São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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PEQUIM 2008

Desleixo

DESCASO DE DIRIGENTES, FALTA DE TREINOS , ASTROS EM MÁ FORMA E DESPREPARO DE ATLETAS ADIAM MAIS UMA VEZ O SONHO DO BRASIL DE GANHAR O OURO NO FUTEBOL

PAULO COBOS
FÁBIO SEIXAS
ENVIADOS ESPECIAIS A PEQUIM

Há 18 anos, na Copa da Itália, Maradona enterrou a primeira era Dunga. Ontem, na China, o maior ídolo argentino foi outra vez emblemático.
Porque enquanto seu genro adiava novamente o sonho do inédito ouro olímpico brasileiro, pondo em xeque a era Dunga como técnico, sua presença na platéia escancarava a forma como Brasil e Argentina encararam a Olimpíada.
Com dois gols de Agüero, companheiro de Giannina, filha de Maradona, a Argentina venceu a seleção brasileira por 3 a 0 na semifinal dos Jogos de Pequim. Dunga e seus comandados agora tentarão o bronze, na sexta-feira, contra a Bélgica. Um dia depois, os argentinos tentam o bicampeonato diante da Nigéria.
Desfecho que espelha o que aconteceu nos meses que antecederam os Jogos e as decisões de dirigentes nos últimos dias, já durante a Olimpíada.
Dunga foi para a Ásia com uma comissão técnica reduzida. Nenhum cartola de peso o acompanhou -Ricardo Teixeira, presidente da CBF, não deu as caras na China. Ao lado de Maradona ontem, no Estádio dos Trabalhadores, estava Júlio Grondona, o presidente da AFA, a federação argentina.
Pelé vai estar em Pequim amanhã. Tarde para apoiar o time de futebol. Mas em tempo de estrear como garoto-propaganda da candidatura do Rio para a Olimpíada de 2016.
Dunga não gostou de levar o time para a Vila Olímpica, mas Teixeira ignorou as queixas do treinador. A Argentina não gostou do abrigo dos atletas depois de conhecê-lo na primeira fase e foi para um hotel antes do jogo de ontem.
Os rivais sul-americanos fizeram amistosos com antecedência para preparar o time olímpico. O Brasil, até 15 dias antes da abertura da Olimpíada, não sabia quem convocar.
Jogadores argentinos com mais de 23 anos, como Mascherano e Riquelme, conseguiram a liberação de seus clubes para atuarem na China. Kaká e Robinho disseram que não.
A Argentina separou o time olímpico do principal, que joga hoje amistoso contra Belarus na preparação para as duas próximas rodadas das eliminatórias, no início de setembro.
Já o Brasil mandou Dunga à Olimpíada, esquecendo temporariamente do time principal, apenas o quinto colocado no qualificatório para a Copa.
Por fim, os grandes astros de cada equipe chegaram em momentos distintos. No auge físico e técnico, Messi foi novamente veloz, driblador, direto e decisivo. Ronaldinho, seu ex-parceiro de Barcelona, perdeu os quilos extras, mas, lento, não foi sombra do jogador duas vezes eleito melhor do mundo.
Impacto do segundo fracasso olímpico, porção da decepção coletiva, ou ambos, o meia, agora do Milan, surgiu para falar com os repórteres com os olhos vermelhos após muito choro nos vestiários e no exame antidoping. Reação muito mais aguda do que a aparência blasé após a derrota na Copa de 2006.
E lançou uma frase que soou cunhada para o futebol assim como para outras modalidades do país nos Jogos da China.
"Nós, brasileiros, não estamos preparados para perder."


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