São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

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MOTOR

Quem tem põe

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A F-1 alcançará algumas de suas últimas fronteiras nesta temporada. A Ásia, a de verdade, não o planeta em separado que é o Japão, abrigará sua primeira prova da categoria, na China. E o Bahrein, no Oriente Médio, um lugar cheio de problemas, mas de petróleo e dinheiro fácil, igualmente fará do calendário de 2004 um dos mais notáveis da história.
Com essas aquisições, faltarão talvez apenas Rússia e Cuba, dois destinos que há tempos a F-1 namora, mas que ainda levarão muito tempo para receber Schumacher e cia. -Moscou porque já está em curso o complicado quem-leva-quanto-de-quem para viabilizar a corrida, Havana porque o processo depende de Fidel, melhor dizendo, do o-que-vai-acontecer-depois-de-Fidel.
Não há muito em comum nesses lugares, a não ser o fato de servirem como locações. É como no cinema: um promotor, no lugar do produtor, um financiamento público, no lugar da isenção fiscal, mão-de-obra e infra-estrutura em conta. Por isso "Matrix" foi filmado na Austrália e "O Senhor dos Anéis", na Nova Zelândia.
É um bom negócio, mexe com muito dinheiro e, por isso mesmo, dá dinheiro. Além disso, no caso da F-1 ainda permite a entrada de um tipo de recurso cada vez mais raro, banido do cinema e da publicidade há anos, mas que insiste em ser abundante no esporte, o da indústria de cigarro.
Se o leitor classifica como exóticos ou distantes os novos destinos da F-1, pode reuni-los também pela tolerância à publicidade tabagista. Na verdade, basta dizer que seu país não tem restrições ou que simplesmente está disposto a abrir exceções em suas legislações, que seu GP, onde quer que seja, larga na frente. O que vale é a transmissão das marcas na TV.
A coisa já está assim tão assumida que Max Mosley previu que o cigarro não acabaria em 2006, como acordado com a Organização Mundial de Saúde. É mais do que cara de pau, é constatação mesmo. A F-1, em dois anos, não terá se livrado das marcas e boa parte de seus circuitos ainda terá condições legais para mostrá-las.
Pior, como constatou um colunista da "Autosport", a coisa toda virou um círculo vicioso. A chamada nova economia é por demais higiênica, não se mistura com o dinheiro do cigarro. Assim, um time que muito depende do patrocinador tabagista, vira dependente total, já que outras empresas acabam por evitá-lo.
Para completar, sem ter como anunciar em outras formas de mídia, a indústria de cigarro chega à F-1 com as torneiras abertas. Tem de sobra, enquanto o resto reclama que está em falta.
E sobra tanto que não é só na periferia que promotores estão de calculadora na mão para conseguir um GP. Até a Suíça, que proibiu o esporte a motor em 1955 após um acidente em Le Mans -acidente não, uma tragédia, com 87 mortos e 108 feridos-, estuda mudar sua legislação. Ou seja, a coisa deve continuar.
E, perguntará o leitor, isso tudo por acaso muda a F-1? Respondo com outra pergunta: algumas centenas de milhões de dólares por ano fazem diferença? Jordan e Minardi podem responder.

Outra Interlagos
O tal suíço que quer levar a F-1 de volta ao país após meio século estuda promover a corrida em uma estância turística famosa chamada Interlaken, que quer dizer isso mesmo, Interlagos. Qualquer semelhança com o circuito paulistano, garanto, está restrita ao nome.

Outra Ferrari
Solitário em Mugello, Schumacher teve que ir a público dizer que seus testes não eram secretos e que as rivais inglesas poderiam, se quisessem, testar no circuito. A verdade, porém, é que de Valência a Imola, da BAR à Renault, todos andam bem, enquanto a nova Ferrari começa a gerar desconfiança nos jornais italianos. Dizem que o F2004 sofre com transmissão e motor. Paciência tem limite, e a deles é pequena. A verdade começará a ser conhecida dentro de 13 dias

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