São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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quem manda?

Dívidas submetem clubes aos credores

Balanços mostram futebol refém de TV, federações e agentes de jogadores

Grandes times brasileiros vivem à base de favores, papagaios e antecipação de receitas; cartolas admitem fragilidade em negociações


RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez dos maiores clubes do país devem R$ 1,344 bilhão. Se o valor assusta, pior é o que ele significa na prática: uma incômoda dependência em relação à TV, à CBF, às federações e até a empresários de jogadores.
Isso é o que mostra levantamento feito pela Folha nas contas de Atlético-MG, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco.
Dirigentes admitem que a situação os deixa acuados. Novos negócios ficam prejudicados, e as receitas não crescem, em um círculo vicioso que se traduz em clubes mal administrados.
O ciclo começa pelo caixa vazio. A primeira opção dos cartolas é pedir adiantamentos à Globo, que detém a maior parte dos direitos de TV no país. Há também o apelo aos patrocinadores. Até o final de 2006, os dez times tinham recebido antecipadamente cerca de R$ 150 milhões dessa forma.
Por contrato, a emissora adiantou R$ 43 milhões do Brasileiro-2007 antes de a temporada começar. Só que, por intermédio de federações ou do Clube dos 13, os clubes acabaram captando bem mais.
Oficialmente, o C13 nega que adiantamentos possam interferir, por exemplo, na renovação contratual com a Globo -a Record tenta tomar o campeonato a partir de 2009. Nos bastidores, porém, cartolas admitem que a emissora carioca fica mais forte na hora de discutir.
"A pendência financeira gera uma posição de fraqueza em qualquer negociação", afirma o vice de finanças do Corinthians, Emerson Piovezan.
Entre os corintianos, as antecipações de rendas geram dependência com a Federação Paulista de Futebol, que emprestou R$ 7,9 milhões ao clube. Efeito colateral: complacência com arbitragens e com os contratos do Estadual. E não chia também com a CBF, a quem deve R$ 1,5 milhão.
No Flamengo, o presidente, Márcio Braga, critica a confederação, que rebate dizendo que lhe emprestou R$ 2,5 milhões. Braga anda às turras com a federação do Rio, que usa repasses de TV para pressionar.
No total, confederações e federações são credoras de pelo menos R$ 24,5 milhões das dívidas dos clubes, o que explica em parte reeleições obtidas por unanimidade, como as que ocorreram nos últimos pleitos de São Paulo, Rio e CBF.
"Precisa ver se o presidente do time sente-se inferiorizado. Às vezes, quem sente isso é um diretor", diz Rogério Caboclo, presidente em exercício da FPF -o titular, Marco Polo Del Nero, em viagem, não pôde atender à reportagem.
No Palmeiras, que deve R$ 12 milhões à federação, o diretor de planejamento Luiz Gonzaga Belluzzo tenta evitar antecipações. Recorreu a bancos. "Foi uma forma de ganhar fôlego."
Seu clube tenta quitar débitos com atletas. Nos dez times, incluindo pendências com empresários, esse total chega a R$ 118 milhões, fora processos judiciais. O Santos, por exemplo, deve R$ 1,4 milhão a time e empresa ligados a Juan Figer, representante de Cléber Santana e Zé Roberto, com quem terá difícil negociação em junho.
Como os outros, os santistas somam ainda débitos bancários -nos dez clubes, são R$ 87,5 milhões. No Atlético-MG, as dívidas com bancos somadas às com instituições não-financeiras chegam a R$ 81,2 milhões, boa parte avalizada pelo ex-presidente Ricardo Guimarães. Alguns débitos eram com seu banco, o BMG -o balanço não diz se foram quitados.
No Vasco, só a dívida com a Globo é de R$ 53,3 milhões.


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