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Lusa, favorita pela primeira vez no clássico
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
Esta é uma das raras vezes na
história desse clássico em que
a Lusa entra em campo como
franca favorita diante do São
Paulo. Não só porque o time de
Candinho vem jogando o fino,
como, sobretudo, porque o tricolor está caindo pelas tabelas,
literalmente, tanto do Brasileiro quanto da Mercosul.
É bem verdade que a volta de
Carlos Miguel, contra o Colo-Colo, no meio da semana,
deu certa consistência ao lado
esquerdo do setor de armação
da equipe, embora a presença
de Marcelinho, no seu lugar,
tenha conferido maior velocidade e contundência por ali,
além de reincorporar o lateral
Serginho ao jogo, o que não é
pouco.
Por mim, jogariam os dois.
Agora, não me perguntem o
que fazer com o miolo de zaga,
onde Rogério, Márcio Santos e
Bordon, quanto mais se revezam, mais abrem uma clareira
na marca do pênalti, onde os
adversários montam acampamento e fazem a festa.
Dia sim, dia não, alguém me
cobrava se havia visto o filme
de Ugo Georgetti, "Boleiros".
Envergonhado, confessava minha falha, fruto, entre outras
coisas, de meu auto-exílio nas
matas de Ibiúna.
Outro dia, recebi a fita de
"Boleiros", com gentil recadinho do diretor, que aprendi a
admirar anos atrás, quando,
por acaso, assisti na TV seu
magnifico "A Festa", num desempenho antológico do meu
velho amigo, tricolor fanático,
Adriano Stuart.
Ao falar de Adriano, lembro-me de Fellini, que, certa
ocasião, referindo-se a Marcello Mastroianni, qualificava-o
como o ator perfeito, pois o
ator perfeito era que nem cavalo de terreiro de candomblé,
que incorpora o personagem
como se fosse uma entidade.
Adriano é um cavalo de candomblé, nascido não num terreiro, mas num picadeiro de
circo. Potrinho ainda, lá pelos
seis, sete anos, ao lado de outro
velho amigo que teve o juízo de
virar filósofo, depois de adulto
-David José-, Adriano dá
um show de interpretação em
"O Sobrado", de Walter George Durst.
Escolado na pioneira TV Tupi, sob a direção de Cassiano
Gabus Mendes, pai do Cássio e
do Tato, formou-se num time
campeoníssimo, com Lima
Duarte, Luís Gustavo, Dionísio
Azevedo, todos ostentando a
gloriosa camisa tricolor.
E é como um ex-craque do
São Paulo que Adriano abre
um papo de botequim, onde
rolam as histórias de "Boleiros", na mais pura linhagem
das comédias italianas de 50 a
70, em vários episódios amarrados por um fio condutor.
Aquelas, que, no fim da gargalhada, resta um travo de amaretto.
Os personagens são tão reais
como os diálogos, do paulistês
da maioria ao pernambucano
do craque que veio do Náutico
para o Palmeiras da Academia. E aquele pivete misterioso, que surge e desaparece da
escolinha de futebol como surgem e desaparecem os milhares de pivetes nos cruzamentos
das nossas ruas? Sabe tudo,
sentencia Adriano, com o
olhar no futuro, resgatando o
futebol do passado, congelado
na memória.
Resumindo: é um filme que
vai rolar nas mesas de botequim, daqui para sempre, como a bola dos sonhos de cada
um de nós.
Alberto Helena escreve aos domingos, segundas e quartas-feiras
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