São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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entrevista

Pioneira diz que colegas rapam cabeça

DA REPORTAGEM LOCAL

Kim Inokuchi, 16, tem o tênis de mesa no sangue. Seu pai, o maior entusiasta da empreitada na China, foi o primeiro campeão dos Jogos Pan-Americanos que o Brasil fez na modalidade (Caracas-83). Por e-mail, ela conta sua aventura na pátria do esporte e da Olimpíada.
(LF)

 

FOLHA - Como surgiu a idéia de morar na China?
KIM INOKUCHI
- Vir à China sempre foi um dos meus sonhos, poder treinar entre os melhores, jogar com eles e ter as técnicas dos melhores. Em princípio, eu ficaria três meses, mas, como eu me sinto muito bem, resolvi ficar um ano.

FOLHA - Qual foi sua principal dificuldade de adaptação?
KIM
- Muitas, porque estou em um país que é completamente diferente do meu, mas eu acho que a pior dificuldade foi quando eu mudei de cidade e vim morar sozinha. No começo, estava com duas amigas, mas elas voltaram ao Brasil. Depois fui para um lugar onde não sabia a língua e não conseguia me comunicar direito.

FOLHA - Como se comunica?
KIM
- Após sete meses, e com aula todos os dias, converso numa boa. Mas, se falam muito rápido, não entendo nada.

FOLHA - Qual a maior diferença entre uma brasileira e uma chinesa da sua idade?
KIM
- Pelo Brasil ser um país, digamos, mais "aberto", acho que uma menina da minha idade é muito preocupada com vaidade, escola, amigos, namorar. E aqui uma menina que sonha de verdade com o tênis de mesa é mais focada só nisso. Existem meninas aqui que rapam o cabelo, coisa que no Brasil uma menina dessa idade jamais faria. Mas, quando vim, já sabia como eram todas as meninas daqui, e cortei o meu cabelo bem curtinho, acho que surpreendi a todos e a mim mesma.

FOLHA - Sente falta de algum tipo de luxo, incompatível com um país comunista?
KIM
- Eu tinha tudo o que eu queria na minha casa, a hora que eu quisesse. É claro que eu sinto falta, mas eu gosto de ser independente e correr atrás sozinha do que eu preciso.

FOLHA - Notou dedicação profissional aos treinos, mesmo de crianças?
KIM
- A disciplina é muito grande, e isso me deixa muito feliz. As famílias daqui são mais disciplinadas, não são tão abertas como as do Brasil, por serem asiáticas. Treino todos os dias, e o técnico não gosta que fique reclamando na mesa, ou que faça cara feia, e isso eu fazia muito no Brasil. Tive que mudar completamente minha postura. E de uma vez.


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