São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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Foco

Carente, atleta supera saúde frágil e se infiltra em esporte de "playboy"

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Renata Faustino, 18, a número 1 do Brasil e que já tem vaga no Pan, treina badminton no Rio


TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

"Fui à casa dela porque queria meninas no projeto. A mãe dela falou: essa menina não sabe nem arrumar a casa, quanto mais jogar esse negócio [badminton]."
Assim o técnico Sebastião Oliveira, 40, relata a descoberta de Renata Faustino, 18, primeira do ranking nacional de badminton, espécie de jogo de peteca com raquetes jogado principalmente em redutos de classe média alta.
Classificada para o Pan-2007, a jogadora foi encontrada pelo treinador em sua casa, em uma comunidade carente em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro.
A esperança do treinador, também morador de área carente, era levar mais uma menina para o projeto Miratus, em que ele ensina badminton para pessoas que têm poucos recursos financeiros.
Renata não parecia ter o físico ideal para o esporte. Nasceu prematura, com apenas cinco meses de gravidez, o que aumentava seu risco de morte. Segundo a Unicamp, um bebê tem boas condições de sobreviver se nascer após 26 semanas de gestação, ou cerca de seis meses.
Depois disso, a atleta enfrentou 17 paradas cardíacas. Mais tarde, ainda sofreu uma infecção que a deixou parcialmente surda.
Até a chegada de Oliveira, a jogadora nunca tinha ouvido falar do badminton. Não sabia nem empunhar uma raquete em seu primeiro treino. Mas, na estréia no projeto, já sacava do fundo da quadra, conta o treinador.
"Eu via o pessoal jogando aqui perto, mas não sabia o nome nem sabia que eu iria conseguir jogar. Mas, quando eu comecei, o professor falou que eu ia ser uma grande atleta, e eu comecei a acreditar", disse Renata.
É uma das primeiras participantes do projeto Miratus, que existe desde 2000 e revelou alguns dos principais atletas da modalidade. Isso em meio a 80 jovens carentes que são atendidos.
No Pan-Americano juvenil, das 21 medalhas que o Brasil ganhou, dez foram para jovens do projeto.
Alguns dos atletas, como Alexandre Silva, 23, tentam vaga no Pan 2007. Enquanto isso, Oliveira busca apoio para uma quadra, por enquanto já tem ajudas pontuais de empresas envolvidas no Pan.
Para isso, será decisivo o desempenho de Renata. Até agora, ela já ganhou campeonatos estaduais, nacionais e internacionais. Os títulos vieram em competições em países como Canadá, Peru, Equador e Estados Unidos.
"Mas agora o que eu quero mesmo é ganhar o Pan, aqui no Brasil. Só aqui a minha mãe vai poder me ver ganhando", conta ela.


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