São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010

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tão longe

Esvaziada, Copa-2010 vira festa local

Mundial vende menos ingressos que o de 2006, na Alemanha, e não consegue atrair número previsto de estrangeiros

Fifa diz que há 2,1 milhões de bilhetes negociados, mas parte deles está nas mãos de intermediários que não conseguem repassá-los


RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Sediada na África pela primeira vez, a Copa do Mundo de 2010 terá bem menos torcedores de fora do país-sede em relação ao Mundial-2006. É consequência do fracasso na venda de bilhetes para estrangeiros. Entre os motivos, estão o temor de violência e os altos preços de hotéis e passagens aéreas.
Ao final da terceira fase de venda, no fim de janeiro, a Fifa anunciou ter vendido 2 milhões de ingressos (2/3 do total). O site do órgão recebeu 3,6 milhões de pedidos -como a procura é centrada em alguns jogos, a Fifa sorteia as demandas que serão atendidas.
Há quatro anos, na mesma etapa, a Alemanha havia negociado 2,6 milhões de bilhetes. E as requisições de entradas pelo site atingiam 15 milhões.
A disparidade é explicada pela capacidade de atração de estrangeiros, alta na Europa e baixa na África. Até o fim da terceira fase, sul-africanos haviam comprado 65% do 1,232 milhão de ingressos vendidos pela internet. E a participação de moradores locais aumenta a cada etapa de comercialização.
Tanto que a Fifa decidiu pegar de volta ingressos mandados para o exterior para vendê-los na África do Sul. A comercialização será por preços menores, na categoria exclusiva de habitantes do país, para evitar espaços vazios nos estádios. Além de diminuir os preços, a entidade também aumentará o número de bilhetes da categoria mais barata, que só pode ser comprada pelos sul-africanos.
Já algumas federações europeias estão com encalhe de ingressos. A Holanda, por exemplo, vendeu 2.500 entradas de seus jogos. Com direito a 12% dos bilhetes por partida, a federação têm até 9.000 sobrando para o jogo com a Dinamarca.
Por isso, pediu mais tempo à Fifa para comercializar ingressos -espera vender 5.000. Bem menos do que na Alemanha.
"Então [em 2006], não tínhamos ingressos suficientes. Tínhamos torcedores nas cidades, vários sem entradas. Isso não ocorrerá na África do Sul. É bem mais longe e mais caro", disse a assessoria da federação.
Relatos similares surgem em jornais na Alemanha. E Itália e França, finalistas em 2006, não estão entre os nove países com mais compradores de bilhetes.
Não é só questão de distância. O centro financeiro do Brasil é mais próximo da África do Sul do que da Alemanha. Mesmo assim, a venda de pacotes está mais lenta. As agências brasileiras credenciadas pela Fifa já fecharam 4.000 pacotes, a maioria vendida a empresas. Falta negociar até 1.200 produtos, de acordo com a Stella Barros, uma dessas agências.
"Não dá para comparar. Neste estágio, já estava quase tudo vendido [para a Copa da Alemanha]", disse Ricardo Molter, gerente de vendas da empresa.
O número de pacotes de hospitalidade, que incluem serviços de luxo, também está baixo, conforme admitiu a Fifa.
Tanto que a atração de 450 mil turistas para a Copa, prevista pela África do Sul, já é descartada. O Comitê Organizador Local ainda tenta se manter otimista. "As notícias de crimes não afetaram a venda de ingressos", disse Rich Mkhondo, assessor do comitê sul-africano.
Sua avaliação é a de que, para cada mil ingressos, entre 140 e 200 turistas irão à África.
Com o início da quarta fase de venda, no último dia 9, o número de bilhetes comercializados subiu para 2,1 milhões.
Mas nem todos os compradores são torcedores reais. Cerca de 60% dos bilhetes foram negociados via internet a pessoas físicas, incluindo cambistas. Outros 800 mil bilhetes foram repassados a agências de turismo, a federações, ao programa de hospitalidade e a parceiros comerciais da Fifa.
Esses parceiros podem ter revendido os bilhetes, por pacotes ou em separado, ou não. As federações podem devolvê-los à Fifa. Outros, como os programas de hospitalidade, têm que pagar pelos ingressos. Unidos aos cambistas, formam um mercado paralelo de bilhetes, desesperado por compradores.


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