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CLÓVIS ROSSI
Falta o luxo
BEM FEITAS as contas,
a maior decepção
brasileira nesta Copa não é Ronaldo, mas Ronaldinho. Se o foco está sobre Ronaldo, trata-se mais
de um fenômeno extracampo: ele não é só um jogador de futebol, mas uma
celebridade. E o voyeurismo da vida moderna exige
lupa sobre celebridades.
No campo, no entanto,
Ronaldo vem de uma temporada medíocre, ao passo
que Ronaldinho vivia seu
melhor momento, como
campeão espanhol e europeu, pelo Barça, e como
melhor jogador do mundo.
O que está acontecendo
com ele na Alemanha? Primeiro, creio que há um
problema comportamental. No Barça, ninguém discute que Ronaldinho é o
primeiro entre iguais. Nem
a torcida nem a comissão
técnica nem os companheiros. Na seleção brasileira, só Pelé conseguiu essa posição. Há estrelas demais, falsas estrelas e quase
estrelas para que Ronaldinho possa se sentir o dono
da bola e, nessa condição,
arriscar-se a individualismos sem receio de uma reclamação do banco ou dos
outros jogadores.
Mais: no Barça, Ronaldinho é um atacante que
também cria jogadas, fato
que Tostão cansou de explicar em sua coluna. Além
disso, conta com o apoio de
outros criadores (Deco,
principalmente, mas também Xavi, Iniesta e Van
Bommel). Na seleção, não
há meio-campistas de criação. Emerson não sabe fazê-lo e ainda está jogando
mal, e Zé Roberto (que jogava, no seu clube, mais ou
menos como Ronaldinho)
parece perdido em campo.
Kaká, por sua parte, embora o menos apagado de
todos os grandes astros,
não encontra parceiros (às
vezes, nem os busca).
Nada disso seria um problema, se os homens de definição (Ronaldo e Adriano) estivessem bem. É só
dar a bola para eles e pronto. Como mais ou menos
aconteceu no primeiro gol
contra a Austrália. Bola para Ronaldo que, incapaz de
driblar o zagueiro, tocou de
lado para Adriano que, em
uma das duas únicas vezes
em que venceu o beque,
chutou para marcar.
Sem "matadores" ou
com eles em má fase técnica, a armação é uma necessidade. Com "matadores"
em forma, é um luxo.
Pode-se esperar que
Adriano e Ronaldo voltem
a ser o que foram. Ou pode-se tentar Robinho em lugar
de um dos dois ou Robinho
e Fred no lugar de ambos.
Mais que vitórias, do Brasil
espera-se o luxo.
crossi@uol.com.br
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