São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 2006

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"Matadores de vacas" miram alemães

Embalado por livro de cabeceira do técnico Luis Suárez, Equador tenta façanha de ficar à frente da anfitriã da Copa

Treinador distribuiu a obra colombiana "La Vaca" para os jogadores e usou enredo para estimular seleção a ser mais ambiciosa no Mundial


GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Não é a classificação para os mata-matas, tampouco a possibilidade de conseguir hoje, contra a Alemanha, o primeiro lugar do Grupo A na Copa. O que realmente alegra Luis Fernando Suárez é saber que os atletas equatorianos mataram vacas.
Ele não festeja um extermínio. Nenhum animal de carne e osso acabou aniquilado. O que caiu por terra foram o conformismo e a falta de atitude que o técnico julgava impedir seus atletas de voar alto no torneio mais badalado do futebol.
Antes da Copa, Suárez comprou 40 exemplares do livro "La Vaca", escrito por seu compatriota, o empresário colombiano Camilo Cruz, e entregou a todos os membros da seleção.
O enredo da obra, que já vendeu mais de 265 mil exemplares, é simples. Uma família criava uma vaca e vivia do leite produzido. Certo dia, o animal morreu. Os proprietários, então, precisaram arriscar, buscar novas formas de sobrevivência. A partir daí, construíram uma vida mais afortunada do que a que levavam anteriormente.
"Às vezes ficamos presos a algumas limitações e nos conformamos. Estas são nossas vacas. Nossa seleção tinha várias", explicou Suárez à Folha.
Ele acredita que o complexo de vira-latas do país está superado. Cita como exemplo seus atletas recebendo propostas de clubes grandes e chamando atenção pelo desempenho no Mundial -até aqui, duas vitórias, cinco gols feitos, nenhum sofrido. "Ninguém respeitava o Equador no futebol. Viemos dispostos a mudar isso."
Suárez já pode dizer que conseguiu. Ontem, em Berlim, jornalistas de todo o mundo buscavam entender o segredo de uma equipe que participou de apenas uma edição de Copa -em 2002, 24º lugar- e agora é capaz de ameaçar até a tricampeã Alemanha.
Respostas não estão só nas vacas que o técnico diz ter eliminado com a obra que colocou na cabeceira dos jogadores.
Suárez, 47, exibe uma metodologia inusitada para a profissão. Além dos textos de Camilo Cruz, utiliza composições próprias para motivar jogadores.
Os membros de sua seleção, contudo, não são os únicos que podem ter acesso às criações literárias. Tudo o que Suárez produz vai para seu site pessoal (www.luisfernandosua rez.com). Num dos últimos ensaios, discute a questão do acaso. Pergunta a si próprio se o momento do seu time na Copa não seria obra do destino.
Depois, ele mesmo replica: "Nós é que fazemos o destino, porque o que acontece hoje é o que os jogadores desta equipe lutaram para conseguir".
Parece o discurso de quem já se dá por satisfeito. Suárez assegura que não. Pretende provocar mais surpresas. E exibe outra carta na manga.
Chamou um alpinista que escalou o Everest para dar palestras. Quer ensinar como sobreviver em situações difíceis.
"Jogaremos contra Suécia ou Inglaterra na próxima fase. Nossa equipe tem dificuldade para atuar contra europeus. Será muito complicado."
Mesmo em caso de eliminação, os holofotes que conseguiu podem assegurar futuro promissor. Ex-jogador mediano, Suárez não renovou contrato com o Equador. Afirmou que sonha comandar o Milan. Sinal de que vai se livrar de suas "vacas" e tentar algo maior? "Vamos falar de Copa", despista.


NA TV - Equador x Alemanha Globo, Bandsports, ESPN Brasil, Sportv e Directv, ao vivo, às 11h

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