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Sonho de fazer parte da Copa-10 passa pela China
Vizinhos sul-africanos contam com estádios chineses para hospedarem seleções
Arenas de Moçambique, Zimbábue e Botsuana fazem parte de pacote chinês de quase US$ 2 bi para a África e o Caribe
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Sedenta por matérias-primas
e poder, a China alimenta
sonhos de grandeza no esporte
onde reina a miséria.
A um custo estimado de quase
US$ 2 bilhões (cerca de R$
3,5 bilhões), o gigante asiático
fez, constrói ou planeja estádios
em mais de 30 países na
América Central e na África.
Quase todos são "presentes".
Alguns são empréstimos com
taxas camaradas. No maior investimento,
em Angola, são
US$ 600 milhões para arenas em forma de adiantamento para o fornecimento de petróleo.
A política chinesa, conhecida
como "diplomacia dos estádios",
virou a esperança de países
pobres e esquecidos pelas
grandes potências entrarem no
mapa-múndi do futebol.
Angola apelou aos asiáticos
para sediar, no próximo mês, a
fase decisiva da Copa da África
pela primeira vez. São quatro
estádios que, juntos, têm capacidade para
abrigar 120 mil pessoas-
somente o de Luanda ostenta
50 mil lugares. Todos eles contam com ousados projetos e
também muita tecnologia.
Nos casos dos países mais
próximos à África do Sul, os estádios
chineses são a esperança
dessas nações para entrarem
na rota da primeira Copa do
Mundo realizada no mais pobre dos
continentes.
Moçambique, Zimbábue e
Botsuana correm contra o tempo
para que o investimento de
mais de US$ 100 milhões dos
chineses nesses três países seja
suficiente para atrair seleções
que vão disputar o Mundial,
que será realizado de 11 e junho
a 11 de julho de 2010.
"As obras estão atrasadas,
mas esperamos que o estádio
fique pronto", declarou à Folha
o secretário-geral da Federação
Moçambicana de Futebol,
Filipe Luca Johane, que sonha
em levar Brasil ou Portugal,
com quem divide o mesmo
idioma, para treinar e realizar
amistosos na arena de US$ 60
milhões e 40 mil lugares bancada
pelo dinheiro chinês.
A arena, que só por um novo
"milagre chinês" ficará pronta
antes do Mundial, terá um padrão
que não combina com
uma nação que ocupa, de acordo
com a ONU, apenas a 172ª
colocação entre 182 países listados
no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
O estádio de Moçambique
terá modernos telões, câmeras
de segurança e grama sintética.
Enquanto o mundo dá as
costas para Zimbábue, em represália
ao ditador Robert Mugabe
e suas eleições fraudulentas,
a China banca a reforma do
estádio Nacional de Harare, no
qual cabem 60 mil pessoas.
Apesar de as finanças do país
estarem em ruína (a inflação
foi de 231 milhões por cento
em julho do ano passado), as
autoridades de Zimbábue sonham alto.
O Departamento de
Turismo disse ter pedido ao
presidente Lula para que o Brasil
fique por lá. A federação local
convidou a Inglaterra.
Em Botsuana, o governo afirma
estar "otimista" sobre a
chance de receber treinos de
uma seleção do Mundial.
Pelo último balanço da obra,
divulgado no mês passado, 58%
dela estava pronta. Segundo as
autoridades locais, a arena ficará
pronta em abril, dois meses
antes da Copa do Mundo.
Para os governantes do continente
africano, a China olha e
age para a região como os países
ricos nunca fizeram.
"Se um país do G8 [o grupo
das nações mais ricas do mundo]
quisesse construir um estádio
para nós, ainda estaríamos
fazendo reuniões", declarou à
imprensa africana Sahr
Johnny, então embaixador de
Serra Leoa em Pequim.
Com agências internacionais
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