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"Matadores de vacas" miram alemães
Embalado por livro de cabeceira do técnico Luis Suárez, Equador tenta façanha de ficar à frente da anfitriã da Copa
Treinador distribuiu a obra colombiana "La Vaca" para os jogadores e usou enredo para estimular seleção a ser mais ambiciosa no Mundial
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Não é a classificação para os
mata-matas, tampouco a possibilidade de conseguir hoje, contra a Alemanha, o primeiro lugar do Grupo A na Copa. O que
realmente alegra Luis Fernando Suárez é saber que os atletas
equatorianos mataram vacas.
Ele não festeja um extermínio. Nenhum animal de carne e
osso acabou aniquilado. O que
caiu por terra foram o conformismo e a falta de atitude que o
técnico julgava impedir seus
atletas de voar alto no torneio
mais badalado do futebol.
Antes da Copa, Suárez comprou 40 exemplares do livro
"La Vaca", escrito por seu compatriota, o empresário colombiano Camilo Cruz, e entregou
a todos os membros da seleção.
O enredo da obra, que já vendeu mais de 265 mil exemplares, é simples. Uma família
criava uma vaca e vivia do leite
produzido. Certo dia, o animal
morreu. Os proprietários, então, precisaram arriscar, buscar
novas formas de sobrevivência.
A partir daí, construíram uma
vida mais afortunada do que a
que levavam anteriormente.
"Às vezes ficamos presos a algumas limitações e nos conformamos. Estas são nossas vacas.
Nossa seleção tinha várias", explicou Suárez à Folha.
Ele acredita que o complexo
de vira-latas do país está superado. Cita como exemplo seus
atletas recebendo propostas de
clubes grandes e chamando
atenção pelo desempenho no
Mundial -até aqui, duas vitórias, cinco gols feitos, nenhum
sofrido. "Ninguém respeitava o
Equador no futebol. Viemos
dispostos a mudar isso."
Suárez já pode dizer que conseguiu. Ontem, em Berlim, jornalistas de todo o mundo buscavam entender o segredo de
uma equipe que participou de
apenas uma edição de Copa
-em 2002, 24º lugar- e agora
é capaz de ameaçar até a tricampeã Alemanha.
Respostas não estão só nas
vacas que o técnico diz ter eliminado com a obra que colocou na cabeceira dos jogadores.
Suárez, 47, exibe uma metodologia inusitada para a profissão. Além dos textos de Camilo
Cruz, utiliza composições próprias para motivar jogadores.
Os membros de sua seleção,
contudo, não são os únicos que
podem ter acesso às criações literárias. Tudo o que Suárez
produz vai para seu site pessoal
(www.luisfernandosua
rez.com). Num dos últimos
ensaios, discute a questão do
acaso. Pergunta a si próprio se
o momento do seu time na Copa não seria obra do destino.
Depois, ele mesmo replica:
"Nós é que fazemos o destino,
porque o que acontece hoje é o
que os jogadores desta equipe
lutaram para conseguir".
Parece o discurso de quem já
se dá por satisfeito. Suárez assegura que não. Pretende provocar mais surpresas. E exibe
outra carta na manga.
Chamou um alpinista que escalou o Everest para dar palestras. Quer ensinar como sobreviver em situações difíceis.
"Jogaremos contra Suécia ou
Inglaterra na próxima fase.
Nossa equipe tem dificuldade
para atuar contra europeus. Será muito complicado."
Mesmo em caso de eliminação, os holofotes que conseguiu
podem assegurar futuro promissor. Ex-jogador mediano,
Suárez não renovou contrato
com o Equador. Afirmou que
sonha comandar o Milan. Sinal
de que vai se livrar de suas "vacas" e tentar algo maior? "Vamos falar de Copa", despista.
NA TV - Equador x Alemanha
Globo, Bandsports, ESPN Brasil,
Sportv e Directv, ao vivo, às 11h
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