São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Correr sem afobação

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Ricardo Gomes utilizou no Pré-Olímpico muitos jogadores e vários esquemas táticos. A seleção atuou com dois ou três volantes, dois ou três atacantes, um meia de ligação, um armador de cada lado sem o meia de ligação (no último jogo), com ou sem centroavante, com ou sem ponta esquerda e outras variações.
Hoje, o time deve ter uma nova formação tática. O treinador disse que time-base é uma cultura brasileira e que na Europa as equipes são bastante modificadas de um jogo para outro. Ricardo Gomes deveria se espelhar nos treinadores brasileiros, que são melhores do que os europeus. Felizmente, em qualquer time, a qualidade dos jogadores é muito mais importante do que o técnico e o esquema tático.
Gostaria de ver a equipe atuar como na Copa Ouro -o que deu certo. O time jogaria com dois volantes (o da direita avançaria mais), Robinho mais recuado pela esquerda (e não Daniel Carvalho) e Diego na ligação com os dois atacantes (Daniel Carvalho e um centroavante). Robinho e Daniel Carvalho se revezariam nas jogadas pela esquerda.
Robinho, que necessita de mais espaço para usar a sua habilidade, velocidade e mobilidade, que é capaz de, numa fração de segundos, passar de uma intermediaria à outra, que é mais um desarticulador de defesas do que um finalizador, que deveria iniciar as jogadas mais de trás, atuou em todas as partidas no ataque, pelo meio e perto do centroavante.
Daniel Carvalho, que é um jogador agressivo, que cruza e finaliza muito bem, que não tem velocidade para recuar até o seu campo e chegar rapidamente ao ataque e que deveria atuar mais adiantado pela meia e/ou ponta esquerda, jogou contra a Colômbia recuado, perto dos volantes.
A principal função do técnico é dar boas condições para que os atletas joguem tudo o que sabem.
Brasil e Argentina são muito melhores do que as oito outras equipes. Porém, como é freqüente um time inferior ganhar em casa do superior, não foi tão surpreendente o empate do Chile contra o Brasil e nem será uma grande zebra se o time chileno se classificar e sobrar Argentina ou Brasil.
Diferentemente do Brasil, a Argentina atuou em todas as partidas com o mesmo esquema tático, que é o da seleção principal. O time joga com três zagueiros, dois alas, dois armadores pelo meio (um mais recuado) e três atacantes, sendo dois pelos lados e um centroavante (Tévez). Os "pontas" atacam e defendem.
A Argentina é bastante ofensiva, já que marca mais na frente e tem quase sempre seis ou sete jogadores no ataque. Porém o time deixa muitos espaços na defesa. Os zagueiros correm muito atrás dos atacantes nas laterais. Isso é bastante arriscado.
A Argentina e as outras seleções, menos o Brasil, possuem um estilo mais amador, juvenil e passional, próprio dos jovens. Os jogadores correm muito e são afobados. O Brasil tem um número maior de excelentes e experientes atletas e um estilo mais profissional, maduro e racional. Dá, em alguns momentos, a impressão de que não tem pressa para vencer o jogo, como a seleção principal.
Mas dizer que os jogadores brasileiros não se importam com o resultado porque já estão ricos e famosos, que não têm ambição e garra como os do passado, é uma inverdade e um desrespeito. Quando jogava, me sentia ofendido com esse tipo de crítica.

Mudou pouco
Começaram os Estaduais. Cruzeiro e Santos, as duas principais equipes brasileiras foram as que melhor se reforçaram. O Cruzeiro contratou mais um craque (Rivaldo). O Santos trouxe um bom lateral-direito (Paulo César) e um artilheiro (Robgol) para as posições mais carentes.
O São Paulo contratou vários bons jogadores, mas o único excelente reforço é o lateral Cicinho. Os outros estão no mesmo nível dos que atuaram em 2003. O Corinthians trouxe vários atletas medianos e um veteraníssimo (Rincón). Como o time era muito fraco, deve ficar menos ruim.
No Rio, o time dos amigos do Romário foi o único que se reforçou e se igualou a outros grandes. Não espero boas atuações de Edmundo e Romário, mas Edmundo e Ramon são muito melhores do que os titulares anteriores.
Algumas equipes mantiveram quase todos jogadores, como Palmeiras e Botafogo. A maioria perdeu muitos atletas e contratou outros do mesmo nível. Mudou pouco. Apenas aumentou a esperança ou a ilusão dos torcedores.

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