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Pequim 2008 - A graça do esporte
Momento de solidão
O pênalti isola cobrador e goleiro do resto do time e faz graça no futebol
FABIO GRIJÓ
DA REPORTAGEM LOCAL
Onze metros de distância.
Respiração, um fôlego a mais e
o chute que pode ser derradeiro. Para dentro do gol.
O pênalti isola o jogador do
restante de sua equipe. Traduz
um momento de solidão num
esporte coletivo. Põe o peso da
responsabilidade -e a pressão- sobre o cobrador.
É dele a tarefa de concluir a
ação com sucesso. O goleiro adversário, em teoria, está em
desvantagem. E não tem tanta
pressão para executar a defesa.
Se pegar a bola, e evitar o gol,
o goleiro sai no lucro. O atacante, cabisbaixo, superado. Dependendo da situação do jogo,
derrotado de vez.
"Acho pênalti um lance covarde. Tenho a impressão de
que sou um pelotão de fuzilamento" é a frase atribuída a Pelé sobre o instante da penalidade, em 1994, ao comemorar 25
anos de seu milésimo gol. Marcado após um pênalti.
Os tiros livres a 11 m do gol já
decidiram campeonatos. Coroaram atacantes e goleiros.
Puseram jogadores no inferno.
O contorno dramático naqueles segundos em que o cobrador mira a bola, corre e chuta desperta as atenções das arquibancadas. O desfecho -a
bola na rede ou defendida- é
esperado por todos.
A emoção de um jogo de futebol inclui dribles, jogadas de
efeito. Gols, o alvo principal.
Mesmo num lance individual, à base do talento do jogador, o início da jogada vem numa ação coletiva da equipe.
No pênalti, na hora da cobrança, são apenas dois. Frente
a frente, eles concentram as expectativas de seus times. É como se um novo jogo começasse
ali, só com os dois em cena.
O pênalti rende comentários
na literatura. O escritor uruguaio Eduardo Galeano, em
"Futebol: Sol e Sombra", analisa o lado do goleiro. Vê o jogador dessa posição como o personagem que sempre é encarado como o vilão da partida.
"O goleiro sempre tem a culpa. Mesmo se não tem, paga.
Quando um jogador qualquer
comete pênalti, é o goleiro o
castigado: o deixam lá na imensidade da boca do gol vazia", escreveu Galeano.
Mesmo assim, o pênalti pode
permitir ao goleiro frações de
glória que, normalmente, ele
não tem num jogo de futebol.
Se ele garante a vitória a seu time, ao defender uma penalidade, sai de campo endeusado. Vira o protagonista -tudo a partir do drama dos pênaltis.
Que sempre rendeu assunto
no imaginário popular e frases
como "pênalti deveria ser cobrado pelo presidente do clube", tal a importância que o lance tem. Afinal, é a chance direta
de marcar o gol. Sem nada a impedir o atleta de sua meta.
No instante, para o atacante,
é dar uma respirada, correr e
esperar. Segundos que, naquele
momento, viram uma eternidade até ver a bola no gol.
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