São Paulo, terça-feira, 21 de março de 2000


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São-paulino ganha extra com moedas de Rincón

FÁBIO VICTOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
da Reportagem Local

O dinheiro que a torcida do Corinthians jogou das arquibancadas para o volante Rincón, anteontem, no Morumbi, acabou indo parar na categoria infantil de um outro rival, o São Paulo.
Leonardo Massaroto Soares, 14, goleiro do time infantil são-paulino, recolheu anteontem R$ 15,00 -um quarto do que recebe no São Paulo- em moedas atiradas pela torcida e recusadas pelo jogador colombiano, que ganha cerca de US$ 140 mil por mês.
"Jogar dinheiro fora para mim não existe, é até pecado. Não tenho vergonha do que fiz", disse Soares ontem.
Imbuído desse pensamento, ele esperou o clássico em que o Corinthians goleou o Santos (5 a 1) acabar, por volta das 19h, muniu-se de copos plásticos grandes de água mineral vazios e, pacientemente, saiu recolhendo as moedas que cintilavam na pista de atletismo do estádio.
Quatro horas depois, após ter depositado moeda por moeda -a maioria de um, cinco e dez centavos- em dois copos, ele encerrou a tarefa.
"Quando li no jornal que iam jogar as moedas no campo, na hora tive a idéia de catá-las. Agora, vou guardar o dinheiro na poupança", disse Leonardo.
Ele mora no alojamento do estádio e recebe do São Paulo uma ajuda de custo mensal de R$ 50,00, mais estudo e alimentação.
Os torcedores do Corinthians jogaram as moedas anteontem em protesto à transferência de Rincón do clube da capital para o Santos, em janeiro último.
O volante rompeu contrato com o Corinthians, para ir ganhar US$ 300 mil/ano a mais no Santos. Por isso, foi chamado de mercenário pelos torcedores no Morumbi.
"Não acho certo o que fizeram com ele (Rincón), que carregou o time nas costas no ano passado. Apesar disso, acabei lucrando com a torcida", disse Leonardo.
A família do jovem goleiro vive em Valparaíso (585 km de São Paulo), pequena cidade da região de Araçatuba. O pai dele trabalha em uma fazenda, a mãe é secretária de uma instituição.
Leonardo cursa o primeiro ano do ensino médio (antigo primeiro colegial) e têm como ídolos no futebol os goleiros Rogério (São Paulo), Marcos (Palmeiras) e Dida (Corinthians).
Como ele veio parar no Morumbi? "Jogava em um time da minha cidade, e o expressinho do São Paulo foi fazer um amistoso lá. Viram-me jogando e resolveram me dar uma chance", conta.
Sobre o dinheiro arrecadado, Leonardo afirma ainda não saber qual finalidade dar a ele. "Por enquanto, vou guardar. Depois, penso melhor como gastar tudo."
Em maio, ele completará 15 anos. Até lá, diz que já que terá decidido o que fazer com a "bolada" recusada pelo volante do Santos, mas já antevê a possibilidade de ampliar o caixa.
"Se fizerem isso (jogar moedas) de novo no Morumbi, vou pegar outra vez."


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