São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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Ministro vê síndrome de vira-lata do TCU

Orlando Silva Júnior, titular do Esporte, critica relator do tribunal por ter dito que obras do Pan são exageradas para Jogos

Membro do governo fala em "acompanhamento on-line" dos preparativos e pede mesmo procedimento para todas as áreas do governo


RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

O ministro Orlando Silva Júnior, do Esporte, responde em um tom próximo da ironia e do desafio ao Tribunal de Contas da União, que critica sua pasta no último relatório sobre o Pan.
Em entrevista à Folha, o ministro sugere que o órgão seja tão minucioso também ao investigar ações dos outros ministérios. Sempre lembrando respeitar o TCU como um parceiro, ele insinua que Marcos Vinicios Vilaça, autor do relatório, pensou pequeno ao sacramentar que as obras do Pan são exageradas para o evento.
"É importante esse acompanhamento em tempo real, on-line, do TCU. Todos os projetos, em todas as áreas, deveriam ser acompanhados assim. Essa experiência que o Pan tem gerado poderia ser estendida a todos os setores", disse Silva Jr.
A afirmação dá a entender que o ministro vê exagero no monitoramento. Ele nega. "Jamais vou achar exagerado um trabalho que nos ajuda."
O relatório divulgado por Vilaça na última quarta-feira foi o mais duro em relação ao Ministério do Esporte.
Porém o item que provoca uma das reações mais indignadas de Silva Jr. é o de que bastavam arenas mais modestas, já existentes no Rio. "Temos que acabar com nossa síndrome de vira-lata [inferioridade]. Não podemos nos conformar com instalações acanhadas, não podemos passar a vergonha de chover no ginásio", rebateu.
O episódio vexaminoso a que se refere é o do Mundial feminino de basquete em São Paulo, em 2006. Goteiras no Ibirapuera atrapalharam o torneio.
Para justificar o que Vilaça considera megalomania, o ministro diz que a intenção foi capacitar o Brasil para participar do circuito internacional de competições importantes.
Só o fato de o TCU apontar que há o risco de algumas instalações não estarem prontas a tempo para a abertura parece incomodar mais o ministro.
"Prefiro conversar sobre isso no dia 13 de julho [data da abertura dos Jogos]. Vamos ver." Em seguida, completou: "Anote aí, todas as obras estarão prontas com muito sucesso".
A declaração contraria o relatório, que vê risco de algumas instalações serem finalizadas com tamanho improviso a ponto de serem recusadas pelas federações internacionais. Outro golpe no ministro, pois Vilaça encaixa nessa situação o Complexo de Deodoro, sob responsabilidade do governo federal.
Diz que um atraso na importação do piso para a pista em que serão disputadas provas de hipismo pode impedir a homologação pela federação internacional. Isso porque será utilizado material nacional.
O ministro do Esporte contesta dizendo que foi feita a opção pelo piso nacional por ser mais barato. E que a federação já aprovou a escolha.
Em crítica mais direta ainda ao Esporte, Vilaça diz ser curioso notar que a pasta, queixosa da dificuldade de obter dados da prefeitura e do governo estadual do Rio, não fornece informações sobre a única obra sob sua responsabilidade direta. A resposta: "Prestamos todas as informações, às vezes o tempo é curto, e solicitamos mais. Não é por falta de tempo que vamos deixar de cumprir com as nossas obrigações".
Ao ser questionado se concordava com as críticas feitas pelo tribunal de contas à prefeitura e ao governo estadual, o ministro saiu-se com essa: "Não sou pago para criticar".
E, ao comentar a citada falta de harmonia entre os governos, Silva Jr. relembrou os problemas de relacionamento que teve, principalmente com o prefeito Cesar Maia. Mas ao seu estilo, sem citar nomes. "Não foram poucas as vezes em que fomos gentis com quem não nos ofereceu gentileza. Fizemos de tudo pela harmonia."


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