São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

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TOSTÃO

Foi o Inter que venceu


A atuação não foi brilhante, mas o time tocou bem a bola e não cometeu um único erro grave diante do Barcelona


QUANDO PARTE da imprensa diz que o Barcelona jogou de "salto alto" e que menosprezou o Inter, subestima as qualidades técnicas do time brasileiro. Sempre que uma equipe inferior ganha da superior falam a mesma coisa. Virou um lugar-comum.
Grande número de pessoas repete esse clichê, e a mesma mídia, para aumentar a audiência, enfatiza essa análise. A formadora de opinião é a imprensa ou o público? O Barcelona jogou com seriedade, tentou fazer o melhor e não conseguiu. Não foi o Barcelona que perdeu. Foi o Inter que ganhou.
O Inter ganhou porque em um único jogo nem sempre vence o melhor, principalmente se a diferença não é tão grande, como nessa final. Por isso, desisti há muito tempo de dar palpites sobre resultados. Erro bastante. As surpresas são também tão valorizadas e lembradas que até parece ser mais comum o pior ganhar do melhor.
O Inter ganhou porque jogou com inteligência e não se preocupou em apenas se defender. No gol do título, havia três atacantes contra dois defensores. Se fosse outro treinador, desses que só pensam em marcar, teria escalado desde o início mais um volante ou um terceiro zagueiro no lugar de um atacante, como muitos pediram.
O Inter ganhou porque o Barcelona não brilha em todos os jogos e, de vez em quando, perde no Campeonato Espanhol para equipes inferiores ao Inter. Na média de suas atuações no segundo semestre, o time catalão não tem jogado tão bem como nos últimos anos. Eto'o e Messi fazem muita falta, e a equipe está mais lenta.
O Inter ganhou porque jogou com técnica, alma e tranqüilidade. Não foi uma atuação brilhante, mas o time tocou bem a bola e não cometeu um único erro grave nem perdeu muitas bolas na sua intermediária, como se temia.
O Inter ganhou porque não fez marcação individual no Ronaldinho em todo o campo, como muitos queriam. Essa é uma tática ultrapassada e ineficiente, utilizada pelos clubes europeus nos anos 60. O Inter marcou por zona, de perto e sem fazer muitas faltas.
O Inter ganhou porque se preparou muito bem durante meses. Na verdade, a preparação e o sonho do título começaram em 1983, após o título conquistado pelo Grêmio. Os dois rivais podem agora sonhar com o desempate.

Melhor do ano
Ronaldinho é o melhor do mundo, mas era esperado que não ganhasse o título de melhor do ano, já que a Copa do Mundo tem um peso muito maior do que deveria ter. O futebol é também cada dia mais coletivo. O melhor é sempre o que jogou no time campeão ou que chegou próximo.
Além disso, a Copa é cada vez mais um espetáculo, um show de entretenimento, um grande negócio, do que uma demonstração de talento, já que é um torneio curto, as seleções não têm tempo para se preparar, os jogadores atuam cada vez mais e estão cansados no final de temporada na Europa.
Cannavaro foi o melhor zagueiro da Copa da Alemanha, mas nem é o melhor zagueiro do mundo. Gosto mais do inglês Terry. Se fosse votar no melhor do ano por causa da Copa, votaria no Zidane, o único grande craque do Mundial, apesar da cabeçada que deu em Materazzi.
Zidane teve uma atitude irracional, um apagão na consciência, como já aconteceu com outros grandes atletas durante a emoção de um jogo. Ele apenas exagerou. Mesmo com a total falta de apoio do Brasil ao futebol feminino, Marta, que joga atualmente na Suécia, foi eleita, merecidamente, a melhor jogadora do ano.

tostao.folha@uol.com.br


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