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Lateral do Vasco competiu no ano passado sem a documentação exigida
Clube dos 13 encobriu irregularidade na JH
Entidade confirma que tinha conhecimento do problema de Jorginho Paulista e que não tomou providências; clube não chegaria à decisão se tivesse perdido os pontos
FERNANDO MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Clube dos 13 abafou um escândalo que teria tirado do Vasco,
de Eurico Miranda, o título da Copa João Havelange, sua quarta
conquista nacional.
Com a ciência da entidade que
reúne os 20 maiores times do país,
o time de São Januário escalou o
lateral-esquerdo Jorginho Paulista de forma irregular em pelo menos quatro partidas da Copa JH,
torneio organizado pelo Clube
dos 13 em substituição ao Brasileiro do ano passado.
Se o CBDF (Código Brasileiro
Disciplinar de Futebol) tivesse sido cumprido, o Vasco teria que ter perdido 20 pontos, estaria fora
da segunda fase do Nacional-2000
e não teria conquistado o título
-teria terminado a primeira fase
em 24º lugar, à frente de Corinthians e Santa Cruz, e daria sua vaga no mata-mata ao Guarani,
que terminou na 13ª colocação.
Questionado pela Folha, o presidente da entidade que reúne os
20 maiores times do país, Fábio
Koff, admitiu que soube que Jorginho Paulista estava irregular em parte da Copa JH.
"O que soube, por informações
extra-oficiais, é que ele jogou algumas partidas sem estar devidamente regularizado. Mas não sei
por quanto tempo isso durou e, se
no próprio curso da competição,
o Vasco não regularizou sua situação", disse o dirigente gaúcho, em entrevista por telefone.
O principal problema com a documentação de Jorginho Paulista
teria sido o fato de que a Udinese,
seu ex-time, não encaminhou ao
Vasco a liberação do jogador,
uma vez que ele foi expulso da Itália por ter atuado com passaporte
europeu falso.
Mesmo sem estar com a documentação pronta, o jogador
atuou contra Gama, Goiás, Flamengo e Coritiba. Na final da JH,
o lateral-esquerdo, que atuou 14
vezes no torneio, acabou marcando um gol contra o São Caetano.
Foram duas as justificativas dadas por Fábio Koff para que o Clube dos 13 não tenha agido para
punir o clube de Eurico. A primeira foi a de que a entidade, ao perder o Comitê de Penas -órgão
criado inicialmente para substituir o Tribunal de Justiça Desportiva nas questões judiciais da JH e
que acabou extinto-, não tinha
competência para julgar o caso.
"Não tomamos nenhuma atitude porque não éramos órgão judicante, isso não era competência
nossa. Deixamos de sê-lo com a
exclusão do Comitê de Penas. Toda a postulação deveria ter sido
encaminhada ao TJD. Não éramos nem instância inferior, só
podíamos aplicar a suspensão automática em caso de cartões amarelos ou vermelhos."
A segunda justificativa foi a de
que não houve nenhum pedido
formal de qualquer clube interessado na punição ao Vasco.
"O que recebemos foi um ofício
de pessoa física do advogado Paulo Goyaz (vice-presidente do Gama) pedindo a punição ao Vasco
também por ofício. Não houve
recurso formal de um clube a nós.
Houve solicitação de informações, uma consulta. Respondi que
o acesso a esta informação deveria ser obtido na CBF. Encaminhamos o caso ao nosso Departamento Jurídico, mas entendemos
que o prazo para reclamar, de
cinco dias úteis após o jogo, já estava esgotado."
A interpretação de que o "crime" cometido pelos cariocas já
estava prescrito não é compartilhada por especialistas em direito
esportivo ouvidos pela Folha.
Para Marcílio Krieger, o Clube
dos 13 não tinha competência para decidir o caso sozinho. "Só o
TJD poderia julgar se o prazo para
reclamação havia expirado ou
não. No meu entender, até que o
resultado do jogo seja homologado, o clube que se sentir lesado
pode reclamar", declarou o advogado catarinense.
Além do Clube dos 13, outras
três equipes -Gama, Goiás e Coritiba- receberam a informação,
dada de forma extra-oficial por
funcionários da CBF, de que o
vascaíno não estava com sua situação regularizada no Departamento de Registro da entidade
que comanda o futebol brasileiro.
Temendo ser prejudicados por
Eurico Miranda, então vice-presidente do Vasco, as três equipes recuaram e preferiram, como o Clube dos 13, abafar o caso Jorginho
(leia texto nesta página).
Questionado se o Clube dos 13,
como organizador do torneio,
não tinha a obrigação de requerer
à CBF a situação oficial de Jorginho Paulista, Koff disse que o problema não era da entidade.
"Se é justo ou não um clube ser
campeão com um jogador irregular, acho que não cabe a mim responder. Essa pergunta tem que
ser feita ao TJD ou à CBF, que tinha em mãos todos os documentos do jogador", disse o dirigente,
que defendeu a desburocratização no futebol, com a criação de
comitês que possam agir com rapidez em questões jurídicas de determinados torneios.
Além das justificativas dadas
por Koff, a Folha apurou que outros três motivos foram fundamentais para o "arquivamento"
do caso Jorginho Paulista:
1) A entidade não queria tumultuar o torneio, que certamente seria paralisado na Justiça.
2) Havia o temor da reação de
Eurico Miranda, então vice-presidente do Clube dos 13 e do Vasco.
3) Irritado com a perda do Comitê de Penas, criado no início do
torneio para julgar os casos de indisciplina na Copa JH e depois extinto por pressão do Tribunal de
Justiça Desportiva-, o Clube dos
13 resolveu "lavar as mãos" e deixar que o caso estourasse -se estourasse- no TJD.
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