São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2008

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Dunga vê conspiração e ataca aliados da CBF

Técnico atribui fiascos da seleção ao fato de ter imposto regras e desagradado

Treinador critica TV, público que rendeu R$ 6,6 mi no Mineirão e arbitragem, que é alvo da atenção de Ricardo Teixeira como vice da Fifa

DOS ENVIADOS A BELO HORIZONTE

Para Dunga, uma verdadeira teoria da conspiração é o motivo dos maus resultados da sua seleção brasileira, que não vence há três jogos, confrontos em que também não marcou gols.
E os principais alvos do treinador, como mostrou em entrevista após o empate com a Argentina em Belo Horizonte, anteontem à noite, são aliados do caixa da CBF e de seu presidente, Ricardo Teixeira.
Dunga reclamou da imprensa, com recado indireto para a Rede Globo, do público que lotou o Mineirão e da arbitragem do colombiano Oscar Ruiz.
Após o empate contra os argentinos, o treinador respondeu de forma ríspida à pergunta de um repórter da emissora e deu recado. "Vim para fazer um trabalho, e algumas pessoas não estão contentes. Coloquei regras, e alguns não gostaram disso", disse o treinador, que se referia ao veto de entrevistas exclusivas e a restrições a montagem de grandes estruturas de emissoras de TV nos locais de treinos da seleção, fato corriqueiro para a Globo nos tempos de Carlos Alberto Parreira.
A emissora tem os direitos de transmissão de todos os amistosos da seleção e também dos jogos da equipe em casa pelas eliminatórias. Boa parte do dinheiro que gasta, na casa dos milhões, vai para a CBF.
Após o pífio empate no Mineirão, o treinador reclamou do comportamento da torcida, que o chamou, entre outros xingamentos, de "jumento".
Ao atacar o público, Dunga depõe contra uma fonte de faturamento que passou a ser mais rentável até do que os amistosos da seleção no exterior. No Mineirão, a renda superou os R$ 6,6 milhões, ou mais de US$ 4 milhões. Nos jogos amistosos na Europa ou nos EUA, a cota da seleção está em torno de US$ 1,2 milhão.
Além de Dunga, outros jogadores criticaram o comportamento da torcida. O meia Elano disse que as vaias eram injustas. O lateral-esquerdo Gilberto se irritou com os aplausos dos mineiros para o astro argentino Messi, que saiu ovacionado ao ser substituído já nos minutos finais do clássico.
"Nós tivemos a nossa chance de vencer no primeiro tempo. Na outra eliminatória, ele [o árbitro] deu três pênaltis. Agora, tivemos um e nada aconteceu. O juiz truncou a partida, não deixou o jogo correr. Queríamos que o jogo corresse mais", falou Dunga sobre a atuação de Ruiz, que apitou o jogo entre Brasil e Argentina nas eliminatórias passada em casa, com três gols de pênalti de Ronaldo.
Ao criticar a arbitragem, Dunga toca em assunto que é prioridade de Ricardo Teixeira. O cartola é, há muitos anos, o vice-presidente da Comissão de Arbitragem da Fifa, e algumas vezes, como na Copa de 2002 (caso do jogo contra a Bélgica), o Brasil já foi acusado de favorecimento pelos juízes.
O treinador não terá tempo para descansar de seu inferno astral. Hoje, ele se apresenta com o time olímpico para a preparação para o jogo contra uma seleção do Rio de Janeiro, no domingo, em Volta Redonda.
Depois da Olimpíada de Pequim, que será em agosto, a seleção volta a campo em setembro pelas eliminatórias da Copa do Mundo da África do Sul. Enfrenta o Chile, em Santiago, e a Bolívia, provavelmente no Rio.
(PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)


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