São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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TOSTÃO

Antigo, moderno e modismo


Não se deve confundir moderno com modernoso ou com modismo. Muito do dito moderno já foi ultrapassado


OS BONS volantes que surgiram nos últimos anos no futebol brasileiro têm sido chamados de modernos, porque sabem marcar, dar um bom passe e ainda atacar. Nenhum é excepcional.
Como questionou Fernando Calazans, por que moderno?
No passado, havia um número muito maior de bons volantes com essas qualidades.
Os bons e atuais volantes não são modernos. São volantes que sabem jogar futebol.
Os que só marcam, muitas vezes com faltas, e que só dão passes curtos e para os lados não são antigos. São medíocres.
Outro jogador chamado de moderno é o que faz mais de uma função em uma mesma partida.
Isso sempre existiu.
Nos anos 50, Telê era ponta e armador. Zagallo fez o mesmo nas Copas de 1958 e 1962. Toninho Cerezo e Falcão eram volantes e meias. Edmilson, na Copa de 2002, e Mauro Silva, na de 1994, foram volantes e zagueiros.
Os treinadores modernos adoram dizer que um time precisa atacar e defender com vários jogadores. Pouco se vê isso na prática.
A seleção de 1970 jogava dessa forma. No segundo gol contra o Uruguai, os três atacantes (Pelé, Jairzinho e Tostão) recuperaram a bola na defesa, trocaram passes no próprio campo, e Jairzinho foi receber a bola na frente.
Os técnicos falam muito que hoje o futebol é coletivo e que os atletas precisam se sacrificar para o time. Todas as grandes equipes da história eram organizadas e disciplinadas taticamente, dentro do estilo da época. Como disse Oscar Schimdt, hoje comentarista de basquete no Sportv, esporte coletivo é dar condições a todos os jogadores jogarem individualmente o que sabem.
Todos os companheiros de Oscar davam a bola para ele arremessar.
A velocidade e a mobilidade dos atuais jogadores, que chegam a correr 14 quilômetros por partida contra sete dos atletas do passado, tornaram-se símbolo do futebol atual. Antigamente, havia também jogadores que corriam todo o campo. Dirceu Lopes foi um deles.
Raciocinar rápido também torna o time mais veloz.
Quando um jogador mais lento e criativo forma dupla com outro mais rápido, dá muito certo. No passado, os jogadores mais lentos e inventivos eram mais valorizados que os mais velozes e medíocres. Hoje, é o contrário.
A dita moderna marcação por pressão, que os técnicos ainda usam pouco por causa do desgaste físico, começou com o Carrossel Holandês na Copa de 1974. Não teve seqüência na época porque os jogadores não tinham o preparo físico de hoje e os técnicos já morriam de medo, como os de hoje, de deixar muitos espaços na defesa para o contra-ataque.
Não se deve confundir moderno com modernoso ou com modismo. Muitas das coisas ditas modernas já foram consideradas ultrapassadas, como a marcação individual em todo o campo. Já a marcação individual, pressionando quem estiver com a bola, mas respeitando o setor, é essencial.
Millôr Fernandes não é antigo nem moderno. É definitivo. Parafraseando uma de suas citações, antigamente a vida e o futebol imitavam a arte. Hoje, imitam os videoclipes e os videoteipes.


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