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Dunga vê conspiração e ataca aliados da CBF
Técnico atribui fiascos da seleção ao fato de ter imposto regras e desagradado
Treinador critica TV, público que rendeu R$ 6,6 mi no Mineirão e arbitragem, que é alvo da atenção de Ricardo Teixeira como vice da Fifa
DOS ENVIADOS A BELO HORIZONTE
Para Dunga, uma verdadeira
teoria da conspiração é o motivo dos maus resultados da sua
seleção brasileira, que não vence há três jogos, confrontos em
que também não marcou gols.
E os principais alvos do treinador, como mostrou em entrevista após o empate com a
Argentina em Belo Horizonte,
anteontem à noite, são aliados
do caixa da CBF e de seu presidente, Ricardo Teixeira.
Dunga reclamou da imprensa, com recado indireto para a
Rede Globo, do público que lotou o Mineirão e da arbitragem
do colombiano Oscar Ruiz.
Após o empate contra os argentinos, o treinador respondeu de forma ríspida à pergunta de um repórter da emissora e
deu recado. "Vim para fazer um
trabalho, e algumas pessoas
não estão contentes. Coloquei
regras, e alguns não gostaram
disso", disse o treinador, que se
referia ao veto de entrevistas
exclusivas e a restrições a montagem de grandes estruturas de
emissoras de TV nos locais de
treinos da seleção, fato corriqueiro para a Globo nos tempos
de Carlos Alberto Parreira.
A emissora tem os direitos de
transmissão de todos os amistosos da seleção e também dos
jogos da equipe em casa pelas
eliminatórias. Boa parte do dinheiro que gasta, na casa dos
milhões, vai para a CBF.
Após o pífio empate no Mineirão, o treinador reclamou
do comportamento da torcida,
que o chamou, entre outros
xingamentos, de "jumento".
Ao atacar o público, Dunga
depõe contra uma fonte de faturamento que passou a ser
mais rentável até do que os
amistosos da seleção no exterior. No Mineirão, a renda superou os R$ 6,6 milhões, ou
mais de US$ 4 milhões. Nos jogos amistosos na Europa ou
nos EUA, a cota da seleção está
em torno de US$ 1,2 milhão.
Além de Dunga, outros jogadores criticaram o comportamento da torcida. O meia Elano
disse que as vaias eram injustas. O lateral-esquerdo Gilberto se irritou com os aplausos
dos mineiros para o astro argentino Messi, que saiu ovacionado ao ser substituído já nos
minutos finais do clássico.
"Nós tivemos a nossa chance
de vencer no primeiro tempo.
Na outra eliminatória, ele [o árbitro] deu três pênaltis. Agora,
tivemos um e nada aconteceu.
O juiz truncou a partida, não
deixou o jogo correr. Queríamos que o jogo corresse mais",
falou Dunga sobre a atuação de
Ruiz, que apitou o jogo entre
Brasil e Argentina nas eliminatórias passada em casa, com
três gols de pênalti de Ronaldo.
Ao criticar a arbitragem,
Dunga toca em assunto que é
prioridade de Ricardo Teixeira.
O cartola é, há muitos anos, o
vice-presidente da Comissão
de Arbitragem da Fifa, e algumas vezes, como na Copa de
2002 (caso do jogo contra a
Bélgica), o Brasil já foi acusado
de favorecimento pelos juízes.
O treinador não terá tempo
para descansar de seu inferno
astral. Hoje, ele se apresenta
com o time olímpico para a preparação para o jogo contra uma
seleção do Rio de Janeiro, no
domingo, em Volta Redonda.
Depois da Olimpíada de Pequim, que será em agosto, a seleção volta a campo em setembro pelas eliminatórias da Copa
do Mundo da África do Sul. Enfrenta o Chile, em Santiago, e a
Bolívia, provavelmente no Rio.
(PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)
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