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MOTOR
Quem tem põe
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A F-1 alcançará algumas de
suas últimas fronteiras nesta
temporada. A Ásia, a de verdade,
não o planeta em separado que é
o Japão, abrigará sua primeira
prova da categoria, na China. E o
Bahrein, no Oriente Médio, um
lugar cheio de problemas, mas de
petróleo e dinheiro fácil, igualmente fará do calendário de 2004
um dos mais notáveis da história.
Com essas aquisições, faltarão
talvez apenas Rússia e Cuba, dois
destinos que há tempos a F-1 namora, mas que ainda levarão
muito tempo para receber Schumacher e cia. -Moscou porque
já está em curso o complicado
quem-leva-quanto-de-quem para viabilizar a corrida, Havana
porque o processo depende de Fidel, melhor dizendo, do o-que-vai-acontecer-depois-de-Fidel.
Não há muito em comum nesses lugares, a não ser o fato de servirem como locações. É como no
cinema: um promotor, no lugar
do produtor, um financiamento
público, no lugar da isenção fiscal, mão-de-obra e infra-estrutura em conta. Por isso "Matrix" foi
filmado na Austrália e "O Senhor
dos Anéis", na Nova Zelândia.
É um bom negócio, mexe com
muito dinheiro e, por isso mesmo,
dá dinheiro. Além disso, no caso
da F-1 ainda permite a entrada
de um tipo de recurso cada vez
mais raro, banido do cinema e da
publicidade há anos, mas que insiste em ser abundante no esporte, o da indústria de cigarro.
Se o leitor classifica como exóticos ou distantes os novos destinos
da F-1, pode reuni-los também
pela tolerância à publicidade tabagista. Na verdade, basta dizer
que seu país não tem restrições ou
que simplesmente está disposto a
abrir exceções em suas legislações,
que seu GP, onde quer que seja,
larga na frente. O que vale é a
transmissão das marcas na TV.
A coisa já está assim tão assumida que Max Mosley previu que
o cigarro não acabaria em 2006,
como acordado com a Organização Mundial de Saúde. É mais do
que cara de pau, é constatação
mesmo. A F-1, em dois anos, não
terá se livrado das marcas e boa
parte de seus circuitos ainda terá
condições legais para mostrá-las.
Pior, como constatou um colunista da "Autosport", a coisa toda
virou um círculo vicioso. A chamada nova economia é por demais higiênica, não se mistura
com o dinheiro do cigarro. Assim,
um time que muito depende do
patrocinador tabagista, vira dependente total, já que outras empresas acabam por evitá-lo.
Para completar, sem ter como
anunciar em outras formas de
mídia, a indústria de cigarro chega à F-1 com as torneiras abertas.
Tem de sobra, enquanto o resto
reclama que está em falta.
E sobra tanto que não é só na
periferia que promotores estão de
calculadora na mão para conseguir um GP. Até a Suíça, que proibiu o esporte a motor em 1955
após um acidente em Le Mans
-acidente não, uma tragédia,
com 87 mortos e 108 feridos-, estuda mudar sua legislação. Ou seja, a coisa deve continuar.
E, perguntará o leitor, isso tudo
por acaso muda a F-1? Respondo
com outra pergunta: algumas
centenas de milhões de dólares
por ano fazem diferença? Jordan
e Minardi podem responder.
Outra Interlagos
O tal suíço que quer levar a F-1 de volta ao país após meio século estuda promover a corrida em uma estância turística famosa chamada
Interlaken, que quer dizer isso mesmo, Interlagos. Qualquer semelhança com o circuito paulistano, garanto, está restrita ao nome.
Outra Ferrari
Solitário em Mugello, Schumacher teve que ir a público dizer que
seus testes não eram secretos e que as rivais inglesas poderiam, se
quisessem, testar no circuito. A verdade, porém, é que de Valência a
Imola, da BAR à Renault, todos andam bem, enquanto a nova Ferrari
começa a gerar desconfiança nos jornais italianos. Dizem que o
F2004 sofre com transmissão e motor. Paciência tem limite, e a deles
é pequena. A verdade começará a ser conhecida dentro de 13 dias
E-mail mariante@uol.com.br
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