São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002
 |
 |
|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SONINHA Análise racional x pensamento mágico
Uma análise racional de Brasil x Inglaterra começa com a avaliação dos pontos fortes e fracos das duas seleções. O Brasil vai enfrentar uma defesa muito organizada, com jogadores excelentes. A Argentina começou a recorrer ao "chuveirinho" depois que Ferdinand, Campbell, Mills e Cole inviabilizaram todas as tentativas de jogadas pelo chão... Várias vezes os atacantes argentinos tiveram a bola tirada dos seus pés, com a maior frieza. Pelo alto, os ingleses também são bons. E o trabalho de defesa começa bem antes, com Butt, Sinclair, o ótimo Scholes e o aplicado Beckham (sim, além de craque, ele é muito "aplicado", termo que costuma descrever um jogador esforçado, porém mediano). Quando a Inglaterra ataca, a visão de Scholes é decisiva, e a precisão de Beckham é fundamental. O surpreendente Sinclair pode abrir espaços driblando em velocidade (ele se divertiu nas costas de Zanetti) e o habilidoso Owen, leve e destemido, é um colírio (contra outras seleções...). Só Heskey não me preocupa muito. A defesa do Brasil tem clarões imensos e os jogadores ainda mostram insegurança em relação ao papel de cada um (quem sai? quem cobre?), além de perderem muitos duelos individuais. O meio-campo é vulnerável e ao mesmo tempo pouco criativo. Mas temos dois laterais que, estejam como estiverem, impõem respeito (é impossível considerá-los parte do meio-campo -nem Luiz Felipe o faz), e nossos atacantes são excepcionais. Há um problema criado por nós mesmos: Ronaldo fica muito isolado e Rivaldo, quando recua demais, ganha defeitos e perde qualidades. É fácil desarmá-lo longe do gol. Quem leva vantagem? Os ingleses são melhores taticamente, sem dúvida, mas o talento e o estado emocional vão fazer a diferença. Um craque inseguro pode errar todas as finalizações; um jogador mediano e confiante pode fazer uma partida impecável. Mas há quem abandone a racionalidade e se fie em um "pensamento mágico". Somos favoritos porque Itália, Argentina e França já caíram, então "só sobrou o Brasil" (a Alemanha "fica para a final"). Como a seleção passou vários sufocos e só venceu, "está pronta para qualquer coisa". O uniforme azul "dá sorte" e "quando vencemos a Inglaterra, fomos campeões". Rumo ao penta, Brasil! Que a torcida se alimente de pensamento mágico, tudo bem. Meu medo é Felipão acreditar nisso. soninha.folha@uol.com.br Texto Anterior: José Roberto Torero: 2002, a Copa de Fulano de Tal Próximo Texto: José Geraldo Couto: Brasil tende a crescer diante dos ingleses Índice |
|
|