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Celeiro de surfe no Ceará pode dar adeus às ondas
Construção de estaleiro em Fortaleza ameaça acabar com praia do Titanzinho
Futura instalação pertence à Transpetro, subsidiária da Petrobras, que é uma das maiores patrocinadoras do esporte das ondas no país
RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA
Em Fortaleza, a praia do Titanzinho, celeiro de importantes nomes do surfe nacional,
corre o risco de acabar. Literalmente. O projeto para a instalação de um estaleiro da Transpetro (subsidiária da Petrobras) está adiantado, e, se for
adiante, a praia deixará de existir para banhistas e surfistas.
A construção exige que as
águas sejam "acalmadas", o que
inviabilizaria a prática do surfe.
A instalação do estaleiro
ameaça de extinção, também,
as escolinhas de surfe que atendem a mais de cem crianças carentes da comunidade.
Segundo o vice-presidente da
Federação Cearense de Surfe,
Amélio Júnior, a praia do Titanzinho possui as melhores
ondas do Estado devido a dois
fatores: a profundidade do mar,
de cerca de dez metros, e a existência de um espigão, que atua
como quebra-mar.
O diretor-executivo da Associação Brasileira de Surfe Profissional (Abrasp), Marcelo Andrade, lamenta o provável fim
da praia onde se formaram Fábio Silva (que já integrou a elite
do surfe mundial, o então
WCT), Tita Tavares (tetracampeã brasileira) e Pablo Paulino
(bicampeão mundial júnior).
O curioso desse episódio é
que o estaleiro pertence à
Transpetro, ligada à Petrobras,
que declara em seu site ser
"uma das grandes parceiras do
surfe brasileiro" pelo fato de o
esporte e a empresa priorizarem "a consciência ecológica e
a preservação ambiental."
A empresa patrocina o Circuito Petrobras de surfe feminino, o Petrobras Longboard
Classic e a Seletiva Petrobras
de surfe masculino, que atraem
atletas de todo o país.
O projeto do estaleiro causa
divergências até mesmo entre
governo do Estado e prefeitura.
A prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), é contrária à
construção do estaleiro e diz
que o fim da Titanzinho prejudicará a região. Isso porque ela
planeja desenvolver o turismo
local para melhorar as condições de vida de seus moradores.
A região é uma das mais carentes da capital cearense.
Do outro lado da polêmica
está o governo do Ceará, que informou que a praia do Titanzinho, por suas características
naturais, é o único local possível para a instalação do estaleiro, que tem valor estimado de
cerca de R$ 220 milhões, sendo
que 27% é do Estado.
A Petrobras, por sua vez, disse, por meio da assessoria de
imprensa, que ainda é cedo para falar sobre a escolha do local
para a instalação do estaleiro.
Para atender à demanda dos
surfistas, no entanto, existe um
projeto do governo de fazer um
novo espigão e propiciar as
mesmas condições para a prática do esporte em um outro
ponto, a 400 metros de lá.
É uma esperança. Segundo o
professor do Instituto de Oceanografia da USP (Universidade
de São Paulo), Eduardo Siegle,
é possível fazer obras para garantir a prática de surfe numa
determinada área, como, por
exemplo, a instalação de recifes
artificiais -como prevê o projeto do governo do Estado.
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