São Paulo, terça-feira, 20 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Suspeita de fraude na arbitragem atinge Série B

Santa Cruz diz que membro da CBF, já afastado, pedia dinheiro por ajuda de juízes

Presidente da federação pernambucana pedirá, se comprovada a fraude, anulação do torneio, que já definiu acesso e descenso

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma denúncia da diretoria do Santa Cruz pôs sob suspeita a arbitragem da Série B e pode até atingir a Comissão de Arbitragem da CBF. Foi encaminhado dossiê à confederação em que há indícios de que um membro do grupo, que está afastado, aceitou receber dinheiro para tentar manipular resultados de partidas.
Baseado neste documento, a Federação Pernambucana de Futebol pretende pedir a anulação da Série B se a fraude for comprovada. Nessa competição, que no sábado realiza sua última rodada, o Santa Cruz já foi rebaixado à Série C.
No dossiê, a federação enviou à CBF e-mails trocados com o presidente do Santa Cruz, Edson Nogueira, por um suposto intermediário da confederação, que se identificava como sendo Paulo Jorge Alves.
Esse é o nome do membro da Comissão de Arbitragem que está afastado no momento. Segundo Sérgio Corrêa, que dirige a comissão, Alves deixou o grupo no dia 22 de outubro. A Folha apurou que sua saída foi motivada por atitudes que contrariam a cúpula da CBF, sem relação com as acusações.
Em mensagens a partir de 26 de outubro, Alves oferece "uma mãozinha" para que o Santa Cruz não seja derrotado no torneio: "(...) na reta final é muito importante a soma de pontos, não importa se é 1 ou 3 pontos, o importante é pontuar".
No dia 29, véspera do duelo com o Ceará, Alves pede R$ 6.000 por jogo. "Essa quantia será paga após todos os jogos com o objetivo alcançado com empate ou vitória e seja onde for. (...) Faça a parte de vocês que, com certeza, faremos a nossa. Seu time [sic] onde quer que jogue, estará lá uma pessoa nossa. Isso quando eu mesmo não puder ir. Portanto, passe as instruções aos seus jogadores, que agora eles serão acompanhados de perto. Muita cautela para não levantar suspeitas", afirma um dos e-mails.
O presidente do Santa Cruz admite que fez um depósito de R$ 2.300, a pedido do Ministério Público de Pernambuco, antes do jogo com o Ceará -o dinheiro seria usado para comprar passagens aéreas ao grupo que negociaria com os árbitros.
A verba foi depositada numa conta do Bradesco indicada por Alves, em nome de Francisco Gaspar Neto, "o homem forte da comissão" -supostamente de arbitragem-, segundo o intermediário. O time, entretanto, foi derrotado por 3 a 0.
No dia 3 de novembro, os pernambucanos empataram com o Avaí em dois gols. Três dias depois, em um novo e-mail, o suposto representante da CBF faz referência aos dois jogos e disse que "(...) quando o dinheiro entrou [para a partida contra o Ceará], já era tarde, não tive como segurar". E afirmou que usou a verba para obter um ponto contra o Avaí.
Porém, desde o início das negociações, o Santa Cruz não ganhou nenhuma partida. Foram dois empates e três derrotas.
O presidente do clube diz que fez o depósito com o intuito de confirmar a extorsão. Negou oportunismo na denúncia. Disse que informou a federação há 20 dias. "Foi questão de timing", disse o presidente da federação, Carlos Alberto de Oliveira. A Folha ligou para Jorge Alves e Gaspar Neto, mas ninguém atendeu.


Texto Anterior: Pela base: Técnico admite tolerância maior
Próximo Texto: Outro caso: Remo afirma ter sido aliciado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.