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Para Blatter, Brasil perde Copa-14 só para si mesmo
Ciente da violência em SP, presidente da Fifa afirma que basta ao país
cumprir lista de encargos, que envolve segurança, para ter o Mundial
PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE
O Brasil só precisa fazer a lição
de casa para receber a Copa do
Mundo de 2014. E isso passa por
garantir a segurança e evitar que
casos como a onda de violência
que assola São Paulo se repita.
Quem afirma isso é Joseph Blatter, o presidente da Fifa, que deu
ontem entrevista para alguns jornais, incluindo a Folha, na sede da
entidade, na Suíça.
"Ficou decidido que, pelo rodízio, a Copa de 2014 será na América do Sul. Recebi comunicado da
Conmebol [a Confederação Sul-Americana de Futebol] dizendo
que todos os países da região estão de acordo que o Brasil seja a
sede. Assim, em 2008, quando será decidido o assunto, o Brasil será escolhido se cumprir o caderno
de encargos, que é exatamente o
mesmo que foi usado para a escolha de 2010 [África do Sul]", afirmou Blatter, que, pelo menos no
discurso, acaba com a possibilidade de o Canadá também postular
sua candidatura para 2014.
Questionado a respeito da matança de policiais e o revide do crime organizado que vigoram em
São Paulo, o cartola afirmou
acompanhar o caso de perto.
"É uma atrocidade, como outras que acontecem atualmente."
Depois, não deixou claro se isso
poderia atrapalhar o Brasil, mas
frisou que a segurança é um dos
pontos decisivos na escolha do
país-sede de um Mundial.
"A segurança é muito importante, mas não é assunto da Fifa.
Os governos anfitriões é que são
responsáveis por ela", resumiu
Blatter, lembrando que a Alemanha precisou garantir a segurança
na sua candidatura para a competição que começa em 9 de junho.
O cartola suíço foi evasivo se,
caso seja mantida a situação atual,
o Brasil poderá organizar um
Mundial, que hoje tem seleções de
32 países na disputa e recebe milhares de turistas. "Não sou um
profeta. A Copa do Mundo na
América do Sul será só em 2014."
No caderno de encargos, o item
segurança tem destaque. São feitas exigências que vão desde a
confecção de ingressos nominais
até todo o aparato e infra-estrutura no entorno dos estádios.
Blatter teceu outros comentários sobre as chances brasileiras
para 2014. Disse que recebeu uma
carta da federação chilena negando que o país, um oásis de crescimento contínuo na penúria sul-americana, tenha o desejo de
competir com o Brasil.
E também voltou a afirmar que
na sua gestão não será permitida a
escolha de duas sedes, como
aconteceu em 2002 com Coréia
do Sul e Japão.
Questionado sobre o Maracanã,
ele fugiu do assunto quando questionado se o local deveria estar na
lista dos estádios que serão utilizados. "Isso vai estar definido na
proposta dos brasileiros", afirmou o presidente da Fifa.
O governo Lula, que reduziu os
investimentos em segurança, já
sinalizou que vai apoiar a candidatura que será apresentada pela
Confederação Brasileira de Futebol. Pela agenda de Ricardo Teixeira, o presidente da entidade, a
prioridade atual é a construção e a
remodelação de estádios.
No poder desde 1989, Teixeira já
deixou claro que pretende continuar no cargo até que o Brasil volte a abrigar uma Copa, o que não
acontece há 56 anos -até hoje só
Itália, França, México e, agora,
Alemanha tiveram o privilégio de
abrigar o Mundial em mais de
uma oportunidade.
Uma Copa no território nacional, o que daria à seleção brasileira mais chances de ganhar a taça e
aumentar ainda mais o seu domínio dos últimos anos, não assusta
Blatter por esse prisma.
"O Brasil tem méritos, e a sua
popularidade é boa", concluiu o
cartola, que fez troça quando lembrado que a supremacia brasileira
pode causar algo parecido à monotonia da principal categoria do
automobilismo nos tempos áureos do piloto alemão Michael
Schumacher. "Não compare o circo da F-1 com a Copa."
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