São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

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São Paulo escala lateral que já teve outro nome e idade

Após ter sido chamado de Lucas por 7 anos, usar documentos falsos, admitir farsa em 2007 e cumprir suspensão de 6 meses, Rafael estréia contra o Paulista

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando chegou ao São Paulo, em 2005, ele era conhecido como Lucas. Três anos depois, treinou ontem no surpreendente time titular escalado pelo técnico Muricy Ramalho.
Se entrar hoje, na partida contra o Paulista, no Morumbi, às 20h30, o prenome grafado nas costas de sua camisa será o de batismo, Rafael Lopes Ferreira, e a idade, 21 anos.
A troca ocorreu quando o jogador, que nasceu em Parauapebas, no Pará, teve a chance de jogar em São Paulo quando atuava na escolinha Camisa 10, de Marabá. A viagem, porém, era para garotos com idade igual ou inferior a 12 anos. Naquela época, ele tinha 14.
"Eu já estava indo embora quando correram atrás de mim e me mandaram voltar no dia seguinte para viajar", conta Rafael. "No ônibus, tinha a documentação nova, e me disseram que era para topar ou ficar. Topei", afirma o lateral, que, depois do torneio, mudou-se para o Paraná, onde treinou por quatro anos no Atlético-PR.
"Era uma oportunidade que eu não podia perder para chegar ao meu sonho de jogar futebol", diz ele, infrator e vítima em prol do sonho de se tornar profissional do futebol. "No Norte e no Nordeste, a gente perde muito tempo, as coisas não são organizadas. Ou fazia desse jeito ou não estaria aqui."
Em maio de 2005, o São Paulo descobriu o garoto e o convidou para treinar em sua categoria de base. Rafael continuou sendo Lucas e enfrentou seu primeiro problema judicial: simplesmente abandonou o clube paranaense. O caso se resolveu com um acordo, após três anos de pendenga.
O segredo de Lucas começou a ser revelado quando surgiram notícias de que havia uma "indústria de gatos" no Pará. Segundo Marcos Tadeu, coordenador das categorias de base do São Paulo, isso levou o clube a procurar entre suas fileiras jogadores originários de lá.
"Como não compactuamos com isso, fomos esclarecer com ele. A conversa durou quase seis horas, mas foi tranqüila. Aí ele se sentiu à vontade para confessar", afirma o diretor.
Descoberta a farsa, o São Paulo o retirou da Copa São Paulo de Juniores de 2007, e o caso parou no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-SP). Lucas voltou a ser chamado de Rafael. Como punição, teve que cumprir seis meses de suspensão dos gramados, encerrados na última semana.
Tadeu o define como um atleta de ótimo futebol, além de atribuir-lhe uma conduta exemplar. "Nós o ajudamos porque ele tinha essas qualidades, já estava conosco e, pelo que percebemos, não partiu dele a intenção", afirma o diretor, acrescentando que, se a fraude fosse descoberta na chegada, Rafael nem teria ficado.
Não há como negar que Rafael é um jovem guiado pelos seus ímpetos. "Em campo, eu parto para cima. Não vim para ser mais um, vim para ser titular do São Paulo e crescer com o clube", declara o lateral.


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