ser bom.
É preciso ligar o nome a algo
grande. Talvez se eu tivesse ganho
uma Copa ou jogado num só clube, eu fosse mais lembrado. Pelo
menos essa sua entrevista vai fazer com que algumas pessoas saibam que eu existi. Por isso, dê
uma boa gorjeta para o Zé Cabala. Ele merece."
Patesko
Luizinho foi o ponta-direita da
seleção em 34 e 38. Na ponta-esquerda, ficava Patesko, o único estrangeiro a vestir a camisa
da seleção em jogos de Copa.
Ele nasceu na Polônia e seu nome era Rodolfo Barteczko. Patesko disputou 34 jogos (22 oficiais) pelo Brasil e fez 11 gols (8
oficiais). Jogou no Botafogo
(fez mais de cem gols e sagrou-se campeão estadual em 35), no
Grêmio e no Nacional (URU).
Globalização
Os outros estrangeiros que já
jogaram pela seleção brasileira
adulta são: Francisco Police,
um italiano que participou de
um amistoso em 1918, o inglês
Sidney Pullen, que fez cinco jogos entre 1916 e 1917, e o goleiro
português Casemiro do Amaral, que defendeu a seleção em
seis jogos e tomou 14 gols.
E-mail torero@uol.com.br
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