São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002

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Mera coincidência

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Banks defende cabeçada de Pelé na partida entre Brasil e Inglaterra na Copa de 1970


A seleção brasileira chega à Copa desacreditada, com sua escalação contestada e vaiada pela torcida e um técnico taxado de retranqueiro. Mesmo repleta de craques e já uma potência do futebol mundial, não inspira confiança nos brasileiros, com sua defesa frágil e uma formação que é uma incógnita antes da estréia e até mesmo durante a competição. Aí aparece a Inglaterra no meio do caminho. É o Brasil de 2002. E é, ao mesmo tempo, o Brasil de 1970.

DOS ENVIADOS A HAMAMATSU

As semelhanças vão além. Naquele distante 1970, dois técnicos, João Saldanha e Zagallo, tiveram a pachorra de questionar a importância de Pelé para a seleção, assim como Romário foi ignorado por Luiz Felipe Scolari.
Pelé foi ao Mundial, e o resto da história todo o mundo conhece. Romário ficou no Brasil, e quase não se fala mais nele depois dos 13 gols em quatro partidas na Coréia do Sul e no Japão.
Um renascido Ronaldo e um onipresente Rivaldo fazem hoje a função que Pelé dividiu com Tostão, Jairzinho e Rivellino nos campos do México, transformando aquela na mais lendária equipe brasileira de todos os tempos -algo que nem as coincidências serão capazes de aproximá-la do time de Scolari.
Mas os astros da atual seleção brasileira também podem fazer história no Mundial.
Ronaldo e Rivaldo fizeram gols em todos os quatro jogos desta Copa e, se mantiverem a escrita no caso de o Brasil ir à final, igualarão a marca de Jairzinho, que em 70 marcou nas seis partidas do time nacional, inclusive o gol solitário da vitória sobre os ingleses.
Ronaldo pode ir além: com mais três gols, iguala o recorde de Pelé, maior artilheiro brasileiro da história das Copas.
Campeã mundial, a Inglaterra de 70 não era tão parecida com a seleção hoje dirigida pelo sueco Sven Goran Eriksson. Ainda era a pátria do chuveirinho e das defesas herméticas, tanto que seu grande destaque no Mundial foi o goleiro Gordon Banks, que entrou para a história ao pegar uma cabeçada fulminante de Pelé, naquela que é até hoje considerada por muitos como a maior defesa de todos os tempos.
Além disso tinha o meio-campista e capitão Bobby Charlton, que protagonizou com Pelé, naquela mesma partida, outra cena histórica, ao trocar sua camisa com a do brasileiro -momento citado como inesquecível pelo astro inglês de hoje, Beckham.
O leque de jogadores britânicos habilidosos aumentou consideravelmente nesses 32 anos, e Beckham tem hoje ao seu lado figuras como Scholes e Owen.
O último, apesar da pouca idade, 22 anos, também diz ter aquela partida como referência de clássico do futebol mundial.
A aplicação tática dos ingleses, aliada à sua força física e à organização, tornou a partida no estádio Jalisco, em Guadalajara cautelosa e truncada no primeiro tempo, sem esconder, no entanto, a qualidade dos dois times.
Na segunda etapa, a Inglaterra foi para a defesa. E Tostão, quando já sabia que seria substituído por Roberto Miranda, fez uma jogada genial, driblando três adversários e tocando para Pelé, que só rolou para Jairzinho, na ponta direita, fuzilar Banks e definir o apertado placar do jogo.
Mesmo com tantas tintas épicas, a partida, a segunda de brasileiros e ingleses no Mundial do México e considerada por analistas uma das melhores da história das Copas, é tratada pelos atletas nacionais com uma reação oposta à dos britânicos.
Aquele confronto é ignorado por grande parte da atual seleção brasileira. "Nem sabia que tinha tido esse jogo em 70", afirmou ontem o goleiro Marcos.
"O que conheço é muito pouco, até porque nem era nascido. Só sei que foi um jogo histórico", disse Ronaldinho. (FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG E SÉRGIO RANGEL)



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