São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2008

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Pequim 2008 - A graça do esporte

Momento de solidão

O pênalti isola cobrador e goleiro do resto do time e faz graça no futebol

FABIO GRIJÓ
DA REPORTAGEM LOCAL

Onze metros de distância. Respiração, um fôlego a mais e o chute que pode ser derradeiro. Para dentro do gol.
O pênalti isola o jogador do restante de sua equipe. Traduz um momento de solidão num esporte coletivo. Põe o peso da responsabilidade -e a pressão- sobre o cobrador.
É dele a tarefa de concluir a ação com sucesso. O goleiro adversário, em teoria, está em desvantagem. E não tem tanta pressão para executar a defesa.
Se pegar a bola, e evitar o gol, o goleiro sai no lucro. O atacante, cabisbaixo, superado. Dependendo da situação do jogo, derrotado de vez.
"Acho pênalti um lance covarde. Tenho a impressão de que sou um pelotão de fuzilamento" é a frase atribuída a Pelé sobre o instante da penalidade, em 1994, ao comemorar 25 anos de seu milésimo gol. Marcado após um pênalti.
Os tiros livres a 11 m do gol já decidiram campeonatos. Coroaram atacantes e goleiros. Puseram jogadores no inferno.
O contorno dramático naqueles segundos em que o cobrador mira a bola, corre e chuta desperta as atenções das arquibancadas. O desfecho -a bola na rede ou defendida- é esperado por todos.
A emoção de um jogo de futebol inclui dribles, jogadas de efeito. Gols, o alvo principal.
Mesmo num lance individual, à base do talento do jogador, o início da jogada vem numa ação coletiva da equipe.
No pênalti, na hora da cobrança, são apenas dois. Frente a frente, eles concentram as expectativas de seus times. É como se um novo jogo começasse ali, só com os dois em cena.
O pênalti rende comentários na literatura. O escritor uruguaio Eduardo Galeano, em "Futebol: Sol e Sombra", analisa o lado do goleiro. Vê o jogador dessa posição como o personagem que sempre é encarado como o vilão da partida.
"O goleiro sempre tem a culpa. Mesmo se não tem, paga. Quando um jogador qualquer comete pênalti, é o goleiro o castigado: o deixam lá na imensidade da boca do gol vazia", escreveu Galeano.
Mesmo assim, o pênalti pode permitir ao goleiro frações de glória que, normalmente, ele não tem num jogo de futebol. Se ele garante a vitória a seu time, ao defender uma penalidade, sai de campo endeusado. Vira o protagonista -tudo a partir do drama dos pênaltis.
Que sempre rendeu assunto no imaginário popular e frases como "pênalti deveria ser cobrado pelo presidente do clube", tal a importância que o lance tem. Afinal, é a chance direta de marcar o gol. Sem nada a impedir o atleta de sua meta.
No instante, para o atacante, é dar uma respirada, correr e esperar. Segundos que, naquele momento, viram uma eternidade até ver a bola no gol.


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