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quem manda?
Dívidas submetem clubes aos credores
Balanços mostram futebol refém de TV, federações e agentes de jogadores
Grandes times brasileiros vivem à base de favores, papagaios e antecipação de receitas; cartolas admitem fragilidade em negociações
RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Dez dos maiores clubes do
país devem R$ 1,344 bilhão. Se
o valor assusta, pior é o que ele
significa na prática: uma incômoda dependência em relação
à TV, à CBF, às federações e até
a empresários de jogadores.
Isso é o que mostra levantamento feito pela Folha nas
contas de Atlético-MG, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Palmeiras,
Santos, São Paulo e Vasco.
Dirigentes admitem que a situação os deixa acuados. Novos
negócios ficam prejudicados, e
as receitas não crescem, em um
círculo vicioso que se traduz
em clubes mal administrados.
O ciclo começa pelo caixa vazio. A primeira opção dos cartolas é pedir adiantamentos à
Globo, que detém a maior parte
dos direitos de TV no país. Há
também o apelo aos patrocinadores. Até o final de 2006, os
dez times tinham recebido antecipadamente cerca de R$ 150
milhões dessa forma.
Por contrato, a emissora
adiantou R$ 43 milhões do
Brasileiro-2007 antes de a
temporada começar. Só que,
por intermédio de federações
ou do Clube dos 13, os clubes
acabaram captando bem mais.
Oficialmente, o C13 nega que
adiantamentos possam interferir, por exemplo, na renovação contratual com a Globo -a
Record tenta tomar o campeonato a partir de 2009. Nos bastidores, porém, cartolas admitem que a emissora carioca fica
mais forte na hora de discutir.
"A pendência financeira gera
uma posição de fraqueza em
qualquer negociação", afirma o
vice de finanças do Corinthians, Emerson Piovezan.
Entre os corintianos, as antecipações de rendas geram dependência com a Federação
Paulista de Futebol, que emprestou R$ 7,9 milhões ao clube. Efeito colateral: complacência com arbitragens e com
os contratos do Estadual. E não
chia também com a CBF, a
quem deve R$ 1,5 milhão.
No Flamengo, o presidente,
Márcio Braga, critica a confederação, que rebate dizendo
que lhe emprestou R$ 2,5 milhões. Braga anda às turras com
a federação do Rio, que usa repasses de TV para pressionar.
No total, confederações e federações são credoras de pelo
menos R$ 24,5 milhões das dívidas dos clubes, o que explica
em parte reeleições obtidas por
unanimidade, como as que
ocorreram nos últimos pleitos
de São Paulo, Rio e CBF.
"Precisa ver se o presidente
do time sente-se inferiorizado.
Às vezes, quem sente isso é um
diretor", diz Rogério Caboclo,
presidente em exercício da
FPF -o titular, Marco Polo Del
Nero, em viagem, não pôde
atender à reportagem.
No Palmeiras, que deve R$ 12
milhões à federação, o diretor
de planejamento Luiz Gonzaga
Belluzzo tenta evitar antecipações. Recorreu a bancos. "Foi
uma forma de ganhar fôlego."
Seu clube tenta quitar débitos com atletas. Nos dez times,
incluindo pendências com empresários, esse total chega a R$
118 milhões, fora processos judiciais. O Santos, por exemplo,
deve R$ 1,4 milhão a time e empresa ligados a Juan Figer, representante de Cléber Santana
e Zé Roberto, com quem terá
difícil negociação em junho.
Como os outros, os santistas
somam ainda débitos bancários -nos dez clubes, são R$
87,5 milhões. No Atlético-MG,
as dívidas com bancos somadas
às com instituições não-financeiras chegam a R$ 81,2 milhões, boa parte avalizada pelo
ex-presidente Ricardo Guimarães. Alguns débitos eram com
seu banco, o BMG -o balanço
não diz se foram quitados.
No Vasco, só a dívida com a
Globo é de R$ 53,3 milhões.
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