São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Falta o luxo

BEM FEITAS as contas, a maior decepção brasileira nesta Copa não é Ronaldo, mas Ronaldinho. Se o foco está sobre Ronaldo, trata-se mais de um fenômeno extracampo: ele não é só um jogador de futebol, mas uma celebridade. E o voyeurismo da vida moderna exige lupa sobre celebridades. No campo, no entanto, Ronaldo vem de uma temporada medíocre, ao passo que Ronaldinho vivia seu melhor momento, como campeão espanhol e europeu, pelo Barça, e como melhor jogador do mundo.
O que está acontecendo com ele na Alemanha? Primeiro, creio que há um problema comportamental. No Barça, ninguém discute que Ronaldinho é o primeiro entre iguais. Nem a torcida nem a comissão técnica nem os companheiros. Na seleção brasileira, só Pelé conseguiu essa posição. Há estrelas demais, falsas estrelas e quase estrelas para que Ronaldinho possa se sentir o dono da bola e, nessa condição, arriscar-se a individualismos sem receio de uma reclamação do banco ou dos outros jogadores. Mais: no Barça, Ronaldinho é um atacante que também cria jogadas, fato que Tostão cansou de explicar em sua coluna. Além disso, conta com o apoio de outros criadores (Deco, principalmente, mas também Xavi, Iniesta e Van Bommel). Na seleção, não há meio-campistas de criação. Emerson não sabe fazê-lo e ainda está jogando mal, e Zé Roberto (que jogava, no seu clube, mais ou menos como Ronaldinho) parece perdido em campo.
Kaká, por sua parte, embora o menos apagado de todos os grandes astros, não encontra parceiros (às vezes, nem os busca). Nada disso seria um problema, se os homens de definição (Ronaldo e Adriano) estivessem bem. É só dar a bola para eles e pronto. Como mais ou menos aconteceu no primeiro gol contra a Austrália. Bola para Ronaldo que, incapaz de driblar o zagueiro, tocou de lado para Adriano que, em uma das duas únicas vezes em que venceu o beque, chutou para marcar.
Sem "matadores" ou com eles em má fase técnica, a armação é uma necessidade. Com "matadores" em forma, é um luxo. Pode-se esperar que Adriano e Ronaldo voltem a ser o que foram. Ou pode-se tentar Robinho em lugar de um dos dois ou Robinho e Fred no lugar de ambos.
Mais que vitórias, do Brasil espera-se o luxo.


crossi@uol.com.br

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