São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2000


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FUTEBOL
Finalmente

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Finalmente , a seleção do Luxemburgo perdeu uma partida das eliminatórias.
Não que eu estivesse torcendo para isso acontecer -não sou masoquista e quero ver sempre um bom jogo de futebol. E gosto, instintivamente, do sucesso daqueles que falam a minha língua (a sociologia explica).
Mas, como se diz por aí, "demorou".
Todas as vitórias e empates até aqui tiveram sabor de derrota, pela pobreza do espetáculo. Contra o Paraguai, eu achava mais importante convencer do que vencer -um 0 a 0 superdisputado, com defesas brilhantes do Chilavert, seria mais interessante do que o resto da campanha. Mas erramos o cravo e a ferradura.
E agora, a casa caiu? Matematicamente, ainda não -foram disputados 15 pontos; ainda há 13 jogos. O problema é que a casa nunca esteve de pé. Há quanto tempo o Brasil não joga bem?
Esse time que representa o país só tem dado desgosto, mas muitas bobagens têm sido ditas.
Alguns jornais destacaram que a zaga formada por Roque Júnior e Edmílson era inexperiente. Eles podem ser novos ainda com a camisa amarela, mas em seus clubes já tiveram todo tipo de experiências, nacionais ou internacionais.
Se o jogador é bom mesmo, e na seleção supõe-se que ele seja muito bom, não pode "tremer" de maneira alguma, seja no teste para o clube do bairro ou na estréia no time grande. Assim como o piloto de avião não pode se distrair, o cirurgião não pode hesitar...
São profissionais que têm de estar acostumados aos desafios da carreira escolhida. Claro que podem ter um dia menos inspirado ou momentos ruins -embora recebam salários de semideuses, são humanos. Mas não podem ter medo de um novo desafio, dos gritos da torcida ou dos olhos da televisão.
Luxemburgo sempre foi criticado por jogar com três volantes ou "um monte de cabeças de área".
Zé Roberto não é volante, é meia! Não é um jogador "com características defensivas", como dizem. Eu gosto dele. É corajoso, parte para cima do rival, entra na área, cria jogadas interessantes.
Mas entendo que muitos não gostem, porque nada disso tem acontecido.
Como todos os outros, ele tem errado os passes, perdido os dribles e criado nada. De qualquer jeito, não acho que seja titular da "melhor seleção do mundo"(?).
Os verdadeiros volantes, Flávio Conceição e César Sampaio, não são brucutus sem habilidade, mas já foram bem melhores.
Dizer que a seleção jogou com "cinco no meio-de-campo" também não é verdade -eram cinco jogadores "de" meio-de-campo, com o Djaminha improvisado no ataque, podendo se revezar com o Rivaldo na armação das jogadas.
Isso era a bobagem -se o Rivaldo não tem trabalhado bem como "homem de ligação", por que não deixar o Djalminha "fixo" nesse papel e o Rivaldo mais à frente (ou no banco)?. Essa história do revezamento funcionaria com o time em um estágio superior de rendimento, naquele estado de graça em que tudo dá certo.
É impossível concordar com o Luxemburgo quando ele diz que montou um time sem um "construtor" porque "não existe mais quem dê aquela bola bonita". Essa história de "não existe mais isso e aquilo" é meio furada -nada é como antes!-, mas nesse caso específico é uma injustiça.
Os dois Ricardinhos, do Corinthians e do Cruzeiro, têm o toque de categoria que o cargo exige.
Vampeta é um volante de boas bolas "verticais". Vágner, ex-São Paulo, em merecido exílio -ele tem toda razão em não querer jogar sem contrato, mas podia ter se esforçado por um acordo para jogar as finais da Copa do Brasil-, é outro jogador "de defesa" que apavora os defensores adversários. Não é bem um construtor, mas é muito bom de bola.
O próprio Djalminha é o homem da "bola bonita".
Ainda falando dos convocados, o banco tinha um jogador de talento que acrescenta beleza e inteligência às jogadas: Alex, um reserva de luxo. Não merece a fama de "dorminhoco", que tem mais a ver com seu jeito pacífico fora de campo (ou "sonso", para os detratores). Pode não ser onipresente e brigador, mas tem talento demais para ficar fora.
Luxemburgo deve ser substituído? Não acho que a situação seja tão dramática ou apocalíptica. Ele pode tentar mais um pouco, mas o negócio é simplificar.
Os jogadores precisam acertar passes, finalizações, posicionamento. Precisam driblar, fintar, jogar o que sabem, sem tanta "cautela" e sem mágoas e ressentimentos.
Em um campeonato mais concentrado, uma boa partida seria suficiente para reverter o ciclo, mas um jogo é tão longe do outro...
Quem sabe contra a Argentina teremos um belo jogo, como aquele de Porto Alegre? (Poliana ataca novamente!)
E-mail soninha.folha@uol.com.br


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