São Paulo, segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

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Plano de Rio-2016 é lanterna no uso de verba privada

Candidatura brasileira à Olimpíada diz que efeito Copa poderá atrapalhar a captação de recursos com marketing

Favoritas aos Jogos prevêem obter pelo menos o dobro de investimentos particulares do que o Brasil, que planeja arrecadar US$ 750 milhões

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Mais centrada no investimento público do que os seus concorrentes, a Comissão de Candidatura Rio-2016 declarou o menor orçamento privado entre as favoritas aos Jogos, segundo informações fornecidas ao COI (Comitê Olímpico Internacional). Chicago, Madri e Tóquio prevêem arrecadações pelo menos duas vezes superiores a dos brasileiros.
Em seu dossiê, os dirigentes do país dizem pela primeira vez que o efeito Copa-2014 atrapalharia o projeto olímpico. O documento informa que a estimativa para marketing é ""conservadora" e alega que não apostou em crescimento das receitas do setor porque reconhece que "a Copa de 2014 também estará ativa"" no mercado.
Pelo questionário brasileiro, entregue neste mês, em Lausanne, na Suíça, o futuro comitê organizador dos Jogos pretende levantar US$ 750 milhões com a iniciativa privada.
No estudo, a maior parte do montante seria conseguida com a obtenção de patrocínios e venda de ingressos. Pelo trabalho do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), os brasileiros pretendem obter US$ 370 milhões em patrocínios e US$ 290 milhões em bilhetes.
Chicago, por exemplo, estima arrecadar US$ 2,5 bilhões para seu comitê organizador com particulares. Com marketing, os norte-americanos prevêem ganhar o triplo do que o Rio: US$ 1,76 bilhão -cerca de US$ 500 milhões, no entanto, deverão ser destinados ao Comitê Olímpico Internacional.
A diferença pode ser notada também pelo modelo de financiamento das candidaturas. Chicago declara que reservou US$ 49 milhões até a escolha da cidade-sede, em 2009. Toda verba será do setor privado.
Já o Rio-2016 quer gastar US$ 42 milhões de dinheiro público nesta fase, dividido em partes iguais por União, governo do Estado e prefeitura.
Em seus dossiês, Madri e Tóquio planejam conseguir com o setor privado cerca de US$ 1,6 bilhão cada uma.
A cidade japonesa, que também tem "estimativa conservadora", diz que a intenção é obter 26 patrocinadores e 30 fornecedores locais. O comitê organizador será inteiramente bancado por esses recursos.
As duas cidades também prevêem verba pública. A prefeitura de Tóquio separou US$ 3,7 bilhões para construir sedes de competições. Na Espanha, governo federal e prefeitura bancarão a maior parte do orçamento do comitê organizador.
Mesmo assim, a dependência dos recursos públicos dessas candidaturas é menor em relação ao Rio. Até agora, nenhuma das cidades divulgou quanto uma eventual Olimpíada custará aos seus cofres.
Há duas semanas, o COB informou que os ""custos preliminares" do evento são US$ 3,13 bilhões ou R$ 5,49 bilhões, o que inclui instalações esportivas e transportes. Obras milionárias como a despoluição da Baía de Guanabara e a montagem do esquema de segurança para o evento ficaram de fora.
Baseada em projeções de especialistas internacionais, o governo federal estima que uma Olimpíada de nível médio consumiria US$ 10 bilhões.
Os Jogos de Pequim custarão US$ 31 bilhões (R$ 54 bilhões). Sede da Olimpíada seguinte, Londres gastará cerca de US$ 20 bilhões (R$ 35 bilhões).
Se ganhasse os Jogos, o Rio receberia recursos do COI por conta de direitos de TV. Mas, ainda assim, para atingir o valor total dos Jogos seria necessário que o setor público entrasse com a maior parte do dinheiro, como aconteceu Pan-2007.
Com custos preliminares, a Olimpíada já está 48% mais cara que o evento continental. E, no Pan, o orçamento inicial foi multiplicado por nove.
A outras cidades-candidatas a 2016 são Doha, Praga e Baku.


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