São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

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FUTEBOL

Teoria e prática

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Alguns jornalistas esportivos ironizam os colegas que pedem a escalação e a convocação de jogadores para a seleção e não dizem os que teriam de sair. É fácil pôr alguém. Difícil é tirar. Também não é função da imprensa fazer listas de convocados, escalar time e nem propor soluções táticas. Isso é com o técnico. Temos de informar e analisar os fatos e o trabalho de jogadores, treinadores e dirigentes.
Mas hoje, numa atitude insana e imprudente, vou escalar meus 11 e 22 preferidos. Fiquei com muitas dúvidas e percebi como deve ser difícil ser treinador da seleção. Como nenhuma lista de convocados é totalmente idêntica à outra, todos vão discordar de algum jogador de minha preferência.
Sem pensar, especificamente, no jogo contra o Paraguai, o meu time seria: Dida, Cafu, Lúcio, Edmilson e Roberto Carlos; Gilberto Silva e Renato; Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Robinho e Ronaldo. Desses, somente Edmilson e Robinho não vão enfrentar o Paraguai. Nos seus lugares deverão jogar Roque Júnior e Zé Roberto.
Os reservas seriam: Marcos, Mancini, Alex (do Santos), Edu Dracena e Léo (ou Leandro); Emerson e Kleberson; Juninho Pernambucano, Alex (do Cruzeiro), Zé Roberto e Luis Fabiano. Alex (do Santos), Edu Dracena, Emerson e Léo (ou Leandro) não foram chamados pelo Parreira. Se Felipe jogar muito bem no Brasileiro, terá também o seu lugar.
Agora, as explicações. Não pretendo convencer a ninguém. A seleção não jogaria como a atual, com três volantes e três no ataque, nem no tradicional 4-4-2 da Europa, com quatro defensores, dois volantes, um armador fixo de cada lado e dois atacantes.
O time atuaria como o Santos e o Real Madrid, com quatro defensores, dois volantes, três meias (Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Robinho) e mais o Ronaldo. No Real, os três meias são Figo, pela direita, Raúl, pelo meio, e Zidane, pela esquerda. No Santos, são Elano Diego e Robinho. Os três meias teriam funções ofensivas e defensivas, mas não seriam fixos. Zidane e Robinho não atuam somente pela esquerda.
Quando escalo o Robinho no time titular, e não o Alex, não comparo as suas qualidades. Alex é o melhor jogador que atua no Brasil, mas a sua posição é bem diferente. Penso que o Alex não se adaptaria à outra função. Ele terá de disputar a posição com Ronaldinho Gaúcho ou Kaká.
Mancini joga na Roma de ala ou de meia-direita. São funções parecidas. Na seleção, teria de se adaptar à lateral, o que será pouco provável. Ele estava na posição errada quando jogava de lateral. Ele não é um defensor que ataca. É um meia-direita que faz gols.
Cafu e Belletti atuaram muitas vezes de ala ou de meia-direita (posição atual do Belletti na Espanha). Porém as suas posições corretas são nas laterais. Os dois são defensores e avançam, encostados à linha lateral.
Acho que o Mancini deveria ser convocado no lugar do Belletti, não porque ele vai se adaptar à lateral, e sim porque ele pode ser uma opção diferente da do Cafu em determinados jogos e, principalmente, porque o Belletti tem poucos recursos técnicos.
Existe quase um consenso de que Júnior, Juan e, principalmente, Roque Júnior não deveriam ser chamados. Alex e Edu Dracena já são experientes, estão no mesmo nível dos convocados e podem evoluir bastante.
Desconfio de que eu seja o único a defender a convocação do Emerson. Ele se destaca há anos na Europa e nunca teve uma má fase prolongada. Emerson não brilhou na seleção, mas não há opções melhores para a reserva do Gilberto Silva. Não me agrada o Edmilson nessa posição. Além disso, Gilberto Silva estabilizou-se num nível inferior ao da Copa-02.
É claro que alguns conceitos mudam com o tempo. Menos os do Parreira. Qualquer teoria é boa até ser desmentida na prática. Aí inventa-se outra teoria. Muitos excelentes teóricos não serão bons práticos. Porém é impossível ser um excelente prático sem uma boa teoria.

Nova estação
Apesar da violência, da injustiça, da insegurança e de tantas noticias diárias ruins, a vida é fascinante, como as quaresmeiras que florescem próximas da varanda do meu quarto, a chegada de uma nova estação (outono), a renovação dos sonhos e a graça, o largo sorriso, a técnica e a arte da Daiane dos Santos, a ginasta que voa, encanta, vence e que também perde, pois não é única nem perfeita. A perfeição é desumana.

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