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FUTEBOL
Teoria e prática
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Alguns jornalistas esportivos ironizam os colegas
que pedem a escalação e a convocação de jogadores para a seleção
e não dizem os que teriam de sair.
É fácil pôr alguém. Difícil é tirar.
Também não é função da imprensa fazer listas de convocados,
escalar time e nem propor soluções táticas. Isso é com o técnico.
Temos de informar e analisar os
fatos e o trabalho de jogadores,
treinadores e dirigentes.
Mas hoje, numa atitude insana
e imprudente, vou escalar meus 11
e 22 preferidos. Fiquei com muitas dúvidas e percebi como deve
ser difícil ser treinador da seleção.
Como nenhuma lista de convocados é totalmente idêntica à outra,
todos vão discordar de algum jogador de minha preferência.
Sem pensar, especificamente, no
jogo contra o Paraguai, o meu time seria: Dida, Cafu, Lúcio, Edmilson e Roberto Carlos; Gilberto
Silva e Renato; Kaká, Ronaldinho
Gaúcho, Robinho e Ronaldo. Desses, somente Edmilson e Robinho
não vão enfrentar o Paraguai.
Nos seus lugares deverão jogar
Roque Júnior e Zé Roberto.
Os reservas seriam: Marcos,
Mancini, Alex (do Santos), Edu
Dracena e Léo (ou Leandro);
Emerson e Kleberson; Juninho
Pernambucano, Alex (do Cruzeiro), Zé Roberto e Luis Fabiano.
Alex (do Santos), Edu Dracena,
Emerson e Léo (ou Leandro) não
foram chamados pelo Parreira. Se
Felipe jogar muito bem no Brasileiro, terá também o seu lugar.
Agora, as explicações. Não pretendo convencer a ninguém. A seleção não jogaria como a atual,
com três volantes e três no ataque,
nem no tradicional 4-4-2 da Europa, com quatro defensores, dois
volantes, um armador fixo de cada lado e dois atacantes.
O time atuaria como o Santos e
o Real Madrid, com quatro defensores, dois volantes, três meias
(Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Robinho) e mais o Ronaldo. No Real,
os três meias são Figo, pela direita, Raúl, pelo meio, e Zidane, pela
esquerda. No Santos, são Elano
Diego e Robinho. Os três meias teriam funções ofensivas e defensivas, mas não seriam fixos. Zidane
e Robinho não atuam somente
pela esquerda.
Quando escalo o Robinho no time titular, e não o Alex, não comparo as suas qualidades. Alex é o
melhor jogador que atua no Brasil, mas a sua posição é bem diferente. Penso que o Alex não se
adaptaria à outra função. Ele terá de disputar a posição com Ronaldinho Gaúcho ou Kaká.
Mancini joga na Roma de ala
ou de meia-direita. São funções
parecidas. Na seleção, teria de se
adaptar à lateral, o que será pouco provável. Ele estava na posição
errada quando jogava de lateral.
Ele não é um defensor que ataca.
É um meia-direita que faz gols.
Cafu e Belletti atuaram muitas
vezes de ala ou de meia-direita
(posição atual do Belletti na Espanha). Porém as suas posições
corretas são nas laterais. Os dois
são defensores e avançam, encostados à linha lateral.
Acho que o Mancini deveria ser
convocado no lugar do Belletti,
não porque ele vai se adaptar à
lateral, e sim porque ele pode ser
uma opção diferente da do Cafu
em determinados jogos e, principalmente, porque o Belletti tem
poucos recursos técnicos.
Existe quase um consenso de
que Júnior, Juan e, principalmente, Roque Júnior não deveriam ser
chamados. Alex e Edu Dracena já
são experientes, estão no mesmo
nível dos convocados e podem
evoluir bastante.
Desconfio de que eu seja o único
a defender a convocação do
Emerson. Ele se destaca há anos
na Europa e nunca teve uma má
fase prolongada. Emerson não
brilhou na seleção, mas não há
opções melhores para a reserva do
Gilberto Silva. Não me agrada o
Edmilson nessa posição. Além
disso, Gilberto Silva estabilizou-se
num nível inferior ao da Copa-02.
É claro que alguns conceitos
mudam com o tempo. Menos os
do Parreira. Qualquer teoria é
boa até ser desmentida na prática. Aí inventa-se outra teoria.
Muitos excelentes teóricos não serão bons práticos. Porém é impossível ser um excelente prático sem
uma boa teoria.
Nova estação
Apesar da violência, da injustiça, da insegurança e de tantas noticias diárias ruins, a vida é fascinante, como as quaresmeiras que
florescem próximas da varanda
do meu quarto, a chegada de
uma nova estação (outono), a renovação dos sonhos e a graça, o
largo sorriso, a técnica e a arte da
Daiane dos Santos, a ginasta que
voa, encanta, vence e que também perde, pois não é única nem
perfeita. A perfeição é desumana.
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tostao.folha@uol.com.br
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