São Paulo, sábado, 20 de agosto de 2011

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JOSÉ ROBERTO TORERO

A bola é um detalhe


A Série A é como Brasília: tem tanto poder que nem parece com o resto do Brasil


Meu campeonato preferido está chegando num momento decisivo. Não, não é o Espanhol, nem a Liga dos Campeões, nem a Copa do Brasil. É o glorioso Brasileiro. Só que também não é a badalada Série A, nem a esperançosa B, ou a resignada C. É a esquecida Série D.
Meus caros três leitores, a Série D é o verdadeiro Brasileiro. Ou melhor, brasileiro. Ali temos desde agremiações coronelistas a modernos clubes-empresa, desde simpáticos ex-amadores até interesseiros novos ricos. A Série D tem a cara do Brasil. E histórias, muitas histórias.
Quereis algumas? Ei-las: Tal qual o país, nossa quarta divisão possui gigantes que mergulharam no abismo do fracasso e lutam para voltar ao topo, como o Santa Cruz, que já ganhou 24 Pernambucanos, o Sampaio Correa, com seus 30 Maranhenses, e o Nacional, que tem 40 taças amazonenses em sua prateleira.
Tal qual o país, o Trem Desportivo Clube, de Macapá, tem uma mulher como presidente: Socorro Marinho, com seu apropriado nome de salva-vidas. Com ela, o Trem foi campeão estadual masculino e vice feminino em 2010.
Sim, a Série D é cheia de histórias. Temos, por exemplo, o River Plate, de Carmópolis, bicampeão sergipano, que pode fazer um clássico de covers contra o Penarol, de Itacoatiara, primeiro time do interior a derrubar os poderosos de Manaus; temos o Cerâmica Atlético Clube (este você não conhecia, fale a verdade), de Gravataí, que tem somente quatro anos de profissionalismo, apesar de existir como amador há mais de 60; temos o Independente, de Tucuruí (PA), que finalmente quebrou o domínio do trio Remo-Tuna-Paysandu, que não perdia o Estadual desde 1910; temos o trocadilhento Operário de Ponta Grossa, que está se reerguendo; temos o simpático Alecrim, que teve o ex-presidente Café Filho como um de seus primeiros goleiros.
E há mais, há muito mais, como o Audax, de São João de Meriti, que serve de prateleira aos jogadores do grupo Sendas; como o gaúcho Juventude, que frequentava a Série A há apenas quatro anos; como o Treze, glorioso vencedor de 16 Estaduais; como o Cruzeiro, não o de Belo Horizonte, mas o de Porto Alegre, nascido antes do xará mineiro; como o jovem Cuiabá, com sua estrutura de fazer inveja a muito time grande; como o Plácido de Castro, time acreano que homenageia um herói brasileiro pouco conhecido. E há outros, muitos outros.
O futebol da Série D talvez não seja uma maravilha. Mas, no final, a coisa mais importante no futebol são suas histórias. A bola é só um detalhe.


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