São Paulo, segunda-feira, 20 de abril de 2009

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Juventus e Nacional vão juntos ao fundo do poço

Pequenos são rebaixados para séries onde nunca estiveram na era profissional

Diretoria da Mooca quer abrir as portas do clube para parceiros, enquanto rival diz que se livrou de "droga" agora ao vetar empresários

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O fundo do poço, em suas longas histórias, os une. A fórmula para sair dele, os separa.
Juventus e Nacional, os mais tradicionais clubes pequenos paulistanos, foram rebaixados na semana passada para divisões onde nunca estiveram antes na era profissional do futebol brasileira, iniciada em 1933.
O clube da Mooca caiu para a terceira divisão pela primeira vez -se despediu da Série A-2 ontem com novos protestos da torcida na Rua Javari, que foi palco de atos violentos nesta temporada. A equipe da Comendador Souza foi rebaixada para a quarta e última divisão do futebol paulista.
Histórias tristes, com explicações e sonhos diferentes para voltar aos bons tempos.
O Juventus se queixa da falta de parceiros no seu futebol. O Nacional quer distância deles.
"Eu passei quatro, cinco anos viciado numa droga. Agora estou limpo. Não quero nunca mais saber de empresários", diz Ayrton Franco Santiago, o presidente do Nacional, apontando as parcerias que o clube fez nos últimos anos, que levaram o time da segunda divisão, onde estava em 2007, para a quarta, onde estará no ano que vem.
Queda meteórica também teve o Juventus. No ano passado, o clube estava na elite. Agora, é um time de terceira divisão que sonha em driblar o rígido estatuto do clube e levar para lá gente interessada em investir no futebol. "Temos que abrir as portas do clube para quem quer investir e ganhar dinheiro", fala Armando Raucci, o presidente da equipe da zona leste.
As derrocadas de Juventus e Nacional têm capítulos, no mínimo, inusitados.
Para explicar a péssima campanha na terceira divisão deste ano -só venceu 3 dos 18 jogos que fez até agora- e também justificar sua aversão a empresários e parceiros, Santiago, o presidente, conta o que aconteceu com o time do Nacional.
"No ano passado, recebemos uma proposta de uma parceria que tinha o aval de alguém muito importante [ele não cita os nomes]. Montamos um time forte, baseado no dinheiro que iríamos receber. Fizemos até pré-temporada. Mas chegou janeiro e nada de dinheiro. O mesmo em fevereiro. Aí mandei todo mundo embora, no meio do campeonato, ficando só com a garotada", explica.
O Juventus se queixa do que aconteceu entre 2006 e 2008, quando estava na primeira divisão do futebol paulista.
"Existia uma lei [mudada agora pelo prefeito Gilberto Kassab] que acabava com a isenção de IPTU aos clubes que estavam na primeira divisão. Assim, tivemos que gastar R$ 1,2 milhão por ano com o imposto", diz o presidente Raucci, que tem R$ 100 mil mensais para gastar com o futebol, ou cerca de 10% das receitas do clube, que tem a parte social como ponto forte. Diz que teve pouco dinheiro, mas também atribui ao "azar" o fato de o time cair pelo segundo ano seguido.
O técnico do time, Nelsinho, lateral do São Paulo e da seleção brasileira na década de 80, foi contratado no meio da competição. Diz que em nenhum momento os salários ficaram atrasados. Mas aponta erros.
"A coisa não foi bem estruturada no início. E depois fica difícil correr atrás." No fundo do poço com seus clubes, Santiago e Raucci nem pensam em acabar com o futebol e vender seus acanhados estádios, localizados em áreas valorizadas e desejados por construtoras.
"Nem podemos vender o campo por nosso estatuto. E nunca vou acabar com o futebol", diz Santiago. "O Juventus nasceu com o futebol. Vamos continuar com ele", promete o juventino Raucci.

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