São Paulo, domingo, 20 de setembro de 1998

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Nova geração investe em preparação diferenciada

FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Florianópolis

Psicólogo, nutricionista, médico ortomolecular, preparador físico, massagista, professor de ioga.
Na tentativa de melhorar seu desempenho na água e facilitar a vida fora dela, a nova geração de surfistas do país passa a recorrer ao trabalho desses profissionais.
O objetivo, mesmo que velado, é evitar casos como os de Fábio Silva e Neco Padaratz, que deixaram a elite do surfe profissional alegando saudades de casa e problemas de relacionamento.
Um exemplo foi o que aconteceu na última sexta, durante o Maresia Surf Floripa, em Florianópolis (SC). Como alunos comportados, os outrora rebeldes surfistas lotaram um auditório para assistir ao debate "A Preparação do Campeão Mundial Brasileiro de Surfe".
"Cada um tem um tipo de problema, mas acho que fica mais difícil sentir saudades de casa com esse tipo de ajuda", diz o catarinense Marco Polo Fonseca, 17.
Em 97, foi campeão panamericano júnior. Em outubro, disputa o Mundial amador, em Portugal, e, em novembro, o Mundial pró-júnior, no Havaí (EUA).
Fonseca, de Araranguá, mora há três anos em Florianópolis, com um irmão e um amigo. Como outros 30 jovens surfistas, ele recorre aos conselhos de Marco Schultz, que se autodefine como "preparador e mentor" de atletas.
"Trabalho não só o condicionamento físico, mas também a integração corpo, mente e espírito", diz. "Queremos transformar o surfista em um atleta de surfe."
Segundo Schultz, a preparação visa justamente evitar que outros surfistas brasileiros venham a abandonar o circuito no momento em que estiverem sob pressão.
"Não julgo o Fábio, não julgo o Neco. O problema é que o atleta brasileiro tem um limitador muito forte, que é seu lado emocional."
Schultz é formado em educação física e passou oito anos nos EUA, especializando-se em ioga e na "preparação mental" de esportistas. Trabalha com uma equipe de duas massagistas, um nutricionista, um instrutor de natação e um médico especializado em esporte.
Teco Padaratz, campeão do WQS em 92, diz crer que o trabalho de Schultz pode render benefícios que sua geração não teve.
"Ele trabalha muito o lado psicológico. Acorda seu corpo, não só para o surfe, como também para a vida fora da água", afirma.
"Não necessariamente vai fazer você ganhar a bateria, mas vai deixar você mais tranquilo."
O carioca Yuri Sodré, 20, é o estereótipo do surfista profissional. Carrega consigo um "staff" muito parecido aos de pilotos que tentam a sorte no automobilismo.
"Tenho um preparador físico, um médico ortomolecular, um psicólogo esportivo e pratico natação na Academia da Praia, no Rio", diz. "Isso tudo é fundamental, ajuda a focalizar os objetivos."
Um problema no joelho esquerdo o obrigou, há seis meses, a iniciar uma rotina diária de exercícios de hidroginástica. "Se não fortalecer os músculos da coxa, vou voltar a sentir dor."
Diferentemente de parte de seus colegas, Yuri completou o segundo grau e chegou a cursar faculdade no Rio. "Parei por causa das viagens, mas quero terminar."


O repórter Fábio Seixas viaja a convite da organização do Maresia Surf Floripa



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